ESTERNUTAR DOURADO I – 5 JAN 2023
(Dale Arden, a eterna namorada de Flash Gordon)
Em um espirro sinto que a alma
esternutei,
A meu redor a ser assim lançada,
Por novo espirro no entorno
procurada,
O seu caminho tão pródigo orientei.
Tudo depende de quão longe o
projetei.
Se por novo espirro não puder ser
alcançada,
Como ir buscar essa alma projetada
Em perdigotos que nas paredes
derramei?
Que me acontece durante um resfriado,
Em que um ao outro o espirro se
repete,
Minha pobre alma sem saber o que
fazer?
E quando troco algum beijo de pecado,
Alma por alma que o sexor assim
afete,
Em mil suspiros que mal pode se
conter?
ESTERNUTAR
DOURADO II
Era
comum entre os reis de antigamente,
Quando
esta crença parecia bem real,
Que
seu bobo da corte ou algum jogral,
Tivesse
o cargo de uma função premente.
Coçar
as narinas do rei impenitente,
Até
que a nova efusão esternutal
Trouxesse
a alma de seu destino ao mal
E
o caminho lhe indicasse competente.
Coisa
terrível seria um rei sem alma!
Talvez
se transformasse em desalmado,
Em
seu sentido inicial de rei cruel,
Mas
se ao invés ficasse preso em calma,
Por
coisa alguma a sentir-se interessado,
Deixando
o reino em abandono e fel?
ESTERNUTAR
DOURADO III
E
o que ocorreu durante a pandemia?
Ficava
o espirro em máscara guardado,
Contra
as bochechas seu caminho recortado,
Será
que o caminho do nariz atinaria?
E
como tanta gente então espirraria,
Se
de sua máscara houvesse um canto alçado
E
a alma travessa, num gesto descuidado,
Por
esse fortuito buraquinho então seguia?
Será
que existe definida diferença
Entre
a passagem de um a outro resfriado
E
em outro nariz entrasse sorrateira?
Ou
entre pólen de concentração mais densa,
Qual
na primavera talvez tenhas sentido,
Tua
incauta alma fosse sofrer uma rasteira?
FLOR DOURADA I – 6 JAN 2023
Amor nunca é demais, jamais importa
Isso que alegue qualquer presunçoso,
Sempre existe no amor algo formoso,
Que o nosso tédio e sua maldade
corta.
Amor real jamais é letra morta,
Por mais que o termo se empregue sem
garboso
Significado ou o considere ser
dengoso,
Por mais falsa a reação que o amor
entorta.
Pois quem é humano, precisa desse
amor,
Mesmo aquele mais cruel e
abrutalhado,
Que em sua infância quase nada
recebeu
E que lhe nega a existência com
fervor,
Que possa somente ao sexor ser
comparado,
Se o amor de mãe sequer um dia
conheceu.
FLOR
DOURADA II
Quem
recebeu durante a sua infância
Algum
carinho em proporção normal,
Mais
o buscará de forma natural,
Em
recompensa natural de cada instância.
Mesmo
sem perceber toda a importância
Que
amor contenha em dom espiritual
E
assim o limite à acumulação sensual,
Por
quem lho dá só mostrando tolerância.
Muitos
transferem tal necessidade
Para
a conquista de coisas materiais
E
de amor chamem seu desejo de poder,
Mas
onde quer que viver a humanidade,
Até
por razões biológicas finais,
Novas
mudas de amor semeará e irá colher.
FLOR
DOURADA III
Mas
nisto tudo só o medíocre menciono.
Que
coisa existe que já não foi ponderada
Constantemente
por tanta alma enamorada,
Por
quem não tem, por quem de amor é dono?
São
pobres versos em que nada mais ressono
Que
a frase antiga tantas vezes derramada
Sob
os olhos de quem lê a frase airada,
Para
os ouvidos em repetitivo tono.
Contudo
algo ainda me leva a repetir
As
próprias frases que de mim plagiei,
Nesses
milhares de sonetos passageiros
E
que talvez ainda possa me iludir
Que
escrever possa o que nunca antes pensei
Em
meus sonetos contenciosos e altaneiros!
RENOVAÇÃO DOURADA I – 7 JAN 2023
Muito mais coisas posso dizer do amor,
Talvez algumas de que nunca disse nada,
Essa temática jamais será esgotada,
Enquanto humanos precisarem de calor.
Mesmo em quem for limitado por sexor,
Amor é sempre o eclodir de uma alvorada,
Sempre que surge em animação inesperada,
Parece nova sua liturgia de fervor.
Ainda quem se apaixonou vezes sem conta,
Acha surpresa que lhe domina a mente,
Ninguém fica a um novo amor indiferente,
Ainda que o julgue ser de pouca monta,
Até quando o encare com condescendência
E o guarde preso no limiar de sua
consciência.
RENOVAÇÃO
DOURADA II
Nem
todo amor por certo é amor sexual,
Quem
pode negar que existe amor materno?
Quem
pode desdenhar do amor fraterno,
Ou
do espantoso amor do divinal?
Acha-se
amor na devoção de um animal,
Acha-se
amor pelo acontecimento hodierno,
Quando
se relate a algum ideal superno,
Ou
observado por curiosidade natural.
E
a muita coisa chamam pecado capital
Que
não é mais que outa versão do amor,
Que
é a gula, senão o amor do paladar?
Que
é a vaidade, senão o amor do individual,
Que
é a inveja, senão o amor tão constritor
Por
bem alheio que preferíamos tomar?
RENOVAÇÃO
DOURADA III
Que
é a avareza, senão amor à posse,
Que
é o ódio, senão do amor o inverso,
Como
é fácil ser esse amor mais controverso
Por
sentimento alheio que o endossa?
Ou
esse amor que o colecionador engrosse,
Mais
e mais itens de um teor diverso,
Função
do orgulho, que é um amor reverso,
Qual
filigrana pintada em antiga louça?
E
há tanto amor que é lançado em projeção,
O
amor-próprio projetado no poder
O
amor da pátria projetado no dever,
O
amor aos filhos projetado em devoção,
Qual
se projete em Deus o amor ideal
Que
assim preencha nosso vazio espiritual?
Lindas poesias, meus parabéns.
ResponderExcluirArthur Claro
http://www.arthur-claro.blogspot.com
Belos versos em lirismo singular. Sempre um gosto a leitura. Abraços
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