A MENINA E O PAPÃO V
"Não tenho medo de você, que mal se mexe!"
"Eu só pareço pedra, mas não sou...
Durante a noite é que eu me movimento:
pois vou atrás de ti e, num momento,
derrubo qualquer porta que se feche!..."
"De dia, até que tenho pouca fome
e aí me contentava com o teu bolo...
Mas de noite, depois que a Lua sai,
eu como a ti, como tua mãe e teu pai
e até a tua casa na minha goela some!..."
"Mas os meus pais moram bem longe daqui,"
falou Meiling, desafiadoramente.
"Moram na Aldeia do Poço Furado:
sei muito bem onde é, acostumado
com qualquer coisa que exista por aqui..."
Meiling saiu correndo para casa,
com o bolo balançando nas suas costas.
"Não adianta fugir de mim agora!
Sei muito bem onde é que você mora,
lá na cidade de Lagoa Rasa!..."
"Vou te pegar esta noite, sua atrevida!
Engulo a casa até, contigo dentro!"
A menina nem ouvia, o coração
batia muito alto, de emoção,
quase sem fôlego, na veloz corrida...
Mas enquanto corria, ela pensava:
"Será verdade tudo o que ele disse?
Se for assim, como é que vou escapar?
Para onde eu for, o bicho vai pegar!..."
E a voz do monstro, lá de longe, se escutava...
A MENINA E O PAPÃO VI
Ela parou um pouquinho, a descansar,
sem se atrever a sentar em outra pedra!
E então um homem veio pela estrada:
trazia nas costas uma vara atravessada,
com dois cestinhos lentamente a balançar...
Usava o homem sandálias de madeira
e um chapéu de aba larga na cabeça,,,
Tinha uma trança longa, olhos puxados,
o rosto e os braços meio amarelados,
descendo, sem ter pressa, uma ladeira...
Reconheceu o seu amigo, Tchang!
Meiling correu em direção a ele.
"Mas o que faz aqui, minha querida?"
disse Tchang, numa voz bem surpreendida.
"Ai, meu amigo, estou quase sem sangue!"
"Numa pedra do caminho, eu me sentei
e era o papão feroz, Tereng Ganu!
E ele disse que pretende me comer!...
A minha casa, ele disse conhecer!
Fiquei louca de medo e me escapei!..."
"Ai, Tchang, posso ir dormir hoje contigo?"
Mas o amigo respondeu, meio assustado:
"Tenho mulher e seis filhos, queridinha...
Minha casa é bem pequena, pequeninha,
não há lugar para te dar abrigo!..."
"Mas eu trabalho com lascas de bambu...
Pega uma dúzia, toma estas aqui...
Amarra firme contra o teu portão,
quando tentar abrir, esse papão
se corta todo, sei que ele anda meio nu..."
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