sábado, 8 de janeiro de 2022

MITZI GAYNOR, ATRIZ E NOBRE AUSTRÍACA.
 

ROMANCIDADE I – 4 JAN 22

 

Enquanto não és minha é que te abraço;

caso eu te abrace, serás realidade;

se não te abraço, pela eternidade

permanece bem mais firme o antigo laço;

por isso, nem me esforço por teu passo

acompanhar com o meu na claridade;

caminho junto a ti na obscuridade:

o sonho é meu e como o quero eu faço.

 

Mas eu queria, sim, trocar meu sonho

pelas fímbrias dos teus, mesmo que fosse

tão somente no desgaste de um momento;

queria, sim, por mais fosse bisonho,

trocar todos os sonhos de minha posse,

mesmo que fosse por um amor de sofrimento.

 

ROMANCIDADE II

 

Este ideal feito de puro romantismo

não provém de covardia ou de ilusão;

na verdade, mesmo em certo nihilismo, (*)

contraria de minha raça a evolução;

sem buscar amor em seu materialismo,

certamente não causarei reprodução;

mas me recuso ao ditatorialismo

de minha espécie, em sua cega alternação.

(*) Negacionismo

 

Se os meus gens eu transmito, como sei

que meus herdeiros os reproduzirão

ou de que forma misturá-los-ão?

A Natureza é arguta em cada lei,

mas a que ponto obedecê-la é meu ideal?

Por que só o processo da reprodução carnal?

 

ROMANCIDADE III

 

Pois quando escrevo versos, reproduzo

o meu genoma mental e espiritual

e a milhares eu concederei seu uso

de uma forma muito além do material;

mas meu amor não é só sentimental

e nem físico tão somente no seu fuso;

bordo mil fios em minha roca consensual,

adormecido o amor carnal em seu desuso.

 

Mas em cem anos, beijarão algum soneto

e claramente suspeitarão de meu amor,

preso em tais versos, porém sem ser secreto,

pois neles serás minha eternamente,

enquanto de um terceto houver leitor,

bem mais que amor em carne impermanente.

 

FLORICIDADE I – 5 JAN 2022

 

Essas flores que colocas no teu vaso

deixaram de cumprir a sua função:

não perfumam para ti, irmã ou irmão

e nem nos campos brotaram por acaso;

desejar a sua beleza é ideal bem raso:

talvez me digas que depressa murcharão,

mesmo em seu caule, sem intervenção,

mas pensa bem, que não é igual o caso.

 

A flor que brota no prado ou no canteiro

desabrochou para vital polinização,

não para satisfazer o teu olhar;

sua função é reprodutiva por inteiro,

estames e pistilo em cada floração,

não tem aromas só para te agradar.

 

FLORICIDADE II

 

O pólen é um agregado de sementes,

mas pouco serve se cair ao chão

nos arredores da primeira brotação

de suas origens, mesmo intermitentes;

pedem aos zéfiros, então, indiferentes,

que o transportem para longa direção,

na esperança de encontrar a comunhão

de outras plantas por igual equivalentes.

 

Mas esse pólen, majoritariamente,

cai sobre a terra e ali é devorado,

quase que só atinge o alvo por acaso;

assim a planta, nada inocentemente,

forma o perfume e o néctar sagrado,

para aos insetos seduzir antes do ocaso.

 

FLORICIDADE III

 

E um novo truque apresenta, em seu rebento,

formando flores de gentil coloração

ou em pétalas de gigantesca carnação,

que os insetos as encontrem num momento;

seria inútil se a abelha, em seu portento

ou o rouxinol levassem sua polinização

a uma espécie de diferente criação

e assim a flor chama a atenção de seu alento.

 

Porque após já ter pousado em alguma flor,

não vai o inseto empós de outra qualquer,

porém sempre de uma da mesma floração;

e caso a cortes só para o teu primor,

não se irá reproduzir e nem sequer

que um beija-flor venha a teu vaso em ilusão.

 

CELULARIDADE I – 6 JAN 22

 

Como há tantas, existe uma teoria

que ainda não foi totalmente comprovada:

que boa parte dos gens da célula serviria

como controle à mutação desordenada;

que do deeneá tão somente a minoria

seria à direta reprodução designada;

para outra função o restante então seria,

que ainda nao foi plenamente decifrada.

 

Como os neutrinos e o vento solar,

os raios cósmicos e mais outras radiações

constantemente nos vêm atravessar,

pequenas trocas no genoma vão causar,

formando assim as constantes mutações,
que mal ou bem nos poderão causar.

 

CELULARIDADE II

 

Conforme ocorre, o nosso deeneá

corretamente reproduz ao ser humano,

do mesmo modo que por igual resultará

duplicação de qualquer ser outro sem dano,

que em seu nicho ecológico estará

perfeitamente adaptado e sem afano;

em novas gerações igual produzirá

esse fenótipo qual estampado pano.

 

As mutações, em geral, são recessivas

e controladas por alelos dominantes,

mas no genótipo esta a hora da verdade

e as características dominadas recidivas

podem surgir, inesperadas, em instantes,

para o bem ou para o mal em variedade.

 

CELULARIDADE III

 

Contudo ocorre que o ambiente, às vezes, muda

e o fenótipo anterior, bem facilmente,

pode ser exterminado ou se desnuda,

só uma fração a se tornar superveniente

e a mutação que ali está, subjacente,

pode ser a salvação, quando transmuda

a mesma espécie e assim a torna resistente:

a tal gênero da extinção assim escuda.

 

Então essa parte mais oculta do genoma

escolheria a mutação ali arquivada,

incorporada na geração futura...

Essa é apenas uma teoria que se toma,

mas quem nos diz se em situação atribulada

não fomos salvos por mutação impura?

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