sexta-feira, 14 de janeiro de 2022


 

 

O MENINO-PÁSSARO IX – 20 NOV 2021

FINAL

 

Então durante os meses de toda a gravidez,

num quarto ao lado a sua cama fez,

afirmando que não queria perturbá-la;

mas de fato, nas suas costas percebera

nova protuberância que lhe aparecera

e não queria à sua cônjuge mostrá-la...

 

Passados meses, foram já crescendo

as duas asas, completas renascendo,

mas sendo inverno, usou roupas pesadas.

Nasceu um menino, normal, perfeitamente,

suas costas lisas iguais às de toda gente:

suas mutações não sendo assim legadas...

 

Então o mutante tomou uma decisão:

um advogado contratou para a transmissão

da herança que seu tutor lhe havia deixado

e facilmente passou todo o patrimônio

ao rebento de seu triste matrimônio,

sob o controle desse advogado.

 

Até que sua maioridade ele atingisse

e após cada formalidade se cumprisse,

para sua casa voltou bem aliviado.

Viu a criança de sua mãe nos braços

e retribuiu-lhe todos os abraços,

de novo indo dormir no quarto ao lado.

 

Mas nessa noite, ele saiu para o quintal,

as asas ele abriu, nem bem, nem mal,

muito menores e mais fracas que as primeiras;

decerto com o tempo se iriam desenvolver,

mas não aguardaria por seu lento crescer:

moveu-as depressa, em agitações ligeiras.

 

Subiu ao céu sem mais outro pensamento

e foi cruzando o belo firmamento,

até chegar ao oceano iridescente...

“Ébrio de sol, ébrio de liberdade,

como um astro que cai da imensidade,

afundou-se nas ondas, de repente...” (*)

(*) Estes três últimos versos são os finais

de A Morte da Águia, de Luiz Guimarães Júnior.

 

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