quarta-feira, 7 de outubro de 2020

 

 

O ATOIDI I – 17 MAIO 2019

(Sobre conto original de Aparicio Torelly)

 

Houve um garoto muito presunçoso,

Em tudo tinha de mostrar ser o melhor,

Crescera muito, da turma era o maior,

É inegável que também era estudioso.

 

Excelentes suas notas, em tudo habilidoso,

Nem no desenho, nem em nada era pior,

Corria bastante, no teatrinho bom ator,

Em trabalhos manuais igualmente cuidadoso.

 

Mas mesmo assim, ser modesto poderia,

Sem se gabar do mérito possuído,

Sem aos demais humilhar tendo querido;

 

Porém em tudo dominar ele queria

E dessa forma foi perdendo as amizades,

Na fugaz satisfação de suas vaidades...

 

O ATOIDI II

 

Um certo dia, a sua turma decidiu

Organizar um bom grêmio escolar...

Sua pretensão fácil será adivinhar:

Por ser o Presidente ele insistiu!

 

Contudo, na eleição não conseguiu

A maior parte dos votos alcançar

E ameaçou do grêmio se afastar,

Mas o eleito gentilmente o iludiu.

 

“Terá um bom posto na Diretoria!...

Quer ser o nosso Diretor de Esportes?

Ou o Secretário?  Sua letra é tão bonita!”

 

Mas o mimoso nada disso aceitaria:

“Não iremos contribuir de quaisquer sortes,

Quero ser o Presidente, sem mais fita!...”

 

O ATOIDI III

 

Uma garota foi nomeada Secretária

E querendo dar fim à discussão,

Foi-lhe dizer, com bastante persuasão:

“Ser Presidente é coisa muito hilária!...”

 

“Você merece uma honra multifária:

Ser Conselheiro de grande aceitação,

O nosso “Atoidi” deve ser nesta ocasião,

Muito mais que a Presidência atrabiliária!”

 

Convencido, o estranho cargo ele aceitou

E recebeu logo um crachá com a legenda,

Que, orgulhoso,  sobre o peito logo bota...

 

Chegado em casa, no espelho então se olhou,

Muito vaidoso de receber nobre prebenda,

Que, refletida, mostrou-lhe ser “Idiota”!

 

VERSO DE AMOR I – 18 MAIO 2019

 

Já muitas vezes debrucei-me sobre o Amor,

Com amplos laivos de sensualidade,

De outra feita, pensei mais na caridade,

Quando a outrem se ajuda com fervor!...

 

Há também o nosso amor pelo Senhor,

Que nos protege no campo e na cidade,

Há o altruísmo do amor-maternidade,

Embora certa vaidade em tal calor...

 

Há o amor por animais da Natureza,

Há o amor no contemplar de cada flor,

Há o amor pela Lua e pelo espaço!...

 

Mas de uma coisa posso te dar certeza,

Por mais gentil que seja outro favor,

Amor maior não há que o próprio abraço!

 

VERSO DE AMOR II

 

Por que será que o nosso Salvador,

Ao escolher o maior dos Mandamentos,

Descreveu como o maior em tais momentos,

Estando acima de todos este amor

 

Para com Deus, o nosso Criador,

Mas o segundo, com iguais intentos,

Foi conseguir, mesmo em padecimentos,

Amar ao próximo com igual fervor

 

A esse amor por si mesmo devotado,

Nos dois contidos toda a Lei e os Profetas?

Porque é fácil professar amor a Deus,

 

Seja real ou pelo medo provocado,

Mas não ao próximo ter emoções diletas

Quais as sentidas pelos próprios dotes seus!

 

VERSO DE AMOR III

 

Ora, quem nunca sentiu ressentimento

Pelos sucessos dos outros, por seu Bem?

Quem nunca quis lhes transmitir também

A própria dor sentida em algum momento?

 

Por mais que seja mesquinho sentimento,

Tão fácil ao coração a queixa vem:

“Por que acontece comigo e não a alguém

Esse mal que me amarga o pensamento?

 

Podes igual a ti amar outro qualquer,

Apesar das lições de São Francisco?

Pensas ‘que bom que ele morreu e eu fiquei!”

 

Por mais remorso ou culpa em tal mistér,

O amor ao próximo atira-se no cisco,

Que o amor próprio para nós é o rei!

 

PROGRESSO I – 19 MAIO 2019

 

Mudam cidades enquanto se acham vivas,

Causando a morte das construções antigas;

São devoradas, dão lugar a novas vigas,

Prédios imensos como esbeltas divas...

 

Em minha cidade, essas ruas redivivas

Raro me mostram dez casas antigas

A cuja sombra eu vi passar amigas,

Ou carros velhos levantar poeiras esquivas...

 

E ali estão os novos prédios altos

Ou há mansões, quando o dinheiro deu

Para pagar por seu novo Xangri-La,

 

Nem  nessas áreas sobram os ressaltos;

Não obstante, sei que ao menos eu

Lembro essas casas que estiveram lá.

 

PROGRESSO II

 

Ontem sonhei com aquele velho hotel

Em que ora se ergue o Banco do Brasil;

Não que relembre seus hóspedes mil,

A gente antiga que teve ali quartel.

 

Morador deste cidade, por que bel-

Prazer ou por gastar o meu ceitil

Me hospedaria sob o seu buril,

Por mais que fosse doce como o mel?

 

De fato, raras vezes lá estive,

Ainda criança ou mesmo adolescente,

Somente a imagem está no olhar gravada.

 

De certo modo, em minha memória vive,

Igual que a face da numerosa gente

Que já ao campo-santo foi levada!...

 

PROGRESSO III

 

Essa mudança é seu sinal de vida;

De forma alguma quereria uma epopeia

Qual soterrou na Itália essa Pompeia

A que o Vesúvio sob as cinzas deu guarida.

 

Ou qual aldeola no campo já perdida,

Seus moradores a deixando de permeia,

Mortos alguns, outros empós a nova teia

De oportunidade melhor reconhecida.

 

Ficando apenas a desmoer-se lentamente,

Um lugarejo inteiro qual tapera,

Portas abertas rumo ao horizonte...

 

Que eu a recorde sem saudades, mansamente,

Pois idêntico destino sei que espera

Essa paisagem que hoje aos olhos me desponte.

 


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