quinta-feira, 27 de abril de 2023


 

 

PENDOR SEM PUDOR I – 23 ABRIL 2023

(SETE ATRIZES JUDIAS DO CINEMA MUDO)


VOLTADO PARA TI MEU CORPO INTEIRO

SE ESMAGA CONTRA A CARNE QUE ME ACEITA

NÃO É SOMENTE O VENTRE QUE SE AJEITA

SOU TODO EU QUANDO DE TI ME ABEIRO

DE FORMA ALGUMA UM ALMEJAR LIGEIRO

MAS TODO O SANGUE DO MOMENTO SE APROVEITA,

TODOS OS OSSOS EM COMUNHÃO PERFEITA,

CADA UM DOS NERVOS A PARTILHAR CERTEIRO

TODOS OS SENTIDOS CONTRA TI SE ACOLHEM

O OLHAR QUE TE PERCORRE ALVISSAREIRO

O PALADAR A QUE TEUS LÁBIOS MOLHEM

A PELE TODA MANIFESTADA EM TATO

O SOM DE TEUS SUSPIROS ALTANEIRO

E A ESCRAVIDÃO TOTAL DE MEU OLFATO

 

PENDOR SEM PUDOR II

MAS TUDO É CARNE E PODERIA SER CASUAL

OSSOS E SANGUE, RESPIRAÇÃO COMPLETA

À DIGESTÃO O AMOR TAMBÉM AFETA

E TODO O ENCÉFALO SE INCLUI NESSE TOTAL

FÍGADO E RINS A ARTICULAR EM CARNAVAL

A VESÍCULA E O BAÇO EM IGUAL SETA

TODO O PULMÃO NO ESFORÇO QUE PROJETA

O CORAÇÃO ATÉ SUA PAUSA TRIUNFAL

SE FOSSE APENAS ISSO, UM ANIMAL

DE SENSAÇÕES IGUAIS PARTILHARIA

MESMO SEM TER PENDOR INTELECTUAL

MAS SE ENGLOBA MUITO ALÉM DO QUE É SENSUAL

SEM QUE POSSA ACOIMAR DE FANTASIA

QUE SEJA O VERDADEIRO AMOR ESPIRITUAL

 

PENDOR SEM PUDOR III

EMOCIONAL É O RECORDAR DESSE MOMENTO

DESSAS MIL VEZES CUMPRIDO O AMOR CARNAL

DESSA REUNIÃO SÓ RECORDAMOS NO FINAL

POR MAIS INTENSO ORGASMO EM PENSAMENTO

SÓ RECORDAMOS DE FATO O SENTIMENTO

AS SENSAÇÕES SÃO DISPERSADAS AFINAL

SÓ NA PROCURA DE OUTRO ABRAÇO CONSENSUAL

ENTRE A MENTE E DA LEMBRANÇA O JULGAMENTO

NO FIM DAS CONTAS A SER MAIS INTELECTUAL

ESSA MEMÓRIA DOS MOMENTOS DO PASSADO

É NECESSÁRIO REIPAGINAR O MATERIAL

SÓ SE CONSEGUE PLENAMENTE RECORDAR

QUANDO DE NOVO CADA GESTO É COMPLETADO

POR NOVO ESPANTO QUE SE VENHA A PRATICAR

 

PUDOR SEM PENDOR I – 24 ABRIL 2023

COMO O DESTINO É BRINCALHÃO COMIGO

A CADA DIA QUE VEM ME FAZ PIRRAÇA

CADA PROMESSA TRANSMUTADA EM TRAÇA

CADA CERTEZA DILUÍDA NUM PERIGO

COMO O FADO É INFIEL AO TEMPO ANTIGO

A DESMANCHAR O PLANO QUE SE FAÇA

POSTA UM CUNHA CONTRA O AMOR QUE ABRAÇA

COMO GOTEIRA EM SEU MELHOR ABRIGO

TAL E COMO SE SEREIA SE APRESENTA

A NOS CANTAR DE UM SONHO DESLUMBRADO

A NOS FINGIR O SEU AMOR INDIFERENTE

POIS É SOMENTE SEU CANTAR QUE ALI SE ATENTA

SEM A DOÇURA DO AMOR MAIS DESEJADO

A NOS LANÇAR EM ZOMBARIA IMPENITENTE

 

PUDOR SEM PENDOR II

MAS TÃO LOGO ESSA LEMBRANÇA SE DESFAZ

POR ALGUM TEMPO A RECORDAR-SE A SENSAÇÃO

QUE VAI AOS POUCOS PERDENDO INSPIRAÇÃO

E EM NOSSA PELE SEU TATO NADA TRAZ

SEM REPETIR-SE O PRAZER NÃO SE REFAZ

SÓ A MEMÓRIA QUE SE TEM DESSA IMPRESSÃO

TÃO DIFÍCIL DE TRADUZIR ESSA EMOÇÃO

A DISSIPAR-SE QUAL EXPLOSÃO DE GÁS

E QUANDO AMOR FOI FEITO COM FREQUÊNCIA

NÃO SE RECORDA CADA AÇÃO PARTICULAR

EM SUA MISTURA DE ARDOR E IMPERTINÊNCIA

UM GRANDE NÍVEL DE ATOS DE IMPACIÊNCIA

CADA UM AOS OUTROS EM SI RÁPIDO MESCLAR

SÓ IMAGINADO O FRAGOR DE SUA POTÊNCIA

 

PUDOR SEM PENDOR III

MAS AFINAL O QUE EXISTE AQUI DE ESTRANHO

NÃO SE RECORDA DAS REFEIÇÕES A MAIORIA

MAS SOMENTE O SEU CONJUNTO PERSISTIA

TÃO DIFÍCIL SE LEMBRAR QUAL GOSTO GANHO

SOMENTE O OLFATO NOS DÁ MAIOR AMANHO

E NOS CONFUNDE ASSIM NESSA FOLIA

O PALADAR COM O PERFUME QUE ALI HAVIA

EM SUA MEMÓRIA A SUGERIR MAIOR TAMANHO

POR QUE ENTÃO SER DIVERSO DEVERIA

ESSE INVENTÁRIO DOS AMORES PRESENCIADOS

CADA ATO QUE ENTRE CEM OUTROS PERSISTIA

SENTAR PRAZER E VAZIO NO MESMO TRONO

SÓ OS SENTIMENTOS EM SONHO CONSERVADOS

IGUAIS QUE AS HORAS ESQUECIDAS DE TEU SONO

 

VENTOR E CHUVOR I – 25 ABRIL 2023

ENQUANTO O VENTO PINGA EM MINHA CABEÇA

E A CHUVA MANSA AGITA MEUS CABELOS

TODO O ÓDIO SE TRANSFORMA EM MIL DESVELOS

E A POLVADEIRA EM UMIDADE ME REGRESSA

MAS SE PAREÇO ABSURDO ENTÃO ESQUEÇA

MAIS ABSURDOS OS DESSES ASTROS BELOS

INVISÍVEIS DE DIA A OCULTAR ZELOS

MAS NOS QUAIS QUEREM QUE O DESTINO PERMANEÇA

QUE MUITO ESTRANHO É ESPERAR QUE ISSO ACONTEÇA

POIS SÓ PODEM REGER FADOS PELA NOITE

E MESMO ISSO SE NÃO ESTIVER NUBLADA

ENTÃO A VIA LÁCTEA ARGÊNTEA NOS REGRESSA

E DO ZODÍACO NOS REVELA SEU ACOITE

SEM QUE O SOL DESSA NOITE SIGA A ESTRADA

 

VENTOR E CHUVOR II

O SOM DO VENTO TRANSMITE SEUS APELOS

PARA QUE EU PARTA PARA O PONTO QUE DESEJA

MAS QUANTO A CHUVA SOBRE A TESTA BEIJA

ONDE ME ENCONTRO ME PRENDE COM SEUS SELOS

O VENTO PODE ME TRANSPORTAR AOS GELOS

MAS A CHUVA EM SEU LUGAR CALOR ENSEJA

FAZENDO O VENTO DEMONSTRAR INVEJA

DESSE LUGAR EM QUE DEPONHO OS ZELOS

E O SOL ME ESPIA ENQUANTO A CHUVA CAI

SALVO SE O VENTO PARA LONGE O TRANSPORTOU

UM CALOR MORNO SOMENTE A ME DEIXAR

MAS QUANDO LONGE O SEU FULGOR SE ESVAI

QUIÇÁ A CHUVA ENFIM ME DOMINOU

E SOBRE A LAMA COM FIRMEZA ENRAIZOU

 

VENTOR E CHUVOR III

O VENTO ENFIM ME PERTURBA O CORAÇÃO

QUAL SE PUDESSE CRUZAR PELAS COSTELAS

E RETIRAR DALI  LEMBRANÇAS BELAS

NO ESFORÇO DE INVESTIGAR CADA PULMÃO

ENQUANTO A CHUVA ME REFAZ CADA BOTÃO

DAS ESPERANÇAS EM QUE POSSA TÊ-LAS

NESSAS MEMÓRIAS QUE NEM POSSA VÊ-LAS

QUE NO ANTANHO SE AS BUSCAR NÃO SE ACHARÃO

PERCEBO A CHUVA ASSIM TÃO MALICIOSA

QUE SÓ ME LEVA A ENRAIZAR NO IMPOSSÍVEL

ENQUANTO A BRISA POR MAIS SEJA ASTUCIOSA

VEM-ME ARRASTAR AONDE MAIS LHE APROUVE

TÃO DISTANTE DE MINHA VIDA PERECÍVEL

QUE ME FAZ RECORDAR QUANTO NÃO HOUVE

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