ANUÊNCIA I – 03 ago 19
São raros os instantes em que nos encontramos,
Mais raros os momentos em que haja concordância;
Nós só nos vemos sempre em frase de elegância,
Que de esgrimar rutila; assim nos entrelaçamos
Em combate verbal e à flor da pele apresentamos,
Em carne viva os nervos, presa da inconstância;
Que se conturbam e esbatem, sem do beijo a instância
Que os lábios se dariam, porém os congelamos
Nessa cascata irrequieta e inútil que exaspera;
Porque nos condenamos à sombra desta espera,
Até encontrar, enfim, do ardor uma ocasião.
E alfim nos evitamos, temendo se revele,
Aos olhos dos estranhos, a mesma exultação
Que os beijos nos fizera gozar, à flor da pele...
ANUÊNCIA II
São coisas do passado agora manifestas,
Bem menos em ardor que plena nostalgia,
Essa fome de amor que no antanho nos reunia
É apenas o objeto romântico das gestas...
Diluídas no presente tais ocasiões funestas,
São outros os padrões que a sociedade cria,
Esconder um evento até causa zombaria,
No mundo atual tão dedicado a festas,
Bem diferentes das que havia no passado,
Quando sequer no rosto se beijava
Quem parente não fosse de grã intimidade.
Hoje em qualquer balada o ato é consumado
Na presença de todos e nem sequer se lava
Os vestígios do beijo ostentados sem maldade.
ANUÊNCIA III
Havia no esconder sabor de excitação,
O rosto se mostrava com certa hipocrisia,
Em sendo interrogado, tudo se negaria,
Salvo o vaidoso a gabar-se da ocasião.
Às escondidas, com fervor suplicarão
Que nada fosse dito do amor que ocorreria,
Contrário a tais padrões que o povo permitia,
Feroz manchando da mulher reputação.
Somente em ocasional descuido a gravidez,
Quando era preciso apressar o matrimônio;
Contudo, ainda hoje, ardiloso é o acrimônio,
De quem prepare essa armadilha por sua vez,
Embora agora a funcionar só raramente,
Sem mais o responsável se ter por delinquente.
ANUÊNCIA IV
Falando com franqueza, é até meio inocente,
Totalmente natural o impulso para o beijo
E quando a namorada propicia tal ensejo
Que gravidez é possível saberá perfeitamente.
No tempo antigo, era até coisa frequente,
Quando buscar marido se fazia sem pejo,
Até aconselhavam à jovem um tal adejo,
Já que a defloração era crime permanente.
Mas hoje em dia, somente ocorre gravidez
Quando abandonam-se anticoncepcionais,
Que se podem comprar até em supermercado
E ampla informação em qualquer parte lês,
Não provoca o artifício ocasiões matrimoniais
E nem se pensa no amor com gosto de pecado.
ANUÊNCIA V
Em nada isso condeno, olhando a meu redor,
Pois quem o faz demonstra apenas ter inveja,
Sentindo algum ciúme ao ver como se beija
Casal qualquer de quem nem é conhecedor.
Não que o ciúme seja real desse calor,
Por que enciumar-se do carinho que se enseja,
Se nem se reconhece o rosto que se veja
E que nessa anuência demonstra seu ardor.
Porem no meu passado, surgiu plena ocasião
E o fato de esconder, tempero adicionava,
Nutriam os amantes total cumplicidade.
O que eu lastimo, ao ver tal beijo então,
É saber que a novidade depressa desgastava,
Levando à tola busca de qualquer perversidade.
ANUÊNCIA VI
Mas nem por isso afirmo que toda adolescente
Deseje algum engodo aprontar para prender
Esse rapaz que ama e quer comprometer,
Pois muitas delas há de caráter inocente.
Mas mesmo quando amor é ato previdente,
Ainda sinto em mim certo dó permanecer,
Bem mais de pena por tudo se aprender,
Esquecido o milagre de efeito surpreendente.
Do poço da memória, ainda posso retirar
A maravilha antiga da plena aceitação,
Após a longa espera, em ocasião furtiva.
E quando há tanta troca, só posso lastimar
A ausência desse amor que provém do coração
E mesmo por tolice, transforma a amada em diva.
e-OUSADIA I – 4 AGO 19
Computadores são seres caprichosos,
Que só trabalham quando estão dispostos,
Que se divertem com nossos desgostos,
E só depois se revelam prestimosos...
Como a mulher que ama e não confessa,
Porque deseja o amado até fazer sofrer...
Mas um pouquinho só... e ao pertencer,
Que tesouros de amor então professa!...
É é só de ti, mulher, que aceito isso,
Em plenitude de amor e até divertimento:
O jogo é pueril, mas contigo me contento.
Mas o jogo eletrônico percebo ser remisso:
Não me disponho dessa forma a esperar,
Por uma máquina que nunca hei de beijar...
e-OUSADIA II
E nem é conveniente que lhe pespegue um beijo
Que os pixels da tela poderia engordurar.
Meu contato com o mundo levado a embaciar,
Uma vez que é por ali que o globo inteiro vejo...
Bem sei que existe alguém que peque nesse ensejo,
Um retrato eletrônico apressando-se a oscular,
Sendo mulher, algum baton até mesmo ali deixar,
Mas eu só quero acarinhar a quem almejo...
E francamente, esse beijo contra a poeira
Que se acumula por força eletrostática,
Certo rancor até me pode provocar,
Que nos meus beijos expresso a alma inteira,
A derramar-se tão somente em forma enfática
Na face da mulher que então desejo amar...
e-OUSADIA III
Mas suponhamos que, por ato de magia,
Algum retrato ali possa criar vida
E projetar-se, qual alma perseguida
Para fora da prisão em que existia
Sua semivida, crepuscular valia,
Por entre códigos binários recolhida,
Arriscada em algum programa ser perdida
Em zero e uns de enovelada nostalgia!
Essa figura de tão mística evasão
Para meus braços se precipitaria,
Para então beijo de amor me dar perfeito,
Mas num repente de colheria o coração
E para a tela o corpo inteiro puxaria,
Até tornar-me em um arquivo contrafeito!
COEMPÇÃO I – 5 ago 2019 (*)
(*) Aquisição Recíproca
De tudo o que me dizes, só uma coisa é certa:
Passou-se o tempo em que negavas sentimento;
Agora consideras, já pensas no momento
Em que me acolherá tua alma hoje deserta.
Ainda hesitas, bem sei, em esquivança aberta,
Nesse teu refulgir de caprichoso alento,
Em que o amor se acendeu e no próximo momento
O medo se insinua ao coração, em alerta
Inquietação, que assim nova resistência
Reforça para opor à minha consistência,
Embora saibas que enfim hás de voltar...
Porque, no fundo, já tens tudo calculado,
Os prós e os contras, quietamente, sopesado,
Nosso futuro inteiro já iniciando a planejar...
COEMPÇÃO II
Assim de minha vida coletas os detalhes,
Mandaste teus esculcas em permanente espia,
Bem sabes calcular os meandros dessa via,
Que no momento do bote dificilmente falhes...
Que o roteiro a teu prazer em tal capricho talhes,
De modo a parecer que ao invés se buscaria,
Que só minha insistência o peito te abriria,
Enquanto mansamente calculas os entalhes.
E então me capturas, nesse fingir de entrega,
Que a mulher possui razões que coração algum
De um homem poderá de fato compreender.
E de Pascal de novo contrariarei a sega,
Sabendo bem no fundo meu fado ser só um:
Que a ti somente possa em tal dia pertencer...
COEMPÇÃO III
Nesses jogos de amor sempre há algo de impalpável;
Igual que no xadrez, gambitos se oferecem,
Destarte os mais incautos na teia assim perecem,
Se não sabem reverter essa armadilha amável.
A quantidade de lances é assaz considerável,
Calculados de antemão, que a se mudar não cessem,
Quando lances forçados seus movimentos mecem,
Conduzindo a um xeque-mate de todo irreparável.
Tal como calculaste, no mais meigo cuidado
Que amor será constante e em nada devorado,
Vejo de longe os meandros de tal coempção
Mas finjo nada ver, pois cúmplice já sou,
Votado de antemão para quanto me traçou
A bem-amada minha com prestimosa mão.
TURBILHÃO I -- 6 ago 2019
Acho que viste agora que a proposta
De minha parte, ao menos, é sincera:
Se carne encontro a meu querer disposta
Tê-la também a meu prazer quisera...
Não que pense que com isso te enganara,
Nem que este olhar que o teu sincero arrosta
Se afaste tão somente porque no fundo gosta
De encontros levianos, do olhar que tanto amara!...
Nem que eu só queira te possuir, menina,
Por desprezar depois, igual frágil bonina
Colhida ao torvelinho após quanto sofreu...
Mas é que o mundo é tão mais desumano!
E quem não tem em si um coração profano
Vê destroçado inteiro o sonho em que viveu...
TURBILHÃO II
Já estou cansando de te falar de amor,
Tudo já disse que te dizer quisesse
E somente a nostalgia me parece
Ser provocada por tais versos de calor.
Essa maré de que me fiz autor
Que de invadir tua praia nunca cesse
Lembra sincera mas repetitiva prece
Que em ti cause mais desgosto que favor.
São Paulo até condena essa oração
Mil vezes repetida em ladainha,
Como sendo vã tolice de pagão,
Aborrecendo uma tal repetição,
Para os deuses importuna e até mesquinha,
A provocar certo castigo em ocasião!
TURBILHÃO III
Por outro lado, leio a
objurgação:
“Pedi e recebereis, buscai e achareis”,
Para os céus numa fervente rogação,
“Que as janelas dos céus encontrareis.”
Portanto, ainda te escrevo esta emoção,
Os sentimentos que de mim são reis,
Batendo às portas de teu coração,
Quem sabe igual amor me indicareis.
Talvez provoque só o aborrecimento,
Meus versos descartados sem ser lidos,
Causando apenas um descontentamento!
Mas se te encontro em recíproco momento,
Não mais pareçam tais versos repetidos,
Porém convertam para mim teu pensamento.
PARA RECONHECER I – 7 ago 2019
talvez antes devera meus tolos
pensamentos
em ordem colocar a bem de
inteligíveis...
escuta: vou agora falar-Te de
indizíveis
desejos singulares e castos
juramentos.
tudo quanto Te disse e fiz em
nosso outrora
foi puro e foi sincero, ao menos
no momento:
teu corpo não queria e, em puro
sentimento,
minhalma por Tua alma
enamorou-se à hora
primeira mesma e simples, na
hora em que Te vi
parada à porta muda e Teu olhar
senti,
profundo e meigo e triste a
repousar no meu...
depois, tudo mudou e em tanta
enfatuação,
passados mil momentos de aroma e
hesitação,
ainda me alimento do instante em
que fui Teu...
PARA RECONHECER II
talvez só nessa noite amor se
satisfez
e se banhou em Ti no real
padecimento
da pura exaltação, o sideral
momento
de recolher de Ti o quanto então
me dês
e me entregar a Ti bem mais até
que crês,
meu corpo derramado em pertinaz
alento,
sem guardar para mim sequer um
pensamento,
mas tudo Te entregando, no
instante em que me vês
exalar sobre Ti a alma em sua
matéria
e o corpo derramar-se em ato
espiritual,
sem divisão qualquer, na doação
mais séria.
nunca mais nos chegou um tão
ideal momento,
a entrega limitada de um modo
mais geral,
a troca feita sendo tão só contentamento.
PARA RECONHECER III
mas esse encontro houve em
mística demora,
quando o universo inteiro para
nós se suspendeu,
pararam as estrelas, o sol não
se acendeu,
o vento não soprou, a luz presa
no outrora.
e cada som da vida sumiu-se
nessa hora
em que Tu foste minha, na qual
Te pertenceu,
tudo que havia em mim, no fulgor
em que fui Teu,
instante tão mirífico que nunca
foi-se embora,
mas em mim permanece,
inteiramente puro,
esse instante de amor que não se
repetiu,
por mais que se buscasse, na
excitação da agrura,
igual momento ideal, envolto no
prazer,
que só dentro do espírito depois
de produziu
o mágico momento do máximo
querer!
ADOÇÃO I – Wm. Lagos, 05 MAR 79 (*)
(*) Revisto e completado a 8 agosto 19
Tutto che umano sia, m'appartene.
----- ARETINO
não venho hoje aqui acicatar virtude
ou elogiar o vício, que se esconde;
todo e qualquer de nós sabe bem onde
recobre e enterra aquilo em que se ilude.
porque vício e virtude são cortinas --
cenários irreais de panoramas
que requer a comédia que proclamas
no dia a dia qualquer que te destinas...
misturo aqui, em límpida aquarela
a bênção/maldição tão mais singela
quanto é difícil amar a corrupção,
que nem por isto é impura e desumana,
pois nada é estranho a nós que a mente humana
gerar possa e nutrir bem fundo ao coração!...
ADOÇÃO II
e nem por isso merecerá aprovação,
pelo menos de mim, se bem qualificada
qualquer ideia em si mal intencionada
que se possa chamar de perversão;
de acordo com a atual lei, crimes não são
se a concordância tenha sido declarada
entre adultos, livremente praticada,
por mais que a nós pareça falsidão.
que a aparente vítima consinta,
movida por intenso masoquismo,
a sofrer os efeitos do sadismo;
mas na tendência atual há tanto crime,
tal como o antigo código assim pinta,
mas que o código presente descrimine!
ADOÇÃO III
ficam somente as coisas mais horrendas,
em que a vítima claramente é massacrada,
sem ser de assentimento partilhada
a prática cruel dessas agendas;
pedofilia e estupro são as fendas
por que a antiga moral é praticada;
criança alguma poderá ser molestada
ou conduzida por imperfeitas sendas.
contudo, a ênfase atual no feminismo
transforma em crime coisa antes aceita
entre casais, violência em tal modismo,
que até apoda de intelectual tortura,
a tal ponto que em qualquer futura feita,
novos padrões a moral adote com lisura.
ADOÇÃO IV
que seja então punida a raiva humana
perante um ato praticado de traição,
porém não o adultério da ocasião,
uma inversão de que a razão reclama;
claro que prática até houve desumana,
bem mais punida a mulher em sujeição
que seu cúmplice e partícipe da ação,
mas a justiça atual nada proclama,
quando um marido quer sexo realizar
com sua própria esposa, mas sua negativa
estupro possa assim configurar;
ou quando grave discussão se realizar,
quer a ofensa da mulher seja incisiva,
só do marido a reação se castigar!...
ADOÇÃO V
pois se desprezam quaisquer antecedentes
ao se aplicar a “lei maria da penha”
e pior coisa ainda temo que nos venha
em um futuro de exageros mais ardentes,
em seguimento das indústrias aparentes
na petição de pensões que a esposa tenha,
parte importante servindo como lenha
para a riqueza de advogados mais veementes,
a quem só importa tal causa vencer
para polpudos honorários receber,
a pretexto de alimentos ou de guarda,
quase sempre dos maridos retirada,
por mais que a esposa seja a real culpada
dessa separação que em nada a lei retarda.
ADOÇÃO VI
certamente acredito que as crianças
deverão criadas ser com pleno amor,
mas que a adolescentes se dê igual valor
à pedofilia extrapola tais mudanças;
ou que essa lei de novas maniganças
proíba aos pais qualquer castigo protetor
ou que a um adulto castiguem com vigor
a quem adolescente seduziu em suas andanças!
não me parece ser magnânimo ou gentil,
antes a forma de enfraquecer os laços
que há séculos as famílias têm mantido
e identifico mesmo aqui intenção vil,
realmente a nos mostrar péssimo traços,
na imposição de qualquer alvo escondido.
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