terça-feira, 11 de janeiro de 2022


 

 

O MENINO-PÁSSARO VII – 18 NOV 2021

 

E desse modo, ele foi ali ficando,

somente à noite, em segredo, ia adejando.

Tão logo o par de asas se fortaleceu,

convidou a jovem para um breve passeio;

ela assentiu, dominando seu receio,

porém dos voos o medo não perdeu.

 

O rapaz limitou assim suas revoadas,

dando com ela apenas caminhadas,

mas finalmente o seu amor lhe declarou.

“Você está me pedindo em casamento?”

Ele assentiu, sem conhecer o procedimento,

porém a moça inicialmente recusou.

 

“Se não me ama, hoje mesmo irei embora,

por mais que de meu coração seja senhora.”

“Não é necessário que aja assim:

entenda bem que você é diferente,

como posso apresentá-lo a toda a gente?

Mas são só as asas a interferir, enfim...”

 

“As minhas asas?  Mas o que têm de errado?

Eu sou apenas bem melhor dotado

que a comum sorte dos seres humanos!...”

“Mas como quer que eu ande pelas ruas,

você mostrando suas espáduas nuas

ou usando mantos, feito soberanos?”

 

“Quer que corte minhas asas?” – disse ele, a brincar.

“Exatamente, se me pretende desposar.”

Ficou o rapaz totalmente atarantado

e sem mais uma palavra ao céu subiu

e por três dias ninguém mais o viu,

até que retornou, bastante desolado...

 

“Eu percebi que não posso mais viver

sem ter você.  Mas talvez eu vá morrer

caso minhas asas me sejam cortadas...”

“Já conversei com meu pai a esse respeito,

ele conhece um cirurgião de grande preito:

suas costas serão por ele examinadas.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário