segunda-feira, 16 de janeiro de 2023


 

 

A APOTEOSE DE HÉRCULES XI – 14 junho 2022

Ficou o rito funerário nesse impasse,

até que um pastor, chamado Peias,

que observara com a máxima atenção,

a Filoctetes, seu filho, comandou

que o sofrimento do herói cessasse:

“É preciso que o fogo nele ateies!”

Filoctetes a pederneira traz na mão

e uma chama de palha provocou,

criou uma tocha que nos galhos colocou,

com os quais a madeira conflagrou...

Hércules ao menino então agradeceu

e demonstrando sua profunda gratidão,

carcaz, flechas, arco e lança o presenteou;

então sozinho subiu ao alto da pira;

a pele de leão ali ele estendeu,

usando a clava de travesseiro na ocasião

e alegremente entre as chamas se deitou,

igual que noivo que sua prometida mira;

só então Zeus finalmente o ajudou

e um relâmpago desde o céu lançou!

Lá do alto do Olimpo, Zeus, seu pai,

alegrou-se, porque seu filho favorito

perante a morte agira nobremente

e declarou que “sua alma era imortal,

porém que ao Hades de forma alguma vai;

já consumido foi seu corpo aflito,

virá viver entre nós mui brevemente

e se algum deus ou deusa encontrar mal

em sua deificação, esta é a minha vontade,

que a aceitem todos com longanimidade!”

Naturalmente, apenas Hera objetaria

e constrangida, engoliu a advertência,

mas exerceu vingança bem mesquinha,

fazendo Filoctetes ser mordido por serpente.

Agora Hércules em nada mais recordaria

o filho humano de Alcmena, mas da aparência

de seu pai totalmente se avizinha,

que sua parte mortal era imanente,

mas demonstrava agora a divindade

em seu semblante de pura majestade!

 

A APOTEOSE DE HÉRCULES XII – 15 junho 2022

Encobriu-o nuvem de qualquer visão humana

dos companheiros, enquanto o fogo terminava

e sua parte terrena assim se consumia;

então desceu uma quadriga desde o céu,

guiada por Pallas-Athena soberana,

que ao Olimpo enfim o transportava

e aos demais deuses logo o introduzia,

Zeus a acolhê-lo como legítimo filho seu;

seu pai querendo recebê-lo no seu lar,

mas entre os doze olímpicos não haveria lugar.

Seria preciso algum dos deuses expulsar!

Pensou em Ares, que fora de Hércules inimigo,

mas o deus da guerra contra Zeus se voltaria

e à sua maneira, era muito poderoso;

de sua esposa Hera pensou se divorciar,

mas onde mais podia Hera achar abrigo?

Ceres ou Demeter talvez considerar podia,

mas era a deusa das colheitas e seu precioso

dom, se fora expulsa, negaria à humanidade,

e das humanas iria suspender a fertilidade.

Usou então de um espantoso artifício:

ordenou a Hera que a Hércules adotasse

e como filho seu totalmente o recebesse.

A deusa-mãe não se poderia recusar

e no seu leito foi deitar-se para o ofício,

que em simbolismo o parto realizasse;

no escuro fez Zeus que Hércules se escondesse

sob suas saias, para quieto ali ficar,

até que as luzes do quarto ele acendesse

e com gemidos Hera seu parto pretendesse!

O certo é que, a partir desse momento,

Hera demonstrou sua total maternidade

e a Hércules aceitou, sem hesitar, por filho,

passando a amá-lo com amor potente,

só por Zeus tendo mais forte sentimento;

seu renascimento provocando alacridade

e os imortais o receberam no seu trilho,

sem sombra de dúvida ou qualquer ressentimento;

Hera então seu matrimônio divino concebeu

e sua filha Hebe como esposa lhe cedeu.

 

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