GERALDO SEM PAVOR
CAPÍTULO SEXTO -- 24 jun 21
A legenda que consta
no brasão
é a de “Mui Nobre e
Sempre Leal
Cidade de Évora” e o
cavaleiro triunfal
de espada em riste da
conquista na ocasião.
O fundo do brasão é
jalde (isto é, amarelo)
e no rodapé se veem as
duas cabeças,
uma de homem e a
outra, se bem meças,
é de mulher, sem haver
qualquer segredo.
Também a estátua, na
praça central,
dita Praça do Geraldo, o cavaleiro
uma cabeça a erguer,
bem altaneiro
e outra nos seus pés
vê-se, afinal,
mas não se sabe se
esta é de mulher.
Naqueles tempos, não é
de duvidar
que todo o povo se
fosse massacrar,
sem uma criança se
perdoar sequer!...
Existe ainda uma outra
lenda persistente:
enquanto ele era
apenas um vilão,
Geraldo se abrigou,
certa ocasião
nessa Ermida da
Memória, então recente
e lá avistou uma
imagem sobre o altar,
era mulher de rosto
negro e manto
azul, que num
triângulo sacrossanto
se abria, para a
Trindade relembrar!
Mesmo não sendo lá
muito devoto,
teria Geraldo forte
impulso de ajoelhar
e a Nossa Senhora de Nazaré
reverenciar,
quando escutou voz de
qualquer ponto ignoto:
“Sê bom Cristão e
combate ao inimigo,
que sempre te darei
minha proteção,
mas sem jamais erguer
sequer a mão
contra mulher que dê
no peito a filho abrigo.”
Teria então jurado o
cavaleiro,
considerando quais
sagradas doravante
qualquer puérpere ou
mulher gestante,
sem indagar sua
religião primeiro.
Por isso, é contestado
no brasão
que ali se mostre
cabeça de mulher,
seria um pagem ou
cortesão qualquer,
que alguns afirmam ser
do Emir o irmão.
Geraldo adquitiu o direito de ser nomeado Dom após
ser armado cavaleiro por Dom Affonso Henriques.
Não se sabe se deixou descendentes, pelo menos o sobrenome “Geraldes” é
pouco conhecido.
Dois irmãos franceses decidiram aceitar as
indulgências de uma Cruzada contra os Mouros na Espanha, ambos filhos do Duque
de Borgonha. Seu irmão Otto, o mais
velho, seria o herdeiro e assim Hughes e Henri vieram até Leão para ajudar seu
rei a conquistar a Galícia. D. Affonso Sexto deu sua filha Urraca como esposa a
Hughes e sua filha ilegítima, Theresa, como esposa a Henri. De modo igual, deu o Condado de Galícia a
Hughes e o Condado de Portucales, bem menor, ao irmão mais moço, Henri. Mas este se achava na fronteira com as posses
muçulmanas e Henri ou Henrique foi aumentando seu feudo aos poucos. Nascido em 1066, filho de Henri e Sybille de
Bourgogne, foi conde de 1096 até 1112, quando morreu em combate contra o reino
de Aragão. Seu filho Affonso foi criado
pela mãe, que assumiu o condado, mas arranjou um amante galego, Fernão Pires de
Trava. Affonso rebelou-se e venceu os
dois na Batalha de São Mamede, em 1128, tornando-se o conde dominante. Onze anos depois, na Batalha de Ourique
(1139), venceu os Mouros e no ano seguinte proclamou-se Rei dos
Portugueses. Em 1140 foi reconhecido
pelo Rei de Leão, através do Tratado de Zamora, mas só em 1179 o Papa Alexandre
III lhe “outorgou” a condição de Rei.
Dom Hughes abandonou o condado para se tornar duque da Borgonha por
morte de Otto I. D. Affonso Henriques
sempre temeu que através de Dona Urraca, seu irmão lhe quisesse contestar o
reino.
PERSISTÊNCIA I – 24 JUN 21
Ela o mandou embora, finalmente,
depois de muitos beijos e rechegos;
praticamente não tinham mais sossegos,
até que ele se humilhasse totalmente
e suplicasse à sua dama prepotente,
cujos olhos para o amor ficaram cegos,
que não o expulsasse dos chamegos,
mas aceitasse o seu amor tão persistente.
Não adiantou. Depois que
foi embora,
ele não pôde deixar de pensar nela,
foi para longe, mas sem sair de fato
e num SEDEx à sua casa, certa hora,
mandou breve bilhete para ela,
uma carteira de Marlboro e seu retrato...
PERSISTÊNCIA II – 24 JUN 21
“Não venhas me dizer que não me amas,
depois de tudo que juntos passamos,
mais do que amor, são os mútuos desenganos,
a glória de momentos e as más famas;
talvez desse amor meu sobrem só ramas
nessa carícia do lembrar que partilhamos,
mas existe bem mais força nos enganos
que nos triunfos de transitórias chamas.
Porque um beijo de amor é transitório,
enquanto um mal de amor é permanente
e é vitalícia a lembrança de um engano;
bem mais constante o sonho merencório
que nos persegue na vida, fielmente,
que antigo beijo envolto em desengano...”
PERSISTÊNCIA III – 24 JUN 21
Se alguma coisa importa é a persistência:
quando a sorte não bafeja, é a teimosia,
a pertinácia – que se busque noite e dia
o que se quer na vaga da
insistência;
sempre é possível que haja incompetência,
que não se saiba como – todavia,
não se pode ceder à nostalgia
dos fracassos e adiamentos da impotência.
Existe quem nasceu com plena sorte,
a quem tudo parece vir ao colo,
porém é raro esse destino dos mortais
comuns, iguais que nós, a quem importe
para alcançar o sucesso sem o dolo,
essa constância nos esforços materiais.
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