A DAMA AZUL I – 20 MAIO 2019
A dama azul se acha acorrentada,
em todo o esplendor de sua nudez,
presa no enredo de filme que se fez,
mais figurante que artista consagrada,
pelas correntes a ser mais adornada,
em Guerra nas Estrelas, velha
tês,
que alienígena a pretende, como a vês,
estátua viva em canto descartada.
Como se a pele fosse azul, de fato,
gerada por estrela peregrina,
sendo humana apenas na aparência
ou então, sendo mutante sem recato,
capturada em qualquer razzia
assassina
para uma escrava ser em sua impotência.
A DAMA AZUL II
Contudo, num detalhe a produção
falhou ao apresentar ruiva mulher,
corpo soberbo como mais se quer,
finas correntes a pulsar em cada mão:
é que os sapatos, talvez por distração,
de salto alto ali é fácil perceber,
no estilo antigo que bem se pode ver
desse século então já quase em extinção.
A verdade é que poucos perceberam,
para outras coisas preferindo olhar,
não para o mal coberto calcanhar...
e destarte, os produtores não temeram
que seu público, em poltronas a sentar
de um tal detalhe fosse reclamar!...
A DAMA AZUL III
Porém notei-o eu. O corpo
belo
foi percorrido por mim inteiramente,
não que o desejo fosse em mim potente,
muito mais por estética e desvelo;
na verdade, até mesmo um certo gelo
me percorreu a espinha, mansamente:
essa mulher cobalto, certamente,
era objeto de racismo em inverso pelo.
Toda envolvida em tinta corporal,
na sugestão da raça escura do pecado,
para gerar do proibido a excitação;
mas para mim, além do bem e mal,
somente um ventre assim apresentado,
que em cor de anil forjasse nova geração!
O DOBRO OU NADA – 21 MAIO 2019
Falou a professora: “Hoje temos
adição,
Vamos ver se estudaram a sua
tabuada!
Cada soma nos dará o dobro ou
nada...
Você está pronto para essa
operação?”
“Sim, professora, estudei minha
lição...”
“Pois vamos ver se foi bem
estudada...
Vou-lhe dar uma série calculada,
Você completa a seguinte na
ocasião.”
“Tudo bem, professora!” O
estudante
Falou bastante seguro de seu custo.
“Bem, dois mais dois são quatro.
Daí em diante
Quatro mais quatro são oito. Oito
mais oito, enfim,
Quanto é que são?” “Professora, não é justo!
Pegou o fácil e o difícil foi pra
mim!...”
PEDIDO DE AUMENTO – 21 MAIO 19
Chegou o jovem que se havia casado
E pediu um aumento a seu patrão.
“Há pouca gente na minha
profissão,
Meu salário deve ser
incrementado!”
“Posso saber porquê?” – disse,
invocado
O seu patrão. “Não é boa esta ocasião,
Os nossos lucros bem menores são
E seu pedido terá de ser negado!”
Mas, patrão, há quatro companhias
Que atrás de mim estão com
insistência!”
Disse o jovem – na esperança que
o conduz.
“E quais são elas?” – disse o
outro, sem paciência.
“Cartão de crédito, água, gás e
luz!...”
COMBUSTÍVEL – 21 MAIO 2019
Chegou um homem para abastecer
Seu carro no mesmo posto de
costume.
Não importava qual ponto em que
rume,
Sempre voltava, com o maior
prazer...
Mas veio um frentista novo o
atender,
No visor corriam os números como
lume,
Logo o preço atingiu o maior cume
E sua carteira já gemia de
sofrer...
Disse o frentista: “O senhor é o
último freguês
A pagar o preço antigo. O seguinte
Já vai pagar o preço novo nesse
evento...”
“Ah, que bom que a cortesia me
fez,
Quanto sobe o combustível neste
acinte?”
“Sobe, não! Vai baixar vinte por cento!;...”
Glicínias 1 – 22 maio 2019
Todo ano, chegada a primavera,
brota a glicínia, violeta de esperança:
mil amentilhos surgem em bonança,
mais de mil pétalas farfalham nessa espera!
Nossa glicínia já é imensa nesta era,
cobre um lado do pátio e então alcança
todo o terraço com sua florada mansa:
vasta alegria em nosso olhar nos gera!
Reconheço não ser muito perfumada,
mas da sacada, a família, debruçada,
contempla aquelas ondas coloridas,
ali flutuando tal qual gentil maré,
em dia calmo renovando a fé
na natureza e suas obras incontidas!
GLICÍNIAS II
Contudo, até parece que observa
um gênio mau contrário a tal beleza,
pois cada ano, na maior certeza,
por pouco tempo a calma nuvem se conserva.
Logo surge a ventania sobre a erva
e às flores despetala e traz pobreza;
já se despe o jardim de tal nobreza,
de que entidade a tempestade é serva?
Se a glicínia crescesse em campo aberto,
talvez suas pétalas o solo fecundassem,
porém o nosso pátio é bem calçado
e esse tapete já tem destino certo,
impedindo que essas cores se espalhassem
e para o lixo o que se varre é despejado!
GLICÍNIAS III
Contemplo então a glicínia empobrecida,
ainda uma parte suportou a viração,
mas no outro dia vem chuva em vastidão,
e cada flor então é destruída!...
Fica a glicínia só de verde entretecida,
com as guias amareladas na ocasião,
sobre o telhado estiradas nesse então,
do outro lado a plantação ainda florida:
Há bela-emília e outras trepadeiras...
É como se Éolo, o deus do vento
e Plúvia, sua prima, déia da chuva,
rancor tivessem dessas flores altaneiras
e as castigassem com feroz intento,
de cada ramo descalçando a simples luva!...
Nenhum comentário:
Postar um comentário