CONTÁGIO
I – 14 JAN 2023
(Dakota Johnson e Melanie Griffith)
Pela
clarabóia se evolam meus sonetos,
por
duas chapas de vidro melífluos a cruzar,
à
semelhança de quaisquer balões de ar,
que
seriam logo bicados por insetos.
De
suas entranhas a lançar seus amuletos,
que
aos quatro ventos se possam dissipar,
pobres
poemas a buscar onde pousar,
o
seu destino procurando mais dileto.
As
nuvens tornam em cordões de seda,
ganchos
de assalto com que prendam corações,
que
na maioria nem ao menos se percebem;
os
olhos buscam em peregrinação leda,
em
suas lágrimas aquecendo as ilusões
e
nem as pálpebras a detê-los já se atrevem.
CONTÁGIO
II
Tomam
de assalto o olhar desprevenido
e
se intrometem pelos dutos lacrimais,
beijam
pupilas nos gestos mais sensuais,
mas
cada verso é um gladiador bem aguerrido,
sem
pretender cada mente ter vencido,
para
a razão sabem-se fracos demais,
não
são reféns de quaiquer modo racionais,
têm
seu destino diverso já escolhido.
Assim
desvendam os fios dos capilares,
para
por estes penetrarem até as veias
e
a complexidade de cada coração
e
em tais muralhas vão buscar seus pares,
tercetos
galgam e atravessam as ameias,
insolentes
a demandar cada emoção.
CONTÁGIO
III
Mas
não é luta realmente que se trava,
não
se pretendem materiais os invasores
e
nessas veias vão só cantar amores
ou
qualquer súplica de sua tristeza brava,
porém
aos poucos se aquecem como lava
e
vão abrindo caminho aos estertores,
cada
grito triunfal em estentores,
lembranças
a invocar de quem se amava.
Quem
os recebe dessa forma inesperada,
a
quem buscam impor seus sentimentos
e
ali contraem constantes casamentos,
percebe
à tona a memória mais amada,
que
perdida parecia em esquecimentos,
mas
que do fundo de seu peito é retirada.
MADREPÉROLAS
I – 15 JAN 2023
Não
sei se te conheço ou me conheces,
porém
algures nosso olhar se conheceu
e
algum calor entre nós já floresceu,
resultando
em tristeza ou meigas preces;
creio
que nunca a meu lado sequer desces,
na
onirosfera é que a vista se prendeu
e
nesse mundo transparente o que ocorreu
ao
despertares, quase tudo esqueces.
Mas
foi o sonho certo dia inconteste,
concebido
por dois em flébil sexo
e
com certa realidade nos transcende,
que
no fundo de tua mente então ateste
o
mais profundo e imperturbável nexo
que
ao sonhar novamente te surpreende.
MADREPÉROLAS
II
Por
isso sentes, certas vezes, sensação
de
que já viste essa desconhecida
ou
esse desconhecido em outra vida,
foi
contemplado com olhos de emoção,
mesmo
envolto percebido em confusão,
quando
o olhar em outro olhar achou guarida,
que
tal imagem fosse assim reconhecida
sem
prova alguma para tal convicção.
Certamente
já perpassou por teu olhar
esse
vulto transitório e de passagem
ou
de outra vez uma voz foste escutar,
incorpórea
que fosse mas lembrada,
qual
o lago verdadeiro da miragem,
sem
que tua sede pudesse ser saciada.
MADREPÉROLAS
III
Talvez
te digam que foi na televisão
ou
em tela contemplada num cinema
(por
raramente hoje visites essa cena!)
que
inicialmente encontraste essa visão
ou
que essa voz que te comoveu o coração
foi
recebida tal qual dura subpena,
por
um disco fonográfico que acena
o
mortal resíduo de uma antiga gravação.
De
qualquer forma, fará parte do inconsciente,
como
tudo que a humanidade já pensou,
em
sua infinita multidão de mortos...
Mas
quem te diz que não a ouviste realmente
ou
viste antes esse rosto que passou,
quando
em sonho frequentaste estranhos portos?
PLURICIDADE
I – 16 JAN 2023
Existe
hoje tal variação de transexualismo,
que
algumas mulheres até acham necessário
ostentar
seus órgãos sexuais como um santuário
para
que a vida surgir possa de seu puro abismo,
já
que o problema fatal do homossexualismo
é
justamente que não traz em seu sacrário
qualquer
chance de servir como viário
para
qualquer nascimento sem egoísmo.
Bem
certo embora, que se possa sublimar
e
ao invés de filhos, criar obras de arte
ou
grandes momentos de sua interpretação,
pois
certamente já não podem esperar
essa
troca de gametas que reparte
em
novas vidas sua total renovação.
PLURICIDADE
II
Porém
é certo que hoje envidam meios vários,
sempre
é possível apelar para a adoção
de
algum serzinho a quem só deram rejeição:
homossexuais
podem também ser solidários;
se
os próprios gens sofrerão fados nefários,
não
haverá motivos para escolhas de ocasião
entre
seus próprios filhos que ali estão
e
esses adotados para seus beneficiários.
Do
mesmo modo, hoje é possível a clonagem
e
se criar a própria imagem e semelhança,
numa
fugaz sensação de divindade
ou
algum óvulo fecundar-se de passagem,
até
o ponto em que um laboratório alcança,
em
material sensação de humanidade.
PLURICIDADE
III
Um
transexual pode igual ser doador
e
sua genética devolver assim à raça,
antes
que seu próprio corpo se desfaça
e
se desmanche sem maior calor;
clínicas
há de maior ou menor valor,
disponíveis
em vários pontos de uma praça,
que
os separe da solidão ou da desgraça
e
da velhice lhe poupe um dissador.
Mas
há quantos séculos morrem os soldados,
por
mais que sejam bem heterossexuais
sem
para trás deixar sua descendência?
E
esses frades e freiras confinados,
votos
fazendo de abstinências mais sensuais,
sem
seu deeneá alcançar sobrevivência?
PLURICIDADE
IV
Tudo
depende de algum tipo de cultura:
em
qualquer sociedade agropecuária
a
descendência é uma prenda pecuniária,
novas
mãos a partilhar da ceifa dura;
mas
nas cidades não existe ceifadura,
bem
ao contrário, a descendência é perdulária,
quanto
mais filhos, mais longa e multifária
a
quantidade das despesas que perdura.
Destarte
é perfeitamente compreensível
que
a ter prole tantos se recusem,
o
heterossexualismo em risco transformado;
e
há hoje tantas leis que é impossível
que
de responsabilidade tal então se excusem,
melhor
animal se preferir seja adotado!
Lindas poesias, parabéns pela criatividade.
ResponderExcluirArthur Claro
http://www.arthur-claro.blogspot.com