INDEFESO I – 1º julho 2019
Não sei se devo te escrever mais versos...
Tantos já te escrevi, que tua alma
multifária,
Teu humor instável e de expressão tão
vária,
Já agora devia ter só para mim conversos
Com tantos escaninhos tão diversos;
E não negar amor após as juras,
Após as firmes confissões mais puras,
Na marcha desses anos tão dispersos...
Ter marchetado ao longo dos meus ossos
A certeza de um bem depois negado
Por tais oscilações, que não consigo
Jamais prever e sinto que em destroços
Tornou-se-me a confiança: inda a
teu lado,
Não saberei jamais se estou contigo...
INDEFESO II
Na verdade, é só tolice de um poeta
Esperar que seus versos apaixonem
Não apenas por si mesmos, porém tomem
Em acolhida o invasor da alma discreta,
Que poderiam a essa mente tão dileta
De fato abrir, mas não que domem
O coração, por mais sinceras que se somem,
As intenções recíprocas da seta.
Versos bem feitos com frequência agradarão,
Mas nem por isso inteiramente moverão
Qualquer amante, por romântica que seja,
Que realmente, só se abre o coração
Depois que a mente racional esteja
Toda afastada do controle da razão.
INDEFESO III
Porque, de fato, se conceder a amor
Salvo-conduto para ingressar no peito,
Requer se desistir de algum direito
De autodeterminar-se esse invasor.
Então o racional cobra o penhor,
Talvez baseado em ideal antes desfeito,
Pesa as vantagens desse novo preito
Contra a mágoa conservada em seu queimor.
Assim mil versos só de nada adiantam:
Eles alegram, comovem, causam pena,
Alimentam a vaidade, mas não bastam,
Pois raramente a alma inteira imantam,
Quando algo brota da razão e a envenena
E de uma entrega completa sempre afastam.
INDEFESO IV
Entretanto, minha razão já se entregou,
Bem antes que em versos escrevesse,
Tolamente a pensar que obtivesse
A integridade da alma a que buscou.
Que um verdadeiro poeta não se achou
Escravo da razão, por mais julgasse
Que o romantismo paciente dominasse,
Foi antes a razão que se enganou...
E a teu lado, em tantos anos esquecidos,
Tantas mudanças achando em teu humor,
Nunca pude, realmente, te entender,
Mas continuo, em versos aquecidos,
Por essa coisa a que chamo de amor,
Teus caprichos, indefeso, a descrever.
PROPOSTA I – 2 julho 2019
Se queres me entender, pensa primeiro
Que não tenho intenção que seja oculta:
Eu quero usar tua vida, seja a multa
Qual for; que o seu preço eu pagarei
inteiro!...
Pensa que eu busco apenas a expressão
De meu gênio viril em corpo e nalma,
Na fonte e turbilhão, verdade e calma,
Só para encher-te inteiro o coração...
Eu quero que me ames -- não preciso
De apelar ao vulgar gesto indeciso
Que saberia usar outro qualquer;
Eu quero ver-te pura e sem recalque;
Completa ao coração, que então decalque
Minhalma, que te amou, porque és mulher!
PROPOSTA II
Sem dúvida, vês egoísmo na proposta,
Quando peço sejas minha por inteira,
Ao partilhar cada fagulha derradeira
Desse intelecto que ao meu igual arrosta.
E quando algum verso assim te acosta
Desses mil que te enviei em longa esteira,
Até parece que do mal se abeira
De já querer ditar-te a sua resposta.
Mas na verdade, quando assim eu falo,
O que proponho é a reciprocidade,
Não busco apenas dominar-te inteira,
Mas dar-te igual minha vida sem abalo,
Que minha mente seja tua em saciedade,
Como a alma é tua, completa e verdadeira.
PROPOSTA III
Mas sempre há algo de oculto sob o olhar,
Há sentimentos moldados de temor,
Pois nem tudo que parece ser amor
De fato assim se poderá chamar.
E como podes relmente acreditar
Que vibre pura a chama em seu vigor,
Mas ao contrário algo de consumidor,
Que tua integridade vá algemar?
Contudo, a teu lado estou sincero,
Por tantos anos, sem te desgastar,
Nada perdendo de meu próprio coração,
Mas conservando o romantismo fero
De que duas almas se possam completar,
Ganhando e dando nessa flama de fusão.
FUSÃO I
– 3 jul 19
meu
desejo é que todos os teus dias
azuis
se tornem, não feitos de tristeza,
mas
desse azul perfeito da beleza
que
marcou a amplidão, quando sentias
por mim
um meigo amor e percebias
que teu
destino é meu; plena certeza
que meu
destino é teu, nessa nobreza
compartilhada
pelas nostalgias...
do que
não ter se pode, mas querendo
que tal
amor, de dimensão profunda,
um dia
se consuma, em sangue e sol.
que tal
amor, por que já estou sofrendo,
me
afogue a alma, como a tua inunda
e
mescle as duas, igual que num crisol.
FUSÃO
II
e desse
modo, qual em almofariz
vem o
pilão sementes a moer
e então
as mescla, sem as desfazer,
numa
farinha só, qual fora giz,
esse é
o desejo que constante quis
manifestar
a ti no meu viver,
que
inteiro em ti pudesse me perder,
teus
grãos azuis pilados como eu fiz
com os
meus grãos de puro sentimento,
duas
sementes no inicial momento,
ambas mais
amplas na final mistura,
identidades
conservadas nesse pó,
porém
maiores que um indivíduo só,
enquanto
a massa se afermenta pura.
FUSÃO III
essas
sementes lançadas no pilão
são
fechadas com grande resistência,
conservando
dentro em si toda a potência
no
integumento em que fechadas são,
mas no
momento da repartição,
seu
conteúdo não perde consistência,
envolvido
pelo ar em complacência,
mais
espaço ocupa a essência na ocasião
e no
momento em que a mistura se completa
há
muito mais vigor no seu volume
do que
existia antes do pilar
e de
igual modo, se a alma tua dileta
se
inserir nos interstícios de meu lume,
em ouro
puro se irá acrisolar!...
REVANCHE I
Ah, por um beijo longo
de tua boca!
Que me sugasse a alma,
num relance,
Que não daria eu por
esse alcance
Que tal sofreguidão
assim sufoca!...
Ah, que perfume dentro
em mim espouca!
O calor de teu corpo,
nesse instante,
Do tempo mau da espera
palpitante,
Da palidez da pena e a
sorte mouca!...
É como se tua vida, em
tal momento,
Fluísse para mim,
enquanto a minha
Escorre para ti, lenta
paixão;
Uma delícia doce, esse
tormento:
A vida explode e a morte
se avizinha,
Enquanto a mente
esvai-se, em transfusão.
REVANCHE II (PERCEPÇÃO)
Meus sentimentos vou
agora pôr de lado:
“Quem te amou antes,
preparou-te para mim.”
Assim julguei, mas outro
evento, assim,
demonstrou que o
comportamento atribulado
não me anunciava o
acontecimento desejado,
mas é um prenúncio forte
qual clarim:
que todo o esforço que
empreguei, enfim,
teu coração para
alegrar, sem resultado,
tornou-me apenas em um
desenvolvedor,
que tua hesitação de
estranha sorte,
cedendo e retirando o
teu amor,
somente um jogo de
caprichos demonstrou,
que meu esforço, por
maior fosse seu porte,
só para um outro jogador
te preparou!...
and here you go the translation into English:
e aqui segue a tradução
em inglês.
REVENGE I
Ah, for a long kiss my mouth to drench!
From yours, my soul to suck, a blink achieve.
How much would I pay for this, and give,
My thirst and smother to likewise quench!...
Ah, what a perfume that inside me blows!
The heat of your body, in such an instant,
Throbbing from evil times of wait expectant,
Of pallor for sorrow while deaf fate glows!...
'Tis like your life, in that very moment,
Flooded into me, all the while mine
Drained was unto you, in that passion slow,
A sweet delight is there in such a torment,
As life bursts and death shows me the incline,
While minds so emptied into transfusion go.
REVENGE II (REALIZATION)
I’m putting my feelings on abeyance:
“Felt that your lovers had prepared you to me,”
now I’m being forced by events to see
that your behavior, so rapt with hindrance,
heralds not a blithely happenstance,
but else a warning springs clear from thee:
for all my pain to change you, to glee
your heart anew, the only comeuppance
ever brought to me is that of a developer,
and that your wavering, all that strange sort
of love poured and withdrawn in bother
are but the selfish whims of a joker...
I strove in vain, because for all my effort,
Only prepared you for the enjoyment of another.
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