O
ENIGMA DO ESCALER I – 9 NOV 2022
(Arthur Pendragon Excalibur O'Camelot)
Quando
um amor se faz muito comprido
será
preciso podar-lhe algumas cunhas;
talvez
se empregue um cortador de unhas,
que
contra o peito seja comprimido;
mas
cada farpa cortada, aonde a punhas?
Todas
são farpas de um amor descontraído,
sendo
em excesso tal amor desenvolvido,
verás
que existem muitas mais do que supunhas!
Que
não se pense, porém, seja absurdo
que
amor possa destarte ser podado,
com
o tempo, amor se torna calejado
e
a cada apelo de conter-se faz-se surdo,
que
um grande amor não pode ser cerceado,
quando
se expande, é o corpo inteiro dominado!
O
ENIGMA DO ESCALER II
Bem
gostaria de, em escaler de espuma,
achar
caminho para teu coração;
perigo
existe, porém, na situação,
seria
uma bolha de ar que ao alvo ruma!
Nem
há certeza de que tal destino assuma
meu
escaler de tão frágil feição,
talvez
se perca no sendeiro do pulmão
e
em expiração bem facilmente suma!
Estas
imagens ou metáforas que invento
bem
poderão ser gentilmente interpretadas,
são
ideias de carinho em quase-nadas,
que
brotam tolas sem qualquer impedimento,
mas
cujas flores não quero ver podadas,
nem
que sossobre o escaler no sentimento.
O
ENIGMA DO ESCALER III
Imaginar
que o coração seja podado
pela
exclusão parcial de um sentimento
não
é metáfora de meu próprio julgamento,
sempre
alguém mais a terá antes usado
e
imaginar que ao coração, nalgum momento,
um
escaler de espuma possa ali ser ancorado,
tampouco
é algo totalmente desusado,
embora
à imagem dê um novo tratamento,
porém
o ritmo de meu braço se acha lento,
meu
ombro direito há dias eu lesei,
quem
sabe o cérebro igualmente lesarei?
Melhor
então registrar meu pensamento
enquanto
a mente pilota esse escaler,
sem
dela se aparar farpa sequer!
O
ENIGMA DOS CÍRCULOS I – 10 NOV 22
Esperar
é algo intangível. Qualquer dia,
embora
possa nos seus desenganos
aparentar
a duração de anos,
na
afetação de uma longa nostalgia,
também
nos pode, em instante de agonia,
durar
horas apenas, quando os panos
da
mortalha que nos envolve com seus danos
parecem
apagar-se em luz vazia,
mas
a espera é inominável na elegia,
se
nos conduz a um paraíso feio,
em
que o bem que se descobre é bem alheio
ou
em que o mal que era de outrem nos vigia,
enquanto
o tempo escorre de permeio
e
o espaço preguiçoso nos espia...
O
ENIGMA DOS CÍRCULOS II
Tudo
na vida são círculos concêntricos
que
se espalham e não voltam nunca mais;
ainda
refluem parcialmente dos beirais,
mas
o que volta são sulcos mais excêntricos,
que
de leve nos abalam, tectocêntricos,
esses
tremores eticosos ou morais,
quando
deformam para mais inaturais
os
nossos círculos mais antropocêntricos
e
assim o que dizemos ou fazemos,
que
nosso entorno deveria influenciar,
é
muito mais por ele influenciado;
e
quando temos o que mais queremos,
vemos
que o mundo acabou de o deformar
e
só nos deu um arremedo do esperado.
O
ENIGMA DOS CÍRCULOS III
Assim
é o amor pelo ser que mais queremos
por
igual feito de altos e de baixos,
tempos
se encontram de atração em cachos,
existem
dias de atração somenos,
tal
como pedra que em lagoa lancemos,
concêntricos
círculos fortes ou mais lassos,
a
distribuir alternativas por espaços
e
a crista da onda onde era o fundo vemos,
que
amor é qual pedrinha assim lançada,
parece
às vezes em seu auge estar,
porém
chega o nadir e ocupa o seu lugar,
cada
clímax com sua fase desmaiada,
cada
desânimo em entusiasmo a se tornar,
enquanto
a pedrinha do amor marca o lugar.
O
ENIGMA DO GATOTÓRIO I – 11 NOV 2022
Havia
dois gatos em minha casa, persa a raça,
a
fêmea tinha pelo longo e acinzentado;
já
o macho, pobrezinho, foi castrado,
tornou-se
grande e forte, que pirraça!...
Os
dois moviam-se em bamboleante graça,
ele
tinha o pelame bem mesclado,
na
gradação entre o branco e o acastanhado,
mas
chegada a primavera, que desgraça!
Pois
iniciavam a sua mudança anual,
a
casa inteira inundada com seu pelo,
à
empregada deixando em desacato!
Mas
para mim era o esparramo natural,
pois
soltava mechas ao aparar o meu cabelo
e
depois a culpa punha em qualquer gato!
O
ENIGMA DO GATOTÓRIO II
O
tempo foi passando e foi Saphira
carregada
por errôneo tratamento;
fôra
o correto, talvez seu passamento
por
vários anos não se permitira.
Mas
uma caixa que por correio gira,
trazendo
livros para meu ensinamento
ou
discos para o encanto de um momento,
em
ataúde de papelão se vira...
O
jardineiro ergueu algumas leivas
de
um canteiro, as flores com raízes,
e
lá foi depositado o recipiente,
provavelmente
alimentando as seivas
das
mesmas flores afrontando as crises,
sem
que jamais miassem, certamente!
O
ENIGMA DO GATOTÓRIO III
Porém
Arthur, que parecia um lorde inglês,
ainda
por bom tempo perdurou;
nos
degraus da escada frequente me atacou,
mais
atenção a querer de cada vez!
Ou
então subia ao escritório em que me vês,
de
certa feita dois copos me quebrou,
quando
na prateleira de baixo penetrou,
curioso
sempre, como tu que ora me lês!
Enfim
chegou sua vez, pobre bichano,
parecia
o seu final estar prevendo,
por
uma semana não saía de meu lado,
julgo
partiu para o seu pago arcano,
que
almas felinas possa estar contendo,
por
gato algum depois dele a ser amado!
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