sábado, 12 de agosto de 2023


 

 

NASREDDIN E O OGRO VII – 13 JUL 2022

 

Mas nesse instante, uma lebre apareceu:

com seu bodoque, depressa a atingiu,

logo a segunda e várias outras viu

e quando o ogro voltou com tanta lenha,

só lhe mostrou com esperteza a senha:

“Viu quanta caça eu chamei e me atendeu?”

“Que coisa boa, já dá para o jantar!”

disse o ogro.  “Pensei que ia passar fome,

não achei na mata coisa alguma que se come...

Mas o senhor não está muito cansado,

depois de tanta lebre ter estrangulado?”

Nasreddin foi logo sua história confirmar.

“Não, meu caro ogro, não me cansei ainda,

mas vejo que de carregar gravetos se cansou.”

O ogro meio no solo se assentou.

“Vamos fazer o jantar no meu covil,

belo ensopado, melhor que a carne vil

daqueles dois que comi semana finda!”

Nasreddin teve medo de no covil entrar,

mas não podia qualquer fraqueza demonstrar

e disse estar pronto para o acompanhar.

“Carregue agora essa pouquinha caça,

talvez alguma outra aqui por perto passa

e assim a possa igualmente estrangular!”

O ogro concordou e mostrou o caminho;

Nasreddin pegou um machado, casualmente

e foi seguindo bem tranquilamente,

até chegar dentro do ogro no covil,

alguns goles a tomar de seu cantil,

que guardou sob a camisa com carinho...

 

NASREDDIN E O OGRO VIII – 14 JUL 2022

 

Chegando já na cova fedorenta,

logo enxergou as caveiras dos irmãos.

Os meus esforços aqui não serão vãos!

Falou o ogro: “Vá no poço buscar água,

custo muito a acender fogo nesta frágua!”

Sua maneira de fazer fogo era bem lenta!...

Nasreddin foi os dois baldes segurar:

eram imensos, de ferro, bem pesados;

mesmo vazios, mal podiam ser levantados.

Então disse ao ogro: “Ora, não vale o esforço

de carregar estes dedais.  Vou lá arrancar o poço!”

Mais uma vez, foi-se o ogro apavorar!...

“Não faça isso, vou do poço precisar!

Acenda o fogo então, que eu busco a água!”

Nasreddin logo o acendeu, sem qualquer mágoa,

trazia no bolso pederneira e até um ferrinho,

deixando o fogo crepitando rapidinho!

Antes que o ogro fosse com os baldes retornar.

“Mas como acendeu o fogo tão depressa?

Eu levo horas esfregando dois pauzinhos...”

Ora, que nada!  Foram só dois assoprinhos,

cuspi o fogo depressa de minha boca!...”

Novamente, era uma mentira louca,

mas o ogro já caiu nessa outra peça!...

“Bem, senhor, vamos as lebres esfolar...”

“Para quê?  Prefiro eu comer com o couro!”

Ficou o ogro uma vez mais  nesse desdouro,

mas com vergonha de dizer que não queria,

que esfoladas as lebres preferia,

 a caça inteira no caldeirão pôs-se a jogar.

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