domingo, 4 de outubro de 2020

 

 

AMOR SECRETO I -- 8 SET 17

 

Para muitos, amor é igual que mariposa:

de dia se esconde, só surge ao anoitecer,

quando há intenção de amor sexual fazer

e só então se requesta amante ou esposa.

 

A noite é tida por mais esplendorosa,

em segredo sob a lua mais prazer,

na escuridão o adultério a cometer

ou mesmo o permitido mais gostoso!...

 

Por isso, uma visita feita às claras,

seja de tarde ou mesmo de manhã,

qualquer suspeita dilui em confusão,

 

ações de amor julgadas ser mais raras

no intermédio do labor ou de outro afã

e é natural bater-se à porta na ocasião...

 

AMOR SECRETO II

 

Contudo, quando alguém pratica a sesta

e a seu lado se deita esposa ou amante,

é bem comum seu prazer levar por diante,

quando em braços um do outro fazem festa.

 

Após a refeição, fazer amor "não presta",

que esse "esforço" sexual é delirante:

pode causar "congestão" um tal instante

ou um "derrame", assim o povo atesta.

 

Um tal problema, contudo, eu nunca tive,

que muitas centenas de vezes fiz amor,

após o almoço, sem sofrer qualquer revés

 

e meus orgasmos cintilantes não contive,

já de noite a repetir igual ardor,

sem que a semente "se acabasse" dessa vez!

 

AMOR SECRETO III

 

Assim se contradiz mais uma lenda:

a de que existe só um certo suprimento;

com muito sexo, há de chegar momento

de esgotar-se o produto dessa prenda...

 

Talvez esta assertiva o povo venda

considerando da menstruação o alento;

de fato, a ovulação, em seu portento,

tem um limite que à gestação atende.

 

Mas certamente a semente masculina

por muitas décadas bem se reproduz,

mesmo que sofra de menor potência,

 

quando alguns espermatozóides têm a sina

da morte prematura antes da luz,

mas sem que isto diminua a sua frequência!

 

AMOR SECRETO IV

 

Os tempos mudam e hoje a liberdade

é bem maior que em tempos de minha infância

e nas "baladas" se pratica com constância

sexo oral, sem qualquer dificuldade!

 

E outra lenda se espalha, de inverdade,

que a semente deglutida nessa instância

não provoque de DSTs contaminância (*)

e assim procedem na maior tranqulidade!

(*) Doenças Sexualmente Transmitidas.

 

Já que esta prática hoje está na moda

e muitas vezes se faz abertamente,

e nas reuniões de jovens é ingrediente!

 

E sem falsa moralidade nesta roda,

que também nisso empreguem "camisinha",

ante a armadilha que de tantos se avizinha!

 

RABISCOS I -- 9 setembro 2917

 

A maior parte dos versos que hoje escrevo

me brota de lugares que nem sei localizar,

mas me é preciso constante acompanhar

esse murmúrio que sob as unhas levo.

 

Mas sobre mim escrever pouco me atrevo,

bem mais difícil eu acho me expressar,

sem Dionyso para as frases sussurrar

e me informar quais rabiscos grafar devo.

 

Em português antigo, "rabiscar"

só indicava recolher essas espigas

deixadas para trás por segadores;

 

e com frequência me ponho a imaginar

que tais sonetos de tão variadas ligas

sobras somente são de antecessores...

 

RABISCOS II

 

Outros criaram grandes poemas, realmente

e grandes fardos com alegria sobraçaram;

cada estrofe que do inconsciente retiraram

mil grãos por um produziu-lhes bem frequente.

 

Com suas penas de ganso, a antiga gente,

ou com estilos sobre cera que marcaram,

alguns pincéis sobre papiro ainda pintaram

ou sobre argila a gravar pacientemente.

 

E mesmo assim, criaram meus modelos,

restolho apenas deixando para mim,

cereais e a fruta que no chão se espalha;

 

tiveram esses a colheita dos desvelos:

medas de trigo e o doce mosto, enfim,

deixando para mim somente a palha.

 

RABISCOS III

 

Não me acho aqui a pedir-te um elogio,

pois minha modéstia é pura e verdadeira;

nem é de fato pela vez primeira

que desta herança reconheço o brio.

 

Se Dionyso me legou o desafio

de palmilhar por sua tão velha esteira,

percebo bem a origem hospitaleira,

pois de outrem brota o verso que hoje crio.

 

Mesmo porque só existe um Criador

e Nele ponho toda a minha esperança

e neste Espírito Santo que me anima

 

de que avatar foi Dionyso em esplendor

e sua coroa de parreira em mim descansa,

na grande honra que acolheu minha sina.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário