segunda-feira, 10 de janeiro de 2022


 

 

O MENINO-PÁSSARO VI – 17 NOV 2021

 

Chegado o inverno, retornou à residência,

totalmente abandonada em sua ausência:

mesmo isolada, alguém a invadira,

restavam quaisquer latas na dispensa

e roupas velhas em que valor não pensa

o assaltante, que tudo o mais subtraíra.

 

Abandonou de vez a casa mal trancada

a das aves acompanhou a revoada,

passando meses num clima mais ameno,

do sul ao norte quando o tempo melhorou,

no norte ao sul quando tudo já esfriou,

indiferente à canícula e ao sereno...

 

Sem destino certo por mais três anos vagueou,

até que um dia, quando em pomar pousou,

sentiu uma dor aguda no seu braço!

Sem conseguir alçar voo novamente,

caiu ao solo, sangrando e já inconsciente,

até acordar-se numa cama, em embaraço!

 

Uma jovem de rosto simples contemplava

e mais um homem que, curioso, o observava.

“Fique quieto, já curei seu ferimento

e lhe devo minhas desculpas, claramente;

confundi-o com uma ave e num repente

disparei contra você meu armamento...”

 

Pobre homem-pássaro, de mulheres, realmente,

só conhecia as enfermeiras, que assiduamente

lhe davam aulas e dele haviam cuidado...

E desse modo, sem nem saber o que era amor,

apaixonou-se, num fulgurante ardor,

pela mulher cujo carinho havia provado...

 

Ela cuidava que estivesse confortável,

se tinha as asas em posição bem agradável...

Que eram macias ele sempre lhe explicava,

mas o pai lhe disse que nunca se mostrasse

enquanto a convalescer ali se achasse:

que a imprensa descobrisse ele receava.

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