PLURIPOLIPSISMO I – 22 AGOSTO 2023
(Germaine Greer, a grande dama do feminismo,
autora de O Eunuco Feminino).
Há uma teoria em
que às vezes eu medito:
que o mundo era
mais simples no passado,
mas que por
alguns homens foi pensado
e a partir de
então assumiu maior conflito,
que algum artista
imaginou algo bonito,
que logo a seguir
se tornou realizado,
que o mundo fosse
algo mais idealizado,
sem se pensar em
qualquer sonho mais aflito.
É o pensamento
que alcança um novo nexo
e assim torna o
Universo inteiro mais complexo,
num ato quase de plurisolipsismo,
que muita gente
não pode acompanhar,
que me parece uma
ideia milenar,
uma contradição ao
antigo maniqueísmo. (*)
(*) Oposição entre
entidades do Bem e do Mal.
PLURIPOLIPSISMO II
Eu recordo que quando era adolescente,
em minha simplicidade até julgava
que amor apenas sonetos inspirava,
que nada houvesse em poesia mais potente.
Mas pouco a pouco, sem ser nada de repente,
minha opinião bem diversa se tornava,
em quantidade novos temas encontrava,
que outros usavam em estrofe diferente.
Crença encontrava neste sentido, sobretudo,
que o soneto era uma forma superada,
que tão somente ao amor era votada,
que outro formato deveria ser usado,
porém deveria algo novo a ser criado,
por mim, ao menos, recusado após estudo.
PLURIPOLIPSISMO
III
Mas se de fato
foi minha imaginação,
que reconheço
ser às vezes desvairada,
que transformou
o soneto em revoada,
usando temas de
mais ampla aplicação?
Foi Rutherford o
autor da criação
do modelo do
átomo, ou apenas encontrada
esta noção por
matemática aplicada
e depois dele,
Einstein e Niels Bohr em discussão?
Que
ampliaram tal modelo matemático,
de fato criando
um pluriverso mais complexo
e outros
teóricos de impulso tétrico
tornaram a noção
cada vez mais intrincada?
Será que cada
físico adiciona um novo nexo
e o torna real
após a ideia publicada?
PLURIPOLIPSISMO IV – 23 agosto 2023
Existe um pensamento muitas vezes
retomado
por certos filósofos de caráter
incomum.
Segundo estes, não existe ser algum,
apenas eles, por quem tudo foi criado.
Mesmo que o mundo lhes seja
atribulado,
por percalços e doenças, não há mais
nenhum,
seu inconsciente a contrariar o senso
comum,
para admitir que também o tenham
realizado.
Sem dúvida, seu julgamento é
contrariado
para que o mundo lhes pareça mais
real,
criado por deuses ou por seres
quaisquer,
mas na verdade tudo aquilo experimentado
derive de si mesmo, qual castigo
natural,
e que a tristeza seja um desejo que se
quer.
PLURIPOLIPSISMO V
É costumeiro denominar solipsismo
a esse desajustado sentimento,
que tudo existe pelo seu portento,
modificado consoante o seu modismo.
E novamente vemos o maniqueísmo,
Imaginar que algum mal de seu passado
o possa escravizar de modo inesperado,
criando nele um tal negativismo.
Também se encontra em potencial no marxismo,
que busca a humanidade inteira dominar
e até se arroga o direito de a criar
e assim Guevara, no seu romantismo,
queria o inteiro continente transformar,
na inteira forma de seu criacionismo.
PLURIPOLIPSISMO
VI
Mas o solipsismo
é posição contraditória.
Por que criar-se
um mundo assim perverso?
Por que
aceitar-se um fado sempre adverso,
que não lhe dê
possibilidade de vitória?
Contudo, se a
situação é meritória,
tal sentimento
pode mesmo ser reverso,
se tudo é bom,
por mim que foi converso,
sem mim a vida
seria em extremo inglória!
Porém é certo
que esse posicionamento
sempre haverá de
encontrar impedimento,
caso deseje
alguma coisa transformar
e nesse caso
surge estranho julgamento,
será um erro que
criou nesse momento
ou de outro modo
o próprio mal quis desejar.
PLURIPOLIPSISMO VII – 24 agosto 23
Há duas décadas lançaram um filme para
nós,
chamado de Matrix, em que todas as
pessoas,
não importa sendo maléficas ou ao
invés boas,
estavam ligadas a um mecanismo atroz
e de seus próprios sonhos a viver
empós;
se mostraste a devoção em muitas loas
ou em tristeza, tais imagens então
doas
para o alimento dessa entidade algoz.
Todos os sonhos em só corrente elos e
nós
por estas células do monstro
gigantesco,
por soro e vitaminas sustentadas,
sem perceber jamais se acharem sós,
mas de algum modo felizes no grotesco,
todas as mentes totalmente escravizadas.
PLURIPOLIPSISMO VIII
Seria este então o grão-solipsista,
que assim criara seu próprio universo,
partes de si em cada ser disperso
nas células que formavam sua conquista?
Eu, pessoalmente, não esposei tal vista,
nem de inteligência onisciente em pluriverso,
nem de um humano ter sido assim converso
em tal suprassumo de ideário comunista,
em que tudo pertencesse unicamente,
não à comunidade, mas sim a seu senhor,
que a vida inteira conservava a seu redor,
contudo em outro aspecto sou crente:
que universos criaram escritores,
desde Milton a Alighieri em seus horrores.
PLURIPOLIPSISMO IX
Cada qual a
conceber sua humanidade,
os seus
mistérios e recônditas paisagens,
a repetir seus
próprios personagens,
que só em sua
mente existiam de verdade,
Asimov, Heinlein, Bradbury em relialidade,
quantos romances
e novelas de passagens
deixaram para
trás em suas viagens,
temporárias que
fossem na inverdade?
Penso destarte
na Comédia Humana,
em Ponson de
Terrail e Rocambole,
nas tantas vidas
de Jules Verne e Maupassant,
cuja obra
contínua nos reclama
para um universo
que tudo o mais engole
e assim nos
prende em sua imensa criação!
PLURIPOLIPSISMO X – 25 Agosto 2023
Grandes poetas, como Neruda e Luiz
Delphino,
que nos deixaram tão vasta criação,
solipsistas seriam em seu próprio coração,
sem escutar da inspiração o sino?
Eu pessoalmente renego tal destino,
vezes sem conta já expressei minha
opinião
de quanto escrevo eu o fiz por doação,
sonhos soprados por qualquer alheio
tino.
Sei ser apenas um honesto lavrador,
que sempre planta a semente que
recebe,
tanto o que quer, como aquilo que não
pede;
se alheio solipsismo é de mim o
criador,
que então se manifeste no mais puro
ardor,
que a seu espírito o meu favor não
mede.
PLURIPOLIPSISMO XI
Porém voltando a nosso tema principal,
sempre confiei no inconsciente coletivo:
quanto mais seres humanos, mais ativo
e mais influencia este mundo natural.
Mas há um solipsismo em tal ponto geral:
que eu seja parte do instante redivivo
e de meus antepassados seja o crivo,
grande Ouroboros que dura até o final. (*)
(*) Serpente a morder a própria cauda na eterna recorrência.
Enquanto eu em breve não serei,
apenas ossos, se não for cremado,
como expressei meu desejo firmemente,
mas esta vasta herança deixarei,
por mais que bens não tenha acumulado
e que minhas cinzas se vão ao sol poente.
PLURIPOLIPSISMO XII
Existirá solipsismo
em Dionyso
ou, quem sabe,
solipsista foi Apollo?
As Nove Musas que
nos deu para consolo
não eram mais
que fragmentos de seu viso?
Perante os grandes
mestres não me aliso,
não sou Muslim,
porém me prostro ao solo,
nem sou padre,
estirado sem ter dolo,
à espera da
ordenação de puro aviso.
Somente sei que
por Alguém fui abençoado
com este Dom de
Línguas consagrado
e que, portanto,
a mim nada pertence,
somente espero
que sobre um resultado,
porque esta obra
minha própria morte vence,
que de minha
raça a real cultura adense.
PLURIPOLIPSISMO XIII – 26 Agosto 2023
Será que enfim a humanidade tão
somente
descreva as coisas que ali sempre
estiveram,
que ancestrais até mesmo conheceram,
mas sem serem reconhecidos pela gente?
O fato é que em período bem recente
tantas coisas os cientistas recolheram
de velhos fragmentos que a esmo se
perderam,
em papiros ou em pergaminho mais
potente.
Não fomos nós, então, que isso criamos:
Demócrito o átomo há muito conheceu,
Rutherford novamente o concebeu
e Einstein e Bohr repetiram dos
Romanos
e dos Helenos o que fora já esquecido,
quando o tempo certo foi de novo
adquirido?
PLURIPOLIPSISMO XIV
Sei que esperavam sonetos mais de amor,
pois tenho amor por todas as mulheres,
por homens também e pelos pequenos seres
que aqui prosseguirão quando eu me for
e assim espero de todo o seu vigor
novos progressos ao cumprirem seus deveres,
que não se gastem em falsos prazeres,
a vida a desperdiçar em tal horror.
Mas acredito que o inconsciente coletivo,
que Brahma, Júpiter, Jeová ou Alá,
o único Ser com razão solipsista,
aconselhar saiba cada seu filho adotivo
e a humanidade ao progresso levará
a tomar as decisões na melhor pista.
PLURIPOLIPSISMO XV
E se acaso for o
dom da humanidade
tudo criar que
exista a seu redor,
concebido o
Multiverso em complexo maior,
foi assim que a
criou a Divindade.
Não tenho
dúvidas sobre essa Imensidade,
que nos forjou
para seu próprio louvor,
mil avatares
assumindo em seu amor,
conforme a
humana de então capacidade.
Não acredito em
um final apocalipse,
como o interpretam
tantos convencidos;
será o Pralaya
apenas uma elipse
e um novo
Mahakalpa haverá de retornar, (*)
em novos sonhos
felizes ou sofridos,
num Pluriverso
que certamente há de voltar.
(*) O Sono de
Brahma entre duas Grandes Criações.
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