Édipo
e a esfinge i – 10 agosto 2023
O
mais antigo de todos os enigmas
Foi
aquele pela esfinge apresentado,
Todo
viajante a ser por ela interpelado
E
forçado a submeter-se a seus sintagmas.
A
morte garantia então os seus querigmas
E
o velho enigma até hoje é confirmado:
Quatro
patas, duas patas, por três completado
O
bicho-homem ao enfrentar da vida os magmas.
Eu
finalmente começo a confirmar
Que
profecia seja aqui apresentada,
De
sua terceira fase estou a participar,
Pois
em joelheira preciso me apoiar
Para
dar cada marcha compassada,
Outra
joelheira deverá ser breve adotada.
Édipo e a esfinge ii
Tenho filhos, tenho netos, para a raça contribuí
Mas Não os penso como sendo seguidores,
Meus descendentes fruto sadio de amores
prova de meu orgulho, porém, não me iludi.
Em nosso mundo talvez demais eu já vivi,
Para meus ossos não quero ter sepultadores
Do que restou não quero ter exumadores,
Mas devo enfim aceitar que envelheci.
Afinal, sofreu meu tronco com as longas horas
De permanência junto ao computador
E a posição por igual gastou-me os joelhos
Ou será o peso dos sonetos em suas demoras
Que os levou a perder o seu vigor
sem simplesmente desgastar-se por ser velhos?
Édipo e a esfinge iII
Vejo hoje em meu corpo confirmada
Não a otimista profecia da cigana,
Mas da esfinge a realidade se proclama,
Em breve a bengala será mais adequada.
Para manter minha postura conservada
É justamente o que a esfinge me reclama,
Setenta anos de energia tive a fama,
Mas vejo a carne aos oitenta desgastada.
Era esta a constatação própria do salmista
Ou uma espécie real de profecia?
O fato é que prossigo dia a dia
novos versos a agregar
qual um copista
ou que mais pudesse redigir só me iludia,
Correndo lento por compactada pista?
Édipo e a esfinge iV – 11 agosto 2023
Já comentei em uma série antiga
Como édipo a esfinge contraria,
Quando ele acerta o enigma que fazia
E a estátua se desvaira nessa briga
E de si própria torna-se a inimiga,
Pelo abismo sem pensar se lançaria.
Mas isto é motivo por que suicidar-se-ia
Essa fera de tão potente liga?
Já foi descrita com rosto de mulher
E corpo de animal, talvez leoa
E ainda afirmavam que devorava os caminhantes,
Sem permitir segunda instância mais segura,
Logo lhe davam a sua resposta boa
Ou se tornavam refeições quais outros antes.
Édipo
e a esfinge V
Só
imagino o tamanho dessa boca
Feminina,
para devorar um viandante
E
me parece realmente interessante
Que
outros seguissem por essa senda louca
Para
escutar da esfinge de voz rouca:
“decifra-me
ou te devoro neste instante!”
Não
haveria um atalho mais adiante
Que
até as portas de tebas algum coloca?
E
a pobre esfinge devia passar fome,
Que
afinal, não deveria ser comum
Que
caminhantes desafiassem tal perigo
E
que um simples adivinhar um tal destino dome,
Mas
segundo consta, sem o decifrar nenhum,
indo
ali buscar, em inocência, o seu jazigo?...
Édipo e a esfinge Vi
Édipo soube a resposta da adivinha,
Talvez por ter uma sandália rebentada
E em algum galho de árvore encontrada,
Já da terceira idade a ideia tinha.
Se foi assim, por que a esfinge, tão sozinha,
Não ficou constrangida e encabulada,
Talvez prevendo que seria revelada
A resposta de tal pergunta comezinha?...
Ora, se eu fosse a esfinge, teria arranjado
Outra pergunta para esse intrometido
Que tinha chance maior de a decifrar,
Mas quem sabe, um deus a havia amaldiçoado
A apresentar o enigma unicamente permitido
E dessa forma a si mesma condenar?
Édipo e a esfinge Vii -- 12 agosto 2023
Já encontrei diversas vezes comentado
Que essa parábola não mais que referia
O costume que entre os leleges persistia
E que foi pelos helenos condenado.
Que a esfinge era a rainha, foi nomeado
E que o seu rei só por um ano viveria,
Quando um outro o seu lugar ocuparia
E a matriarca prosseguiria seu reinado.
De fato, édipo matou seu próprio pai,
Desconhecido, mas então de tebas rei;
Quem sabe laio fugindo não estava?
Cumprido o ano, seu sacrifício vai
Ser realizado, para cumprir-se a lei
E com sua morte não se conformava?
Édipo
e a esfinge Viii
Porém
a obsessão pelo destino,
Que
tanto surge na mitologia helena,
Levou
o rei a receber sua pena,
por
encontrar o viajante ao sol a pino.
Também
é estranho para meu próprio tino
Que
não tivesse, com sua força plena
Lança
ou espada ou flecha avena
Com
que vencesse o intruso em talho fino.
Porém
édipo é em tebas aclamado,
Por
ter cruzado o caminho perigoso.
Decerto
foram pela estrada investigar,
O
monstro a encontrar todo quebrado
E
a biga do rei lá no fundo do fragoso
Precipício,
a profecia a confirmar!
Édipo e a esfinge ix
E que alívio, ao ver que já chegara
O novo rei para o ano que seguia,
Sem que algum outro deles se escolhia
Para essa vida em que tudo se ganhara,
Mas por um ano só e então o levara
Para qualquer ritual que o sacrificaria.
Melhor o estrangeiro
que não se conhecia,
Mas de quem as veleidades se perdoara,
Sabendo muito bem breve a vingança.
Alguns talvez até tivessem pena
E tudo fosse não mais que alegoria
De como é falsa da vida a esperança,
Que no auge do orgulho nos condena
E a vaidade humana de tal modo acabaria!
Édipo e a esfinge x – 13 agosto 2023
Já foi também apresentado o comentário
De que o complexo de édipo não existe
E que apenas o pobre freud nele insiste,
Mas na realidade, algo mais atrabiliário:
É a mulher que tem o poder contrário
De enviuvar e que o túmulo consiste
No próprio corpo que ao másculo resiste
E até mesmo algo foi dito mais nefário:
Que de algum modo a mulher aproveitasse
A energia do homem para a reprodução
E depois de ter seus filhos o descartasse
Ou que ainda o temor mágico mostrasse
No alvo escuro de sua penetração,
Onde os dentes da esfinge se acharão.
Édipo
e a esfinge xi
Nessa
cultura helenística patriarcal
Havia
o temor daquela mãe terrível,
A
deusa-terra, cujo desejo horrível
Para
garantir das colheitas bom final
Ainda
cobrasse o derrame do arterial,
Por
sobre os campos, deixando-0 inatingível,
Se
lhe não fosse oferecido bem visível
Esse
corpo dilacerado em dom fatal.
Por
isso os gregos mantinham o gineceu,
As
mulheres em sua prisão dourada,
Que
seu poder fosse destarte enfraquecido,
Considerando
os homens o mundo como seu,
Por
mais que sua vida fosse igual sacrificada
Nessas
batalhas sem resultado definido.
édipo e a esfinge xii
ou talvez fosse interpretação mais inocente
daquela estátua egípcia tão imensa,
erguida em algum louvor de forma intensa,
com corpo de animal, a cabeça sendo gente,
junto à pirâmide erguida tão potente.
Seria a cabeça que ostentava sua presença
De um faraó com cabeleira densa
Ou de mulher poderosa e onipotente?
Quantas
centenas de esfinges mais
pequenas
Eram dispostas ao longo dos caminhos,
Que conduziam aos templos majestosos
Seriam a prole produzida em tais dezenas
Por essa esfinge-mãe de ocultos ninhos,
Sabe-se lá com quais intentos tenebrosos?
Édipo e a esfinge xiii – 14 agosto 2023
Em outra versão, ela ficou desapontada,
Quebrando as regras de seu próprio jogo:
“responde, homem, o meu segundo rogo:
Quem sou eu e como sou chamada?”
Pensou édipo na armadilha preparada,
Sem revelar seu pensamento logo:
“Tu és a esfinge?” queimando como fogo,
Essa resposta para sua morte calculada.
”Não, criatura, não penses que me enganas
Através desse artifício desonesto,
Para deixar-me devorar em desatino.
Com a primeira questão é que te irmanas,
Estátua falsa de poder funesto,
Por certo tens um nome – és o destino!”
Édipo
e a esfinge XiV
Vendo
assim desvendado o seu ardil,
A
criatura sua derrota percebeu;
Diz
o dramaturgo que nem assim reconheceu:
“Terás
de justificar a tua resposta varonil!”
“Quatro
patas, duas patas, três o homem senil,
Não
é assim que teu labirinto apareceu?
Ninguém
o fado da vida antes venceu,
Salvo
a morrer em idade juvenil.
Pois
até o mais forte dos guerreiros,
Ao
ser ferido durante uma batalha,
Precisa
de apoiar-se em um bordão,
Mesmo
que a ele carreguem companheiros
ainda
assim o seu destino não lhe falha:
Terceira
perna lhe empresta o seu irmão!”
Édipo e a esfinge xV
O que restou assim da maldição?
Provavelmente, ela se desintegrou;
De tão pesada, no abismo não saltou,
Deixando édipo o senhor da situação.
Ou quem sabe, na chegada da nação
Que vinha do norte, alguém a escutou,
Como resposta, a cabeça lhe quebrou
Com sua clava ou com a força do bordão!
o que eu estranho realmente é que no egito,
Com tantos deuses de cabeça de animal,
Por que essa esfinge com corpo de leoa?
Ostentando em rosto humano o olhar aflito.
Esta a pergunta que deixo no final
E que no fundo de minha mente ainda ressoa!
Nenhum comentário:
Postar um comentário