ROMANCIDADE
I – 4 JAN 22
Enquanto
não és minha é que te abraço;
caso
eu te abrace, serás realidade;
se
não te abraço, pela eternidade
permanece
bem mais firme o antigo laço;
por
isso, nem me esforço por teu passo
acompanhar
com o meu na claridade;
caminho
junto a ti na obscuridade:
o
sonho é meu e como o quero eu faço.
Mas
eu queria, sim, trocar meu sonho
pelas
fímbrias dos teus, mesmo que fosse
tão
somente no desgaste de um momento;
queria,
sim, por mais fosse bisonho,
trocar
todos os sonhos de minha posse,
mesmo
que fosse por um amor de sofrimento.
ROMANCIDADE
II
Este
ideal feito de puro romantismo
não
provém de covardia ou de ilusão;
na
verdade, mesmo em certo nihilismo, (*)
contraria
de minha raça a evolução;
sem
buscar amor em seu materialismo,
certamente
não causarei reprodução;
mas
me recuso ao ditatorialismo
de minha
espécie, em sua cega alternação.
(*) Negacionismo
Se os
meus gens eu transmito, como sei
que
meus herdeiros os reproduzirão
ou de
que forma misturá-los-ão?
A
Natureza é arguta em cada lei,
mas a
que ponto obedecê-la é meu ideal?
Por
que só o processo da reprodução carnal?
ROMANCIDADE
III
Pois
quando escrevo versos, reproduzo
o meu
genoma mental e espiritual
e a
milhares eu concederei seu uso
de
uma forma muito além do material;
mas
meu amor não é só sentimental
e nem
físico tão somente no seu fuso;
bordo
mil fios em minha roca consensual,
adormecido
o amor carnal em seu desuso.
Mas
em cem anos, beijarão algum soneto
e
claramente suspeitarão de meu amor,
preso
em tais versos, porém sem ser secreto,
pois
neles serás minha eternamente,
enquanto
de um terceto houver leitor,
bem
mais que amor em carne impermanente.
FLORICIDADE I – 5 JAN
2022
Essas flores que
colocas no teu vaso
deixaram de cumprir a
sua função:
não perfumam para ti,
irmã ou irmão
e nem nos campos
brotaram por acaso;
desejar a sua beleza é
ideal bem raso:
talvez me digas que
depressa murcharão,
mesmo em seu caule,
sem intervenção,
mas pensa bem, que não
é igual o caso.
A flor que brota no
prado ou no canteiro
desabrochou para vital
polinização,
não para satisfazer o
teu olhar;
sua função é reprodutiva
por inteiro,
estames e pistilo em
cada floração,
não tem aromas só para
te agradar.
FLORICIDADE II
O pólen é um agregado
de sementes,
mas pouco serve se
cair ao chão
nos arredores da
primeira brotação
de suas origens, mesmo
intermitentes;
pedem aos zéfiros,
então, indiferentes,
que o transportem para
longa direção,
na esperança de
encontrar a comunhão
de outras plantas por
igual equivalentes.
Mas esse pólen,
majoritariamente,
cai sobre a terra e
ali é devorado,
quase que só atinge o
alvo por acaso;
assim a planta, nada
inocentemente,
forma o perfume e o
néctar sagrado,
para aos insetos
seduzir antes do ocaso.
FLORICIDADE III
E um novo truque
apresenta, em seu rebento,
formando flores de
gentil coloração
ou em pétalas de
gigantesca carnação,
que os insetos as
encontrem num momento;
seria inútil se a
abelha, em seu portento
ou o rouxinol levassem
sua polinização
a uma espécie de
diferente criação
e assim a flor chama a
atenção de seu alento.
Porque após já ter
pousado em alguma flor,
não vai o inseto empós
de outra qualquer,
porém sempre de uma da
mesma floração;
e caso a cortes só
para o teu primor,
não se irá reproduzir
e nem sequer
que um beija-flor
venha a teu vaso em ilusão.
CELULARIDADE I – 6 JAN 22
Como há tantas, existe uma teoria
que ainda não foi totalmente
comprovada:
que boa parte dos gens da célula
serviria
como controle à mutação desordenada;
que do deeneá tão somente a minoria
seria à direta reprodução designada;
para outra função o restante então
seria,
que ainda nao foi plenamente decifrada.
Como os neutrinos e o vento solar,
os raios cósmicos e mais outras
radiações
constantemente nos vêm atravessar,
pequenas trocas no genoma vão
causar,
formando assim as constantes
mutações,
que mal ou bem nos poderão causar.
CELULARIDADE II
Conforme ocorre, o nosso deeneá
corretamente reproduz ao ser humano,
do mesmo modo que por igual
resultará
duplicação de qualquer ser outro sem
dano,
que em seu nicho ecológico estará
perfeitamente adaptado e sem afano;
em novas gerações igual produzirá
esse fenótipo qual estampado pano.
As mutações, em geral, são
recessivas
e controladas por alelos dominantes,
mas no genótipo esta a hora da
verdade
e as características dominadas
recidivas
podem surgir, inesperadas, em
instantes,
para o bem ou para o mal em variedade.
CELULARIDADE III
Contudo ocorre que o ambiente, às
vezes, muda
e o fenótipo anterior, bem
facilmente,
pode ser exterminado ou se desnuda,
só uma fração a se tornar
superveniente
e a mutação que ali está,
subjacente,
pode ser a salvação, quando
transmuda
a mesma espécie e assim a torna
resistente:
a tal gênero da extinção assim
escuda.
Então essa parte mais oculta do
genoma
escolheria a mutação ali arquivada,
incorporada na geração futura...
Essa é apenas uma teoria que se
toma,
mas quem nos diz se em situação
atribulada
não fomos salvos por mutação impura?
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