domingo, 13 de novembro de 2022


 

 

O ENIGMA DO IATROGÊNICO I – 6 NOV 2022

(Doença originada por ato médico.)

(Na ilustração, Ainsley Seiger, atriz contemporânea)

 

Acometeu-me outra vez a nevralgia

que quase havia esquecido no passado,

um tratamento diário a pôr de lado,

articulações macias já sentia...

Mas me veio essa pressão de maresia,

uma onda de calor, sinal pressago,

a cumprir as profecias deste mago

satélite que as nuvens percutia. 

 

E a dor antiga se manifestou,

sem ter um ponto apenas limitado,

mas alegremente forjando meu desgosto,

já uma semana seu dom me atormentou,

seu antigo âmbito mais intensificado

nessas horas em torno do sol posto...

 

O ENIGMA DO IATROGÊNICO II

 

É tão somente um efeito bioclínico

que nos demonstra deficiência de saúde,

nessas tabelas de solerte alude,

revestidas da estatística de um cínico,

em resultados que nos causam pânico,

sem que nada da moléstia nos escude,

que nossa vida inteiramente mude,

sem que haja lenitivo ou qualquer tônico.

 

Sorri o médico ao mistério resolvido,

corre as cortinas do labirinto cênico

e escreve a prescrição para a doença,

que nunca antes se havia percebido,

nesse triunfo do ato iatrogênico,

baseado puramente em falsa crença...

 

O ENIGMA DO IATROGÊNICO III

 

Mesmo o câncer já hoje se suspeita

ser provocado por um tratamento;

adormecido, não se torna violento

esse tumor que o sangue nosso aleita;

mas vem o médico e prescreve uma receita,

entram mil drogas junto com o alimento,

o organismo percorrem num momento,

nessa falácia que a imperícia ajeita...

 

E é então que desperta no paciente

aquela garra oculta e sem malícia,

que tais medicamentos fortalecem;

e é por isso que existe tanta gente

que foge ao consultório em pudicícia,

antes que  tratamento médico lhe dessem!

 

O ENIGMA DO ARREBATAMENTO I – 7 NOV 22

 

Surgiu a ideia do arrebatamento

mais ou menos dois séculos atrás:

alguns iriam para a eterna paz,

sem da morte enfrentar o passamento,

mas Heinlein encarou com desalento

essa imagem que a tantos satisfaz:

iria o corpo de matéria tão voraz

para um vasto paraíso num momento?

 

Por que esse apego ao corpo material,

contradição às epístolas paulinas,

em que a ressurreição é espiritual?

Talvez com base em afirmação casual,

que de alguns seriam diversas sinas,

sem o aguilhão acabrunhante do mortal!

O ENIGMA DO ARREBATAMENTO II

 

Mas de que forma se faria essa passagem?

Sempre há raízes de cunhos orientais,

alguns levados aos espaços siderais,

sem o desgaste da final voragem;

interpretaram alguns esta viagem

como OVNIs de características materiais,

que alienígenas benignos e imortais

nos transportassem de planetas à paisagem.

 

Ou que algum dia a própria humanidade,

artefatos independente desenvolva

e nos leve a ocupar outros mil mundos;

não seria a vida eterna, na verdade,

mas salvação de um meteoro que revolva,

direto à Terra, dos espaços mais profundos...

 

O ENIGMA DO ARREBATAMENTO III

 

Mas se esse fosse esse o tal arrebatamento,

seriam os corpos primeiro registrados,

trinta anos ou mais a serem transportados,

não por qualquer espiritual merecimento,

mas só por méritos físicos, a contento,

que assim pudessem ser longo preservados,

até os destinos predeterminados,

nessa expansão do humano movimento?

 

Cada qual tendo um portfólio autenticado,

retratos, perícias, qualificações,

quem sabe em pasta de verde cartolina?

Ou seria tudo em holleriths demarcado,

ou em minúsculo quartzo registrado,

que ao restaurar de seu corpo se destina?

O ENIGMA DO ARREBATAMENTO IV

 

Sem dúvida, cada um seria mudado,

nesse registro não só do deeneá,

mas dos conteúdos cerebrais que nele há,

muito mais fácil de ao cosmos ser levado...

Mesmo na Terra o corpo a ser deixado,

toda a lembrança ali se encontrará,

até o ponto que o binário comporá,

falecimento sem ser experimentado.

 

Porém o corpo na Terra ainda perdura

e quem nos diz que tal consciência pura

de alma e espírito será o equivalente?

Literalmente será um arrebatamento:

cópia do corpo ou roubo fraudulento,

enquanto a morte continuaria presente!

 

O ENIGMA DO ARREBATAMENTO V

 

Mas teu esforço ao longo desta estrada,

a luta permanente pelo odor

de santidade em uma ética incolor,

que mortalha não evita e leva a nada;

madrépora gentil, condão de fada,

na contração dos músculos o suor,

a mente perfurada em jovem dor,

são dezenas de degraus nessa tua estrada.

 

E o fardo gentil que te aproxima

de um novo mundo em senda peregrina,

alarga sempre o sulco de teus pés,

nessa escala multicor que assim se rima,

tear das Parcas decantando a sina,

no fuso do que fosto e ainda és.

O ENIGMA DO ARREBATAMENTO VI

 

Porém se acaso encontras injustiça

nessa escolha sem espiritual interferência,

só pelo mérito da física potência,

diversa consideração desce a essa liça;

não é um mérito algum que a alma eriça,

está bem clara a Escritura em sua discência,

porém a Graça que confere toda a essência

da Salvação, independente da Justiça.

 

E nesse caso, não há grande diferença:

se alguém possuir a graça da saúde,

então merece ser assim arrebatado

e pouco importa todo o esforço de sua crença,

porque bem clara a Escritura nos alude

que a Graça é o dom gratuito mais sagrado.

 

O ENIGMA DO ESPAÇO-TEMPO I – 8 NOV 2022

 

No real, tudo depende de um conceito,

o tempo é partilhado por humanos,

os milênios calculados por enganos,

como aos anos coletar tendo direito,

que os animais não calculam desse jeito,

seus dias passam como água por canos,

não os registram em lisos portulanos,

pensar em tempo nos pertence por defeito.

 

Certamente nossa noção de um Universo

como durando por bilhões de anos-luz,

depende apenas do suposto movimento

de uma centelha luminosa em controverso

expandir, pois para nós nada reluz:

é circular a expansão de seu portento.

 

O ENIGMA DO ESPAÇO-TEMPO II

 

Mas nesse espaço-tempo imaginado

mede-se o tempo pelo movimento

de um raio de luz no firmamento,

o tempo é apenas o espaço ultrapassado,

mas cada raio foi circularizado,

para onde vai a esfera em andamento,

que nós somente captamos um momento,

porém se elança ao redor descompassado.

 

Qual é o tempo que poderá ser revelado

nessas mil direções da trajetória?

Para onde vão as centelhas sem história

das miríades de fagulhas no alcandorado

limite de anos-luz de imensa glória,

que tempo criam nesse espaço inconquistado?

 

O ENIGMA DO ESPAÇO-TEMPO III

 

Esse pontinho de luz que percebemos

nos limites de nosso espaço sideral

também se expande para além desse vitral,

brilha a centelha nesse além que concebemos?

Por certo existe espaço que não vemos,

mas qual é a escala que nos dá esse fanal?

Se não o vemos, existirá mesmo no final

ou o pluriverso somos só nós que preenchemos?

 

Será que além do tempo e espaço que criamos

não mais existe que um simples ponto quântico

e de fato apenas nele nos achamos?

Ou o multiverso tem de fractais os ramos,

dominados por nosso esforço mântrico

ou nos domina por que ali nos encontramos?

 

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