A DANÇA DA MARMOTA – 5 JUN 2019
(Pequeno roedor de rabo curto,
que mora em túneis nas pradarias.)
(Lenda dos ameríndios Cherokee)
A DANÇA DA MARMOTA I
Muito tranquila, a marmota
descansava,
Enquanto se aquecia à luz do
sol;
Já comera o suficiente no arrebol
E pela digestão ela
aguardava...
Mas de repente, notou se
aproximava,
Com os olhos reluzindo qual
farol,
Seus dentes pontiagudos como
anzol,
Seu predador, um lobo, em fome
brava!
Assustada, a marmota quis
fugir,
Mas estava muito longe de sua
toca
E do outro lado, já outro lobo
havia!
Para a direita, outro estava já
a assistir,
Mais um à esquerda, babando
pela boca,
Uma alcateia a seu redor se
via!
A DANÇA DA MARMOTA II
Contou os lobos, bastante
apavorada:
Pois eram sete, uma família
inteira!
A situação em nada lisonjeira,
Como escapar, se estava bem
cercada?
“Estás gordinha, marmota!” A
voz malvada
Sibilou entre os dentes da
primeira,
pois era a loba-mãe, uma alpha
sobranceira.
“Serás nossa refeição bem
preparada!”
Rosnando, os sete lobos a cercaram.
“Não vou fazer as minhas
orações?”
“Seremos nós a dar ação de
graças!...”
Mas qual seria o primeiro?
Ainda hesitaram,
Bocas abertas em vermelhas
saudações,
Ordem havia constante nas suas
caças...
A DANÇA DA MARMOTA III
“Nananinão!” – a marmota protestou.
“Devem fazer igual que faz a
gente
Quando uma boa comida se
apresente:
Dançam alegres pelo bem que
lhes chegou!”
Achando graça no que ela falou,
Os sete lobos, imediatamente,
Começaram a dançar,
alegremente,
Batendo os pés, cada um deles
sapateou!
Era uma ideia até bastante
divertida!
A marmota lhes fugir não
poderia,
Por que então não cumprirem tal
ritual?
Já antecipavam a inicial
mordida,
Mas a marmota lhes disse não
servia:
“Vocês estão dançando muito
mal!”
A DANÇA DA MARMOTA IV
“Já que não sabem, eu vou-lhes
ensinar
E terão de os passos certos
aprender,
Eu vou cantar para melhor
dizer,
Coreografia é o jeito certo de
dançar!”
“Eu canto as ordens e vocês vão
escutar,
Sempre dançando antes de me
comer,
Mas dando voltas em alegria de
viver
E às minhas palavras atenção
deverão dar!”
“Quando eu cantar Yahi, vocês
devem se afastar,
Quando em cantar Yahu, então
podem chegar perto,
Entenderam as palavras do
libreto?”
Os sete lobos decidiram
concordar,
Porque a marmota tinha destino
certo
E bem podiam lhe mostrar algum
afeto...
A DANÇA DA MARMOTA V
Afinal, ela aceitava o seu
destino
E nem ao menos tentava se
escapar...
Por que, então, não deveriam
dançar?
E a marmota entoou, com voz de
sino:
“Ha wi ya hi,
Ha wi ya hi,
Depressa agora,
Dancem aqui!”
Sua boa vontade foram os lobos
demonstrar,
E para longe se puseram a
dançar,
Mas antes que pudessem
desconfiar,
“Ha wi ya hu!” – a marmota foi
cantar
A esse sinal, toda dança foi
parar
E os sete lobos foram chegando
perto.
Mas antes que a pudessem
agarrar
A marmota gritou de peito
aberto:
“Ha wi ya hi,
Ha wi ya hi,
Depressa agora,
Dancem aqui!”
E os sete lobos tornaram a se
dançar,
A pouco e pouco mais longe se
afastando:
“Ya hi!” a marmota não parava
de gritar,
Mas quando já estavam desconfiando
“Ha wi ya hu!” – a marmota foi
cantar
E a alcateia veio já se
aproximando!
A DANÇA DA MARMOTA VI
Mas antes que a pudessem
alcançar,
“Ha wi ya hi!” – cantou ela
novamente
E a alcateia foi de novo se
afastar,
Pensando estar a imitar dança
de gente!
“Ha wi ya hi,
Ha wi ya hi,
Depressa agora,
Dancem aqui!”
“Ha wi ya hu!” – cantou ela de
novo,
Veio a alcateia já
resfolegando,
Mas quando já chegavam, de
renovo
Foi a canção novamente se
entoando:
“Ha wi ya hi,
Ha wi ya hi,
Depressa agora,
Dancem aqui!”
E assim foi a marmota
repetindo,
E os lobos tolamente
obedecendo;
Quando a impaciência ela via
começar
Outro “Yahu!” novamente iam
ouvindo,
E quando o fim já estava
aparecendo.
Mais um “Yahi!” a marmota ia
cantar!
A DANÇA DA MARMOTA VII
Só que a marmota se movia
lentamente
Na direção de uma árvore caída,
Sem que os lobos percebessem,
realmente,
Que ali sua toca achava-se
escondida!
Mais uma vez ela cantou o
“Yahi!”
Dos lobos foi-se o círculo
alargando,
Mas dessa vez ela não parou
ali,
Até que junto de sua toca foi
chegando...
Então gritou “Yahu!” última vez
E na sua toca foi-se já
enfiando,
Mas o seu rabo ficou ainda de
fora!
E um lobo o abocanhou na mesma
hora
E a puxou com toda força! -- E
em sensatez
Já outros dois o estavam
ajudando!
EPÍLOGO
Mas a marmota se afirmou numa
raiz,
Enquanto os lobos a puxavam
para fora
E embora a dona se escapasse
como quis
Seu pobre rabo rebentou-se, sem
demora!
Assim os lobos só ficaram com
sua fome
E a marmota espertalhona se
salvou!
Mas se ela encontra um outro
lobo, logo some,
Pois desde então seu rabinho se
encurtou!
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