domingo, 16 de janeiro de 2022


 

 

PERSEU E AS GÓRGONAS II – 19 nov 21

 

A Rainha Eurídice teve fado bem diverso

da outra Eurídice, amada por Orfeu,

que foi lançada para o abismo inverso

a que o cantor, em grande amor, desceu,

quando amansou até o cão perverso,

Cérbero Tricéfalo; e seu canto convenceu (*)

o próprio Hades a devolver-lhe a esposa,

formosa a voz, mas ela mais formosa...

(*) O Cão de Inferno, que tinha três cabeças.

 

Já esta Eurídice era apenas a princesa

filha de Laquedêmon, o espartano rei;

por um tratado com Argos fora presa

do rei Acrísio, que a desposara pela lei,

sem que amor compartilhassem, com certeza;

de fato, Acrísio preferia mais sua grei

de escravas belas para o seu carinho,

sem que Eurídice visitasse no seu ninho...

 

Não é de admirar que se enciumasse

dessas crianças que via no castelo

e ao saber da profecia, aproveitasse

em dar vazão a seu terrível zelo,

exigindo que o marido as afogasse,

para alegria do coração de gelo

dessa mulher que fora desprezada,

após ser prêmio por uma paz firmada.

 

De qualquer modo, concordam os autores

que Acrísio expulsava os pretendentes

da bela filha ruiva, em seus temores

de ser morto pelas mãos de descendentes;

quanto mais velha, maiores seus primores

e assim com grades fortes e correntes

cercou as janelas de sua torre forte

para ali encarcerá-la, triste sorte!...

 

Não era cela, mas um bom apartamento,

bem mobiliado, até meio luxuoso,

com um banheiro para atendimento,

embora a água a carregasse, desgostoso,

um forte escravo, sob acompanhamento

de aias e de guardas; e um poderoso

gradil fechasse a saída da latrina:

era impossível visitarem a sua menina!

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