A FADA DO RIO III
Só num ponto ela e Vássia discordavam,
pois queria ter um filho o bom moleiro,
que do moinho se tornasse seu herdeiro...
Mas nem por isso os dois se contrariavam.
Natasha não queria descendência,
porque seus filhos também seriam gatos,
uma vez a cada mês... E pelos matos
sairiam a correr, com independência...
Assim, sem dizer nada, os evitava,
embora nutrisse por Vássia grande amor.
Ela o abraçava, sem negar-lhe seu calor:
passados anos, porém, não engravidava.
Ficou o moleiro assim desapontado,
mas tinha as filhas, a quem via crescer;
Natasha em nada as deixava padecer
e em tudo mais era Vássia contentado...
Porém um dia, por qualquer motivo,
Natasha e a mãe subiram ao telhado
do moinho... Vássia acordou-se, perturbado
pelos miados de estridente crivo
e foi espantar os gatos. Em sua mão,
trazia uma adaga... A velha derrubou
com uma pedrada!... Natasha o atacou
e lhe cortou uma pata com o facão!...
A FADA DO RIO IV
As duas fugiram, feridas e estropiadas...
Vássia somente por um pouco as perseguiu.
Guardou a adaga, lavou-se e então, dormiu,
sem mais pensar nas gatas espantadas...
Passado o encanto, Natasha retornou,
a mão esquerda coberta por bandagem.
Vássia indagou. Ela encheu-se de coragem,
contando ao esposo o que lhe aconteceu.
Porém Vássia, em confusão e horror,
a expulsou de casa, de imediato,
cheio de medo e remorso pelo fato
e sem mais crer que lhe tivesse tanto amor
essa sua esposa já de tantos anos...
As meninas choraram, inutilmente.
O moleiro não queria mais Natasha pela frente:
era uma bruxa, com motivos desumanos!...
Porém Natasha, que o amava de verdade,
sentiu-se tão magoada, que no rio
foi-se jogar, onde morreu de frio,
seu coração se enchendo de maldade.
E descobriu as náiades das águas,
a quem rapidamente dominou.
A Rainha das Russalki se tornou,
a remoer seus rancores e suas mágoas...
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