O
ENIGMA DO IATROGÊNICO I – 6 NOV 2022
(Doença
originada por ato médico.)
(Na ilustração, Ainsley Seiger, atriz contemporânea)
Acometeu-me
outra vez a nevralgia
que
quase havia esquecido no passado,
um
tratamento diário a pôr de lado,
articulações
macias já sentia...
Mas
me veio essa pressão de maresia,
uma
onda de calor, sinal pressago,
a
cumprir as profecias deste mago
satélite
que as nuvens percutia.
E
a dor antiga se manifestou,
sem
ter um ponto apenas limitado,
mas
alegremente forjando meu desgosto,
já
uma semana seu dom me atormentou,
seu
antigo âmbito mais intensificado
nessas
horas em torno do sol posto...
O ENIGMA DO IATROGÊNICO II
É tão somente um efeito bioclínico
que nos demonstra deficiência de saúde,
nessas tabelas de solerte alude,
revestidas da estatística de um cínico,
em resultados que nos causam pânico,
sem que nada da moléstia nos escude,
que nossa vida inteiramente mude,
sem que haja lenitivo ou qualquer tônico.
Sorri o médico ao mistério resolvido,
corre as cortinas do labirinto cênico
e escreve a prescrição para a doença,
que nunca antes se havia percebido,
nesse triunfo do ato iatrogênico,
baseado puramente em falsa crença...
O ENIGMA DO IATROGÊNICO III
Mesmo o câncer já hoje se suspeita
ser provocado por um tratamento;
adormecido, não se torna violento
esse tumor que o sangue nosso aleita;
mas vem o médico e prescreve uma receita,
entram mil drogas junto com o alimento,
o organismo percorrem num momento,
nessa falácia que a imperícia ajeita...
E é então que desperta no paciente
aquela garra oculta e sem malícia,
que tais medicamentos fortalecem;
e é por isso que existe tanta gente
que foge ao consultório em pudicícia,
antes que tratamento médico lhe dessem!
O
ENIGMA DO ARREBATAMENTO I – 7 NOV 22
Surgiu
a ideia do arrebatamento
mais
ou menos dois séculos atrás:
alguns
iriam para a eterna paz,
sem
da morte enfrentar o passamento,
mas
Heinlein encarou com desalento
essa
imagem que a tantos satisfaz:
iria
o corpo de matéria tão voraz
para
um vasto paraíso num momento?
Por
que esse apego ao corpo material,
contradição
às epístolas paulinas,
em
que a ressurreição é espiritual?
Talvez
com base em afirmação casual,
que
de alguns seriam diversas sinas,
sem
o aguilhão acabrunhante do mortal!
O ENIGMA DO ARREBATAMENTO II
Mas de que forma se faria essa passagem?
Sempre há raízes de cunhos orientais,
alguns levados aos espaços siderais,
sem o desgaste da final voragem;
interpretaram alguns esta viagem
como OVNIs de características materiais,
que alienígenas benignos e imortais
nos transportassem de planetas à paisagem.
Ou que algum dia a própria humanidade,
artefatos independente desenvolva
e nos leve a ocupar outros mil mundos;
não seria a vida eterna, na verdade,
mas salvação de um meteoro que revolva,
direto à Terra, dos espaços mais profundos...
O ENIGMA DO ARREBATAMENTO III
Mas se esse fosse esse o tal arrebatamento,
seriam os corpos primeiro registrados,
trinta anos ou mais a serem transportados,
não por qualquer espiritual merecimento,
mas só por méritos físicos, a contento,
que assim pudessem ser longo preservados,
até os destinos predeterminados,
nessa expansão do humano movimento?
Cada qual tendo um portfólio autenticado,
retratos, perícias, qualificações,
quem sabe em pasta de verde cartolina?
Ou seria tudo em holleriths demarcado,
ou em minúsculo quartzo registrado,
que ao restaurar de seu corpo se destina?
O ENIGMA DO ARREBATAMENTO IV
Sem dúvida, cada um seria mudado,
nesse registro não só do deeneá,
mas dos conteúdos cerebrais que nele há,
muito mais fácil de ao cosmos ser levado...
Mesmo na Terra o corpo a ser deixado,
toda a lembrança ali se encontrará,
até o ponto que o binário comporá,
falecimento sem ser experimentado.
Porém o corpo na Terra ainda perdura
e quem nos diz que tal consciência pura
de alma e espírito será o equivalente?
Literalmente será um arrebatamento:
cópia do corpo ou roubo fraudulento,
enquanto a morte continuaria presente!
O
ENIGMA DO ARREBATAMENTO V
Mas
teu esforço ao longo desta estrada,
a
luta permanente pelo odor
de
santidade em uma ética incolor,
que
mortalha não evita e leva a nada;
madrépora
gentil, condão de fada,
na
contração dos músculos o suor,
a
mente perfurada em jovem dor,
são
dezenas de degraus nessa tua estrada.
E
o fardo gentil que te aproxima
de
um novo mundo em senda peregrina,
alarga
sempre o sulco de teus pés,
nessa
escala multicor que assim se rima,
tear
das Parcas decantando a sina,
no
fuso do que fosto e ainda és.
O ENIGMA DO ARREBATAMENTO VI
Porém se acaso encontras injustiça
nessa escolha sem espiritual interferência,
só pelo mérito da física potência,
diversa consideração desce a essa liça;
não é um mérito algum que a alma eriça,
está bem clara a Escritura em sua discência,
porém a Graça que confere toda a essência
da Salvação, independente da Justiça.
E nesse caso, não há grande diferença:
se alguém possuir a graça da saúde,
então merece ser assim arrebatado
e pouco importa todo o esforço de sua crença,
porque bem clara a Escritura nos alude
que a Graça é o dom gratuito mais sagrado.
O
ENIGMA DO ESPAÇO-TEMPO I – 8 NOV 2022
No
real, tudo depende de um conceito,
o
tempo é partilhado por humanos,
os
milênios calculados por enganos,
como
aos anos coletar tendo direito,
que
os animais não calculam desse jeito,
seus
dias passam como água por canos,
não
os registram em lisos portulanos,
pensar
em tempo nos pertence por defeito.
Certamente
nossa noção de um Universo
como
durando por bilhões de anos-luz,
depende
apenas do suposto movimento
de
uma centelha luminosa em controverso
expandir,
pois para nós nada reluz:
é
circular a expansão de seu portento.
O ENIGMA DO ESPAÇO-TEMPO II
Mas nesse espaço-tempo imaginado
mede-se o tempo pelo movimento
de um raio de luz no firmamento,
o tempo é apenas o espaço ultrapassado,
mas cada raio foi circularizado,
para onde vai a esfera em andamento,
que nós somente captamos um momento,
porém se elança ao redor descompassado.
Qual é o tempo que poderá ser revelado
nessas mil direções da trajetória?
Para onde vão as centelhas sem história
das miríades de fagulhas no alcandorado
limite de anos-luz de imensa glória,
que tempo criam nesse espaço inconquistado?
O ENIGMA DO ESPAÇO-TEMPO III
Esse pontinho de luz que percebemos
nos limites de nosso espaço sideral
também se expande para além desse vitral,
brilha a centelha nesse além que concebemos?
Por certo existe espaço que não vemos,
mas qual é a escala que nos dá esse fanal?
Se não o vemos, existirá mesmo no final
ou o pluriverso somos só nós que preenchemos?
Será que além do tempo e espaço que criamos
não mais existe que um simples ponto quântico
e de fato apenas nele nos achamos?
Ou o multiverso tem de fractais os ramos,
dominados por nosso esforço mântrico
ou nos domina por que ali nos encontramos?
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