sexta-feira, 14 de abril de 2023


 

A TERRA DA JUVENTUDE

William Lagos, 27 out 14

 

A TERRA DA JUVENTUDE I

 

Quando Dimitry Segundo da Rússia era o Tzar,

entrou em guerra contra os turcos e os venceu

em ferozes batalhas, até que seu atamão (*)

pediu a paz e comprometeu-se desde então

a um vasto tributo pagar-lhe anualmente,

em ouro e trigo, seda e especiarias,

quais nas terras da Rússia nunca vias,

mesmo incluindo uma tropa de sua gente

para o exército dos eslavos reforçar:

cem cavaleiros a cada ano lhe deu,

porém seu ódio jamais enfraqueceu!...

(*) Chefe de tribo da Ásia Central.  Também hetman ou atamã.

 

Os cavaleiros que enviava não voltavam,

pois queriam que essa tropa se integrasse,

pelos soldados russos bem aceitos;

súditos tornavam-se de plenos direitos

e o atamão sentia-se traído.

Assim, enviou um servo de confiança

entre os soldados que incluía na aliança,

para que fosse junto ao Tzar introduzido.

(Como um aliado assim o respeitavam.)

Mas quando a ocasião se apresentasse,

que ao velho rei de algum modo eliminasse!

 

Os cavaleiros contra os Calmuques combatiam

e aos Coríaques, um outro povo siberiano

e o império da Rússia se expandia:

para o nordeste cada vez mais crescia,

embora fossem geladas muitas terras

e os próprios russos não as apreciavam,

enquanto os turcos depressa se adaptavam,

preferindo planícies do que as serras,

mesmo as brancas planuras que ali viam

e se mostravam fiéis ao soberano,

seu juramento renovando a cada ano.

 

Contudo um deles, aquele justamente

que fora escolhido pelo odiento atamão,

se demonstrou muito hábil estrategista,

as tropas levando a mais de uma conquista,

sendo a Moscou chamado eventualmente,

para tornar-se o supremo comandante

de todo o exército que lutava no Levante;

entrou no Conselho Real e, finalmente,

conseguiu, de maneira inteligente,

completar do atamão a sua missão,

o Tzar envenenando em vil traição!

 

A TERRA DA JUVENTUDE II

 

Contudo, para que não desse na vista,

foi o veneno aplicando pouco a pouco

e o Tzar pareceu tão só adoentado...

Eventualmente, identificaram o malvado,

que foi levado à forca prontamente,

para alegria dos outros generais,

que do estrangeiro tinham raiva por demais.

Mas o Tzar protegeu a turca gente,

que tanto se distinguia na conquista

e declarou ser a obra de um só louco

o pobre rei, cuja doença punha rouco...

 

Assim, chamaram os médicos da corte,

especialistas, até mesmo curandeiros,

mas o Tzar continuava a definhar,

pois o antídoto não conseguiam acertar;

os patriarcas fizeram orações,

os popes recitaram ladainhas, (*)

vieram doutores das regiões vizinhas...

O atamão não deu explicações

e declarou aprovar a triste sorte

do envenenador, sem os verdadeiros

motivos confessar nem a terceiros...

(*) Os padres ortodoxos são chamados de popes.

 

“Nós, turcos, não envenenamos o inimigo;

cortamos suas gargantas ou asseteamos

e não sabemos de quaisquer venenos;

ao grande Alá nós nos submetemos;

Ele permite que matemos em combate,

frente à frente, em verdadeira lealdade,

com coragem, orgulho e hombridade,

mas com peçonha inimigos não se abate!”

Falando assim, eximia-se do perigo

de nova guerra contra os muçulmanos

ou pelo menos, contra os turcomanos!

 

De qualquer forma, o Tzar enfraquecia

a olhos vistos e só adiavam a sua morte...

Mas certo dia se apresentou um camponês

e em desespero de causa, então se fez

que viesse à presença do monarca,

que lhe indagou: “Você pode me curar?”

Disse o muzhik: “Eu tenho de negar, (*)

Paizinho, pois não posso, porém um patriarca,

quando eu era jovem, a todos nós dizia

que havia uma terra de mui diverso porte,

Terra da Juventude e da mais saudável sorte.”

(*) Camponês, em russo.

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