A
DANÇA DA SOLEDADE I – 12 NOV 2022
(Faye Dunaway, de "Bonnie and Clyde")
Amor
é forjado por uma solidão
inconformada
de permanecer em tal estado,
uma
segunda solidão para o seu lado
indo
atrair para buscar completação.
O
resultado dependerá nessa ocasião
de
um solitário ser por outro consolado
ou
ao invés disso, sentir-se desprezado,
mas
nem sempre irá brotar no coração;
a
solitária mais um ombro amigo quer,
o
solitário a desejar mais um abraço,
sempre
é possível que se queira só amizade,
coisa
aceitável entre homem e mulher,
por
mais que tantos acreditem simples laço
ser
algo fora do comum na realidade...
A
DANÇA DA SOLEDADE II
De
qualquer modo, é bem mais que a solidão,
bem
mais que pura ânsia pela posse;
há
mil razões, porém, qualquer que fosse,
preencher
buscam o vácuo da ilusão
e
algumas vezes, dessa pálida emoção,
sempre
é possível construir destino doce,
amor
gentil que a mente até remoce,
fortalecida
por suavidades de ocasião
e
seguindo antigas regras de um amor,
tantas
vezes partilhadas gentilezas,
amor
rebrote no vazio do coração,
crescendo
aos poucos, alimentado do calor
da
solidão em fogueira de tristezas,
metade
afeto, metade compaixão...
A
DANÇA DA SOLEDADE III
Mas
a que ponto existe desespero
nessa
ausência a que chamamos solidão?
Até
que ponto se ressente o coração,
após
o embate de algum desprezo feio?
Mas
nem sempre existiu descaso mero,
sempre
há alguém que jamais teve a noção
de
ser aceito ou de buscar paixão,
ao
trabalho ou profissão voltado o anseio.
Mas
o impulso que gera a biologia,
quase
todos impulsiona a procurar
alguém
que – bem ou mal – se possa amar;
a
busca por um par assim se cria,
que
amor não dê, por mais que amor se peça
ou
que se afaste depois que amor lhe cessa.
A DANÇA DA RARIDADE I – 13 NOV 22
Um amor puro é coisa rara de encontrar:
se achar algum, esconda num saquinho,
de onde aos poucos retirar, devagarinho,
para com ele o coração emulsionar
ou então para com outros partilhar;
existe amor que é só fruto de carinho,
existe amor de mãe em descaminho,
qual amor físico sobre alguém depositar.
Assim nem sempre o amor ali perdura,
às vezes mofa, se não for usado
ou se resseca, sem achar seu objeto,
mas como é bom se o suprimento dura
e ainda aumenta quando partilhado,
nesse tempero que se mescla com afeto!
A DANÇA DA RARIDADE II
Amor pode ser a fita de um buquê,
de um chocolate a simples embalagem,
também pode ser empregado com
trucagem,
só um polvilho no prato que se dê,
mas amor pode ser o bolo da viagem,
bem misturado na receita que se lê,
farinha e açúcar na mistura então se
vê,
como um sabor especial para a carruagem;
ou amor pode ser o perfume de um
lençol,
ou a lavanda pingada ao travesseiro
ou até mesmo a proteção de um
parassol,
ou ainda a limpeza que se faz no chão
ou o detergente aerossolado no
banheiro,
tudo depende de entender a sua
intenção.
A DANÇA DA RARIDADE III
Mas nunca deixes esvaziar-se o teu
saquinho,
sempre haverá um momento de tristeza,
o teu amor poderá dele precisar,
deixa pingar em sua cabeça com
carinho,
que em teu peito vá deitar
devagarinho,
que mal perceba esse polvilho de
leveza,
mas se surpreenda no momento de
aliviar
a melancolia que ali cravou molesto
espinho;
e guarda um pouco para ti também,
sempre haverá um momento de vazio,
quando o podes injetar no coração,
tendo surpresa nesse alívio que te
vem,
o pó das fadas a fantasmar teu brio,
por mais que saibas seja apenas
ilusão!
A DANÇA DA DANÇA I – 14 NOV 2022
Dança comigo até o final do amor,
longamente seja pela dança
adiado,
dança comigo em passo delicado,
cada compasso um gesto de favor;
dança comigo em passo de louvor,
que seja pelo ouvido inteiro
captado,
no corpo inteiro que ser possa
escutado,
em concêntricas ondas de calor,
um corpo contra outro ali apoiado,
talvez somente com a máxima
ternura,
talvez apenas com desejo controlado,
um rosto apenas contra ombro
consolado,
nessa dolência de uma dança pura,
talvez não mais que um sonho inadequado.
A
DANÇA DA DANÇA II
Não
se pode ensinar a cor azul para algum cego,
nem
para um surdo explicar a sinfonia
ou
um sabor a quem nenhum gosto sentia
ou
um odor a quem não tem do olfato apego;
não
se ensina a calma a quem não tem sossego,
nem
o que seja amor a quem não o conhecia,
nem
a verdade a quem sempre te mentia,
nem
se montar confiança com peças de Lego;
pois
mesmo ao demonstrar quem os possui,
não
significa que se possa compreender,
nem
que por cópia se lhe possa pertencer,
já
que só informação não se usufrui
e
conhecer quanto a outrem só se enseja
talvez
desperte não mais que triste inveja...
A
DANÇA DA DANÇA III
Será
inútil lamentar-se para ouvidos
que
por tua dor não sentem empatia;
buscam
primeiro um sinal de simpatia
ou
teus lamentos serão só aborrecidos;
serão
consolo e alegria concedidos
somente
por alguém que antes sofria,
que
de algum modo livrar-se conseguia
desses
tormentos individuais e indefinidos.
Pois
quem jamais sentiu males de amor,
nunca
consegue os de outrem avaliar
e
muito menos com tais simpatizar
ou
alguém queira em oposto o teu favor,
que
te disponhas a escutar o seu lamento,
nessa
dança consensual do sofrimento!
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