A TERRA DA JUVENTUDE VII
(Baba Yaga)
Não admira que com mulher a confundissem
e desse origem à lenda das sereias;
mas a dugongo mostrou muito mau-humor,
porque o espadarte a espetara com fervor:
“Baba Yaga, o que queres de mim?”
“Que transportes este moço ao outro lado.”
“Vejo que é muito bem-apessoado,
mas qual motivo para ajudá-lo assim?”
“Um colar te dará, quando atingissem
o outro lado e a segurança vissem...”
“E para que eu quereria um colar?
Não está vendo que pescoço sequer tenho?”
“E uma tiara para os teus cabelos?”
“São barbatanas e não quero prendê-los.
Só te carrego, se me deres outra prenda:
um rabo de Catoblepas e um focinho
de Coquecigrou, acrescido de um espinho
das costas da Tarasca, de prebenda!...” (*)
“Se eu tos trouxer, irás me carregar?”
“São muito apreciados de onde eu venho,”
disse a dugongo, a lhe franzir o cenho.
(*) Todos três são animais imaginários.
“Mas como encontrarei tais criaturas?”
“Sei onde moram,” disse-lhe a velhinha.
“O Catoblepas dorme o dia inteiro,
à escura sombra de um vasto espinheiro:
segue a senda da direita e o encontrarás...”
“Mas tu, dugongo, não irás embora?”
“Esperarei por um dia e meia-hora.”
Baba Yaga lhe disse: “Este ramo lhe darás;
é de cicuta, com folhas novas e bem puras.
Coloca-o junto a seu focinho, com cuidado,
porém evita respirar, quando a seu lado!”
“Do Catoblepas a feroz respiração
é fatal para qualquer um ser humano!
Mas ao comer, ele fica distraído
e cortarás o seu rabo, destemido;
não tenhas pena, porque outro nascerá;
este ramo irá comer sem acordar;
faz o que eu digo e poderás voltar
e por ti a dugongo esperará;
cumpre a tarefa sem perturbação;
o Coquecigrou te dará maior afano
e a Tarasca é um perigo desumano!”
A TERRA DA JUVENTUDE VIII
Wladimir para a jornada se aprestou,
com o ramo de cicuta preso à sela;
do Catoblepas colocou-o junto ao focinho
e seu rabo foi cortar, devagarinho,
tendo o cuidado de prender a respiração;
depois voltou até a praia do mar,
onde a dugongo ainda o estava a esperar,
mas disse a velha: “Espere a ocasião,
depois que as três prendas você conquistou,
senão a malícia da dugongo se revela:
come essa cauda e se perde na procela!”
A dugongo já começou a protestar,
mas Baba Yaga logo a repreendeu:
“Você não quer as três prendas receber?
Pois então esperar deve aprender!”
E a Wladimir: “Siga da esquerda o caminho:
o Coquecigrou também dorme de dia,
mais mortal que o Catoblepas, pois quem via
ele transforma em pedra, meu filhinho!
Portanto, com a espada o irás matar;
é um benefício para o mundo, se morreu:
fura-lhe os olhos e o focinho será teu!...”
Wladimir novamente se aprestou,
mas o cavalo amarrou a um carvalho
e foi aproximar-se devagar,
para a fera poder assim matar,
cujo aspecto era tão enganador!...
Julgavam as pessoas fosse caça,
mas logo a morte por ali perpassa
e quem morre é sempre o caçador!
Um feitiço de antanho o transformou
em galo e grou do mais estranho talho
e Wladimir o encontrou pousado em galho!
Mas ao chegar perto do pássaro, afinal,
veio o príncipe, com um golpe certeiro,
a cabeça cortar-lhe, limpamente,
sempre evitando o olhar diretamente;
os dois olhos furou-lhe com a adaga
e só então cortou-lhe seu focinho,
voltando à praia por igual caminho,
até a cabana em que habitava a maga.
A dugongo mostrou um desejo bem real,
vendo o focinho que trouxera inteiro,
mas Baba Yaga disse: “Espera o derradeiro!”
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