quarta-feira, 12 de janeiro de 2022


  

O MENINO-PÁSSARO VIII – 19 NOV 2021

 

Chegou o médico no maior segredo:

com cuidado, nos encaixes pôs o dedo:

“Há realmente duas artérias por aqui,

mas após fazer dessas asas a ablação,

corto a hemorragia com cauterização:

só uma leve cicatriz ficará ali...”

 

“Mas pense bem, se é o que deseja,

é irreversível o resultado que se enseja,

será impossível prendê-las novamente.”

Pensou o rapaz por mais de uma semana,

mas o amor que então sentia mais reclama

e assim fazer a intervenção enfim consente.

 

O pai da moça era um rico industrial

e após ouvir sua decisão fatal,

garantiu-lhe de imediato um bom emprego.

Rapidamente o rapaz se adaptou

e o casamento a seguir se realizou.

Guardou as asas, porém, com certo apego.

 

Porém a esposa insistiu que ele as queimasse:

“É impossível que de novo as encaixasse,

não gosto delas!  Não sente amor por mim?”

Postas no forno, seu cheiro de queimado

trouxe-lhe cem recordações de seu passado,

dessas mil vezes que no ar pairava enfim...

 

Mas no trabalho ele foi logo progredindo,

que era feliz com esforço se iludindo...

Em pouco tempo, a sua esposa engravidou.

“Nosso bebê, enfim, será normal,

ou herda as asas como coisa natural?”

Porém a esposa em nada se abalou.

 

“Ora, querido, se for preciso, nós faremos

o que deviam ter feito com você!  Não criaremos

algum monstrinho como nosso filho!...”

Ficou o rapaz chocado extremamente:

Era o que pensava dele, realmente?

E se a criança seguisse o próprio trilho?

 

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