(DEE TURNELL & ELIZABETH TAYLOR)
DIVERSIDADE
I – 1º JAN 2022
A
tua noção do tempo é individual,
do
mesmo modo que tuas recordações;
não
existem dois a nutrir iguais noções,
nossa
lembrança de um fato é desigual;
eu
me recordo do tempo imemorial
em
que reuníamos nossos corações
e
a carne inteira em amplas ilusões,
mas
minha lembrança não é material.
Lembro
a lembrança que ontem recordei
e
esta já era uma lembrança recordada
de
outra semana em que foste invocada
com
tal firmeza que a memória então gravei,
mas
mesmo esta já era a imagem de outro dia
e
não daquele que entre meus braços te acolhia.
DIVERSIDADE
II
Do
mesmo modo, recordas diferente
o
prévio dia em que nosso amor brotou;
tua
memória a lembrança te invocou
do
que teus olhos encontraram pela frente
e
de igual modo, se lembraste bem frequente,
a
cada dia algo dali se transformou:
lembraste
o dia em que a lembrança retornou
e
não o dia em que a lembrança fez-se assente.
A
única coisa que lembramos por inteiro,
sem
que seja claramente anuançada
é
a memória que já esquecida fôra,
pois
só te lembras do momento derradeiro,
quando
a lembrança foi dele abandonada
e
de repente te explode em luz agora.
DIVERSIDADE
III
Assim
te lembras do que lembras tão frequente,
mas
não é o dia que mais querias recordar;
cada
nova lembrança faz a antiga desvairar,
não
é mais a recordação do antigamente,
pois
se dela te recordas, é em tua mente,
só
ali a lembrança se pode relembrar,
já
colorida por tanta vez do teu lembrar
e
não é mais a minha lembrança certamente.
Assim
o tempo que recordo é apenas meu,
por
tantas vezes em que já o elaborei,
porque
jamais consigo te esquecer;
mas
se olvidaste o quanto um dia fui teu,
bem
lá no fundo de tua mente encontrarei
só
o que de mim guardaste sem querer.
MOSCALIDADE
I – 2 JAN 2022
Olho
Mau, eu te arrenego,
Vai-te
para Belzebu,
Por
ti Pedro Labatut
Caiu
duro como um prego! (*)
(Esta
quadrinha do século XIX afirma que Vidigal,
o
chefe da polícia do Rio de Janeiro, teria ordenado
a
morte do Marechal Pedro Labatut, herói da nossa
Guerra
da Independência, no nordeste brasileiro.)
Em
um lugar da Jordânia havia antigamente
o
santuário de Ekron, em que buscavam
um
oráculo tantos quantos ali confiavam
o
seu destino de forma impertinente;
entre
os Hebreus se dizia comumente
ser
um demônio que nos santuários adoravam
os
que a saber do destino ali andavam,
contra
o Mandamento de Jeová integralmente!
O
deus de Ekron “Baal-Zevuv” era chamado,
ou
“Deus da Mosca” e muitos afirmavam
que
um meteoro havia caído ali
e
tal pedaço do céu era adorado
como
o deus poderoso que invocavam,
que
a previsão do porvir chamava a si.
MOSCALIDADE
II
Mas
por que de Deus das Moscas o chamavam,
ou
Baal-Zevuv? Havia então quem afirmasse
que
velhos esporos de moscas carregasse,
dos
quais as moscas do passado resultavam;
é
improvável que ovos de mosca assim enfrentavam
a
atmosfera pela qual se atravessasse,
que
um meteoro quase total se desagregasse,
pois
as camadas do ar os requeimavam!
Podemos
achar uma outra explicação:
sacrifícios
eram frequentemente realizados
e
mesmo humanos ali eram degolados
e
o sangue atraía vasta multidão
desses
insetos, a quem os sacerdotes
fielmente
adoravam quais mascotes!
MOSCALIDADE
III
É
bastante conhecido que animais
pelos
antigos tenham sido ali adorados;
crocodilos
foram até mumificados
em
templo egipcio de colunatas triunfais.
Até
hoje na Índia são bastante naturais
os
macacos que a Hanuman são consagrados
e
noutro templo, ratos são alimentados;
que
moscas protegessem nem se estranha mais!
Mas
o fato é que o nome “Belzebu”
ao
ser maligno é aplicado com frequência:
surgiu
então e até hoje é mencionado!
Não
que as moscas só procurem sangue cru,
mas
certamente nos provam a paciência,
quando
em nossos próprios rostos têm pousado!
PERMEABILIDADE
I – 3 JAN 2022
A
cada dia, um pouco falecemos,
nossa
própria respiração nos envelhece;
nosso
presente não tem piedade e desce
verso
ao antanho, que inteiro já perdemos;
por
mais que contra tal nos revoltemos,
não
existe nas igrejas qualquer prece
que
o passado nos retornar pudesse:
sob
esse peso é necessário nos curvemos!
Não
saberei se de nascença existirá
um
certo número de dias garantido:
que
“ninguém morre antes” é o ditado;
mas
cada dia que nos chega passará,
sem
que possa jamais ser repetido,
nesse
monturo do antanho acumulado!
PERMEABILIDADE
II
Mas
certa coisa para mim não envelhece:
é
este amor que sinto ainda por ti,
que
foi o mesmo amor que então senti,
que
não desgasta e que até mesmo cresce!
Amor
é essa armadilha que nos desce
e
que através da história sempre vi;
em
cada ponto do passado o vejo ali:
nos
corações quão abundante coalesce!
Então
eu busco, ao tomar minhas decisões,
retomar
esse fio condutor mais uma vez,
pondo
de lado as escolhas secundárias,
tudo
o mais descartando, as ambições,
outras
conquistas perdidas mês a mês,
que
a tal amor pudessem ser contrárias...
PERMEABILIDADE
III
Assim
consigo manter o amor vigente,
mesmo
perdido o amor do meu passado;
diverso
o amor em meu presente revelado,
mas
por ti é igual amor inteiramente;
lá
no antanho o velho amor é complacente,
em
suas camadas e estratos conservado;
só
lembro o amor ali acumulado,
longa
lembrança que o atual amor pressente...
Mas
como saberei se o amor futuro,
a
que escolho diariamente com prazer
é
o mesmo amor ancestral que já senti?
Só
na intenção é que seja sempre puro,
que
qualquer seja o novo amor a reviver,
tal
permaneça qual o consagrado a ti!...
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