A TERRA DA JUVENTUDE V
Passou-se assim de novo um ano e um dia
e a saúde do Tzar mal se aguentava;
acreditando que os dois filhos haviam morrido,
não queria dar ao mais novo consentido
para que a fonte fosse buscar também;
mas Wladimir, sem receber dinheiro,
vendeu algumas joias que herdara, bem ligeiro;
e como a morte do pai a temer vem,
secretamente pela estrada ele fugia
e logo em busca dessa terra demandava
em que a mágica fonte se encontrava.
Também a rota da seda ele seguiu,
mas disfarçou-se de pobre mercador,
pois não queria chamar muita atenção,
sempre indagando, na maior educação
onde a Terra da Juventude se encontrava;
a maioria da camponesa gente
só lhe dizia dever ser lá pelo Oriente,
porque velho todo mundo ali ficava!
Mas nas cidades nenhuma resposta ouviu;
de Samarkanda desviou-se, sem temor,
sem esperar ali encontrar qualquer favor!
Chegou assim de Ustyurt até o planalto
e a Kyzylorda, além do mar de Aral,
depois o vasto deserto de Kyzyl Kum
(na travessia levou dias vinte e um!),
chegando então do Karakorum às montanhas;
nada o fazia, porém, desanimar,
até um dia vasto mar ir encontrar,
tempestuoso e com vagas tamanhas,
onde hoje fica o deserto de Gobi, bem alto;
e com uma velhinha se deparou, afinal,
que uma resposta lhe deu, bem natural...
“Meu filhinho, precisarás atravessar
todo esse mar, porque fica do outro lado!
Não existe ao redor qualquer caminho;
caso houvesse, eu o seguiria de mansinho;
mas a esse mar criou um encantamento,
que é da Terra da Juventude a proteção;
somente de animal marinho a direção
é conhecida por seu entendimento...
Ah, se eu pudesse, cruzaria o mar,
mas meu corpo envelheceu e está cansado;
caso tentasse, já teria me afogado!”
A TERRA DA JUVENTUDE VI
“Quando era moça, de lá eu fugi,
porque achava aquela vida aborrecida;
o povo jovem, cheio de formosura,
não se arriscava a fazer uma aventura;
porém eu convenci a um bom tritão, (*)
nele montei e vim para este lado
e aqui vivi, no prazer mais descuidado,
até envelhecer e não ter mais ilusão;
eu retornei, mas ao tritão não mais eu vi;
dizem-me os peixes que concluiu sua vida;
como mel e gafanhotos, pobre e desnutrida!”
(*) O macho das sereias.
“Mas se pudesse de novo a água beber,
decerto recobraria a mocidade!
Porém os peixes não me podem transportar
e se eu tentasse, no mar iria tombar!
Mas a você, talvez um deles o transporte...”
E a velha começou a bater palmas,
transformando os vagalhões em ondas calmas;
depois os dedos ela enfiou na areia
e dos desenhos que começou a fazer
surgiram vermes em grande quantidade,
que ela atirou às águas, sem maldade...
Logo os peixes começaram a acorrer,
esses vermes engolindo vorazmente
e ela indagou: “Vocês podem carregar
este rapaz até a outra praia do mar?”
Contudo os peixes lhe respondiam, comendo:
“Ele é muito pesado para nós,
vai-se afogar por esse mar empós.
Só uma dugongo, se fortalecendo, (*)
Talvez seja capaz de isso fazer!”
“E onde se encontra a dugongo, boa gente?”
“Do outro lado ela vive, geralmente!”
(*) Um mamífero marinho verdadeiro, aparentado aos
golfinhos.
Finalmente, um espadarte prometeu
que uma dugongo iria desentocar:
“Posso lhe dar alguma alfinetada
com o meu bico, que parece espada!”
E lá se foi o peixe, em busca amiga;
depois de horas, a dugongo enfim surgiu
e Wladimir que era uma fêmea logo viu,
pois quatro seios ela tinha na barriga
e barbatanas na cabeça percebeu,
cabelos de mulher a assemelhar,
focinho curto apenas a ostentar...
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