quarta-feira, 23 de agosto de 2023


 

 

Édipo e a esfinge i – 10 agosto 2023

O mais antigo de todos os enigmas

Foi aquele pela esfinge apresentado,

Todo viajante a ser por ela interpelado

E forçado a submeter-se a seus sintagmas.

A morte garantia então os seus querigmas

E o velho enigma até hoje é confirmado:

Quatro patas, duas patas, por três completado

O bicho-homem ao enfrentar da vida os magmas.

Eu finalmente começo a confirmar

Que profecia seja aqui apresentada,

De sua terceira fase estou a participar,

Pois em joelheira preciso me apoiar

Para dar cada marcha compassada,

Outra joelheira  deverá ser breve adotada.

Édipo e a esfinge ii

Tenho filhos, tenho netos, para a raça contribuí

Mas Não os penso como sendo seguidores,

Meus descendentes fruto sadio de amores

prova de meu orgulho, porém, não me iludi.

Em nosso mundo talvez demais eu já vivi,

Para meus ossos não quero ter sepultadores

Do que restou não quero ter exumadores,

Mas devo enfim aceitar que envelheci.

Afinal, sofreu meu tronco com as longas horas

De permanência junto ao computador

E a posição por igual gastou-me os joelhos

Ou será o peso dos sonetos em suas demoras

Que os levou a perder o seu vigor

sem simplesmente desgastar-se por ser velhos?

Édipo e a esfinge iII

Vejo hoje em meu corpo confirmada

Não a otimista profecia da cigana,

Mas da esfinge a realidade se proclama,

Em breve a bengala será mais adequada.

Para manter minha postura conservada

É justamente o que a esfinge me reclama,

Setenta anos de energia tive a fama,

Mas vejo a carne aos oitenta desgastada.

Era esta a constatação própria do salmista

Ou uma espécie real de profecia?

O fato é que prossigo dia a dia

 novos versos a agregar qual um copista

ou que mais pudesse redigir só me iludia,

Correndo lento por compactada pista?

 

Édipo e a esfinge iV – 11 agosto 2023

Já comentei em uma série antiga

Como édipo a esfinge contraria,

Quando ele acerta o enigma que fazia

E a estátua se desvaira nessa briga

E de si própria torna-se a inimiga,

Pelo abismo sem pensar se lançaria.

Mas isto é motivo por que suicidar-se-ia

Essa fera de tão potente liga?

Já foi descrita com rosto de mulher

E corpo de animal, talvez leoa

E ainda afirmavam que devorava os caminhantes,

Sem permitir segunda instância mais segura,

Logo lhe davam a sua resposta boa

Ou se tornavam refeições quais outros antes.

Édipo e a esfinge V

Só imagino o tamanho dessa boca

Feminina, para devorar um viandante

E me parece realmente interessante

Que outros seguissem por essa senda louca

Para escutar da esfinge de voz rouca:

“decifra-me ou te devoro neste instante!”

Não haveria um atalho mais adiante

Que até as portas de tebas algum coloca?

E a pobre esfinge devia passar fome,

Que afinal, não deveria ser comum

Que caminhantes desafiassem tal perigo

E que um simples adivinhar um tal destino dome,

Mas segundo consta, sem o decifrar nenhum,

indo ali buscar, em inocência, o seu jazigo?...

Édipo e a esfinge Vi

Édipo soube a resposta da adivinha,

Talvez por ter uma sandália rebentada

E em algum galho de árvore encontrada,

Já da terceira idade a ideia tinha.

Se foi assim, por que a esfinge, tão sozinha,

Não ficou constrangida e encabulada,

Talvez prevendo que seria revelada

A resposta de tal pergunta comezinha?...

Ora, se eu fosse a esfinge, teria arranjado

Outra pergunta para esse intrometido

Que tinha chance maior de a decifrar,

Mas quem sabe, um deus a havia amaldiçoado

A apresentar o enigma unicamente permitido

E dessa forma a si mesma condenar?

Édipo e a esfinge Vii -- 12 agosto 2023

Já encontrei diversas vezes comentado

Que essa parábola não mais que referia

O costume que entre os leleges persistia

E que foi pelos helenos condenado.

Que a esfinge era a rainha, foi nomeado

E que o seu rei só por um ano viveria,

Quando um outro o seu lugar ocuparia

E a matriarca prosseguiria seu reinado.

De fato, édipo matou seu próprio pai,

Desconhecido, mas então de tebas rei;

Quem sabe laio fugindo não estava?

Cumprido o ano, seu sacrifício vai

Ser realizado, para cumprir-se a lei

E com sua morte não se conformava?

Édipo e a esfinge Viii

Porém a obsessão pelo destino,

Que tanto surge na mitologia helena,

Levou o rei a receber  sua pena,

por encontrar  o viajante ao sol a pino.

Também é estranho para meu próprio tino

Que não tivesse, com sua força plena

Lança ou espada ou flecha avena

Com que vencesse o intruso em talho fino.

Porém édipo é em tebas aclamado,

Por ter cruzado o caminho perigoso.

Decerto foram pela estrada investigar,

O monstro a encontrar todo quebrado

E a biga do rei lá no fundo do fragoso

Precipício, a profecia a confirmar!

Édipo e a esfinge ix

E que alívio, ao ver que já chegara

O novo rei para o ano que seguia,

Sem que algum outro deles se escolhia

Para essa vida em que tudo se ganhara,

Mas por um ano só e então o levara

Para qualquer ritual que o sacrificaria.

Melhor o estrangeiro  que não se conhecia,

Mas de quem as veleidades se perdoara,

Sabendo muito bem breve a vingança.

Alguns talvez até tivessem pena

E tudo fosse não mais que alegoria

De como é falsa da vida a esperança,

Que no auge do orgulho nos condena

E a vaidade humana de tal modo acabaria!

 

Édipo e a esfinge x – 13 agosto 2023

Já foi também apresentado o comentário

De que o complexo de édipo não existe

E que apenas o pobre freud nele insiste,

Mas na realidade, algo mais atrabiliário:

É a mulher que tem o poder contrário

De enviuvar e que o túmulo consiste

No próprio corpo que ao másculo resiste

E até mesmo algo foi dito mais nefário:

Que de algum modo a mulher aproveitasse

A energia do homem para a reprodução

E depois de ter seus filhos o descartasse

Ou que ainda o temor mágico mostrasse

No alvo escuro de sua penetração,

Onde os dentes da esfinge se acharão.

Édipo e a esfinge xi

Nessa cultura helenística patriarcal

Havia o temor daquela mãe terrível,

A deusa-terra, cujo desejo horrível

Para garantir das colheitas bom final

Ainda cobrasse o derrame do arterial,

Por sobre os campos, deixando-0 inatingível,

Se lhe não fosse oferecido bem visível

Esse corpo dilacerado em dom fatal.

Por isso os gregos mantinham o gineceu,

As mulheres em sua prisão dourada,

Que seu poder fosse destarte enfraquecido,

Considerando os homens o mundo como seu,

Por mais que sua vida fosse igual sacrificada

Nessas batalhas sem resultado definido.

édipo e a esfinge xii

ou talvez fosse interpretação mais inocente

daquela estátua egípcia tão imensa,

erguida em algum louvor de forma intensa,

com corpo de animal, a cabeça sendo gente,

junto à pirâmide erguida tão potente.

Seria a cabeça que ostentava sua presença

De um faraó com cabeleira densa

Ou de mulher poderosa e onipotente?

Quantas  centenas  de esfinges mais pequenas

Eram dispostas ao longo dos caminhos,

Que conduziam aos templos majestosos

Seriam a prole produzida em tais dezenas

Por essa esfinge-mãe de ocultos ninhos,

Sabe-se lá com quais intentos tenebrosos?

 

Édipo e a esfinge xiii – 14 agosto 2023

Em outra versão, ela ficou desapontada,

Quebrando as regras de seu próprio jogo:

“responde, homem, o meu segundo rogo:

Quem sou eu e como sou chamada?”

Pensou édipo na armadilha preparada,

Sem revelar seu pensamento logo:

“Tu és a esfinge?” queimando como fogo,

Essa resposta para sua morte calculada.

”Não, criatura, não penses que me enganas

Através desse artifício desonesto,

Para deixar-me devorar em desatino.

Com a primeira questão é que te irmanas,

Estátua falsa de poder funesto,

Por certo tens um nome – és o destino!”

Édipo e a esfinge XiV

Vendo assim desvendado  o seu ardil,

A criatura sua derrota percebeu;

Diz o dramaturgo  que nem assim reconheceu:

“Terás de justificar a tua resposta varonil!”

“Quatro patas, duas patas, três o homem senil,

Não é assim que teu labirinto apareceu?

Ninguém o fado da vida antes venceu,

Salvo a morrer em idade juvenil.

Pois até o mais forte dos guerreiros,

Ao ser ferido durante uma batalha,

Precisa de apoiar-se em um bordão,

Mesmo que a ele carreguem companheiros

ainda assim o seu destino não lhe falha:

Terceira perna lhe empresta o seu irmão!”

Édipo e a esfinge xV

O que restou assim da maldição?

Provavelmente, ela se desintegrou;

De tão pesada, no abismo não saltou,

Deixando édipo o senhor da situação.

Ou quem sabe, na chegada da nação

Que vinha do norte, alguém a escutou,

Como resposta, a cabeça lhe quebrou

Com sua clava ou com a força do bordão!

o que eu estranho realmente é que no egito,

Com tantos deuses de cabeça de animal,

Por que essa esfinge com corpo de leoa?

Ostentando em rosto humano o olhar aflito.

Esta a pergunta que deixo no final

E que no fundo de minha mente ainda ressoa!

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