PARADOXO DO TEMPO X
28 junho 2021
Se assim guardar, em caixa pequenina,
Algumas sobras de tempo, dia a dia,
Quem sabe alcançarei a sincronia
De cortejar tranquilo a minha menina
E ao mesmo tempo, executar minha sina
De trabalhar no afã que traduzia,
As vinte e cinco horas diárias que queria,
Na longa faina que se descortina.
Nem é que eu queira no tempo viajar,
Eu só queria fazer que se ampliasse,
Que houvesse um mais de mim ao mesmo tempo
Em que me vejo sozinho a palmilhar,
Que outras tarefas assim realizasse,
Ou descansasse sem grande contratempo!...
PARADOXO DO TEMPO XI
Se desse modo no tempo eu me retempo,
Só a meu tempo consinto e ele atravessa
As distâncias entre eventos, nesta espessa
Multidão de excitações que forma o tempo,
Meu inconsciente viverá nesse antetempo
Em que reside minha memória e nada cessa,
Onde comanda o espírito e não se engessa,
Em nivel multicor a alma do atempo;
Retemperado nessa atemporalidade,
Nessa têmpera brilhante da lembrança,
No tempo gasto nos lençóis da infância,
Sem envolverme no turbilhão da idade
Do tempo morto de minha antiga instância,
Para o tempo natimorto da esperança.
PARADOXO DO TEMPO XII
Assim traído o tempo, o tempo chora,
Na chuva temporã e em serodia,
O tempo dá-me o tempo de meu dia
E roubo o tempo ao tempo sem demora.
Minha têmpera incessante o tempo explora,
Pouco lhe importa o tempo da elegia,
É o tempo que não houve que me avia,
Dos caminhos não trilhados desse outrora...
Assim quisera ter o tempo
alternativo,
No espaço de minhas mãos trilhá-lo agora,
Tudo sabendo desse tempo que me trouxe,
Que qual mulher do tempo o tempo fosse
Tempo gentil de meu tempo redivivo.
Tempo de um beijo que nunca fosse embora!
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