segunda-feira, 3 de janeiro de 2022


 

 

O MENINO-PÁSSARO II – 13 NOV 2021

 

Veio o ortopedista e examinou a criança:

“Não, doutor, por enquanto não se avança

qualquer possibilidade de uma intervenção

e depois, é até capaz de ‘não vingar’,

sabe o colega, sua vida pode se encurtar

em razão direta dessa tal deformação.”

 

Mas o interesse do obstetra continuou,

ao nenezinho com frequência visitou,

que as enfermeiras olhavam já com desconfiança

e finalmente, uma delas se animou:

“Tenho certeza, doutor, que já aumentou

essa corcunda na pobre da criança!...”

 

Notou o médico que parecia mesmo estar maior.

“Não leve a mal, doutor, talvez fosse melhor

que ele morresses, assim podíamos estudar...”

“Vejo, no entanto, que até é bem saudável,

já abre os olhos bem... É coisa admirável,

porém dá a impressão que nos pode divisar...”

 

Pelo sim, pelo não, os ossinhos aumentando,

se bateu radiografia, depressa revelando

que eram de suas omoplatas que cresciam,

sem relação diretamente com a espinha,

nenhuma vértebra deslocada então se alinha

e fortes tendões musculares já se viam.

 

Sem a menor dúvida, já no terceiro dia,

qualquer substância de maciez se percebia.

Disse  a enfermeira: “Doutor, parecem penas!”

Perplexo, o médico não queria acreditar,

mas logo remígios começaram a apontar...

Avisado, o diretor assustou-se com tais cenas!

 

“Temos de manter o sigilo mais completo!

Ninguém pode saber!  O hospital será objeto

de uma invasão total das dependências!”

Os dois médicos e também as enfermeiras

segredo prometeram, mas já nas beiras

dos corredores havia cochichos e pendências...

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