domingo, 1 de novembro de 2020


  

 

ANUÊNCIA I – 03 ago 19

 

São raros os instantes em que nos encontramos,

Mais raros os momentos em que haja concordância;

Nós só nos vemos sempre em frase de elegância,

Que de esgrimar rutila; assim nos entrelaçamos

 

Em combate verbal e à flor da pele apresentamos,

Em carne viva os nervos, presa da inconstância;

Que se conturbam e esbatem, sem do beijo a instância

Que os lábios se dariam, porém os congelamos

 

Nessa cascata irrequieta e inútil que exaspera;

Porque nos condenamos à sombra desta espera,

Até encontrar, enfim, do ardor uma ocasião.

 

E alfim nos evitamos, temendo se revele,

Aos olhos dos estranhos, a mesma exultação

Que os beijos nos fizera gozar, à flor da pele...

 

ANUÊNCIA II

 

São coisas do passado agora manifestas,

Bem menos em ardor que plena nostalgia,

Essa fome de amor que no antanho nos reunia

É apenas o objeto romântico das gestas...

 

Diluídas no presente tais ocasiões funestas,

São outros os padrões que a sociedade cria,

Esconder um evento até causa zombaria,

No mundo atual tão dedicado a festas,

 

Bem diferentes das que havia no passado,

Quando sequer no rosto se beijava

Quem parente não fosse de grã intimidade.

 

Hoje em qualquer balada o ato é consumado

Na presença de todos e nem sequer se lava

Os vestígios do beijo ostentados sem maldade.

 

ANUÊNCIA III

 

Havia no esconder sabor de excitação,

O rosto se mostrava com certa hipocrisia,

Em sendo interrogado, tudo se negaria,

Salvo o vaidoso a gabar-se da ocasião.

 

Às escondidas, com fervor suplicarão

Que nada fosse dito do amor que ocorreria,

Contrário a tais padrões que o povo permitia,

Feroz manchando da mulher reputação.

 

Somente em ocasional descuido a gravidez,

Quando era preciso apressar o matrimônio;

Contudo, ainda hoje, ardiloso é o acrimônio,

 

De quem prepare essa armadilha por sua vez,

Embora agora a funcionar só raramente,

Sem mais o responsável se ter por delinquente.

 

ANUÊNCIA IV

 

Falando com franqueza, é até meio inocente,

Totalmente natural o impulso para o beijo

E quando a namorada propicia tal ensejo

Que gravidez é possível saberá perfeitamente.

 

No tempo antigo, era até coisa frequente,

Quando buscar marido se fazia sem pejo,

Até aconselhavam à jovem um tal adejo,

Já que a defloração era crime permanente.

 

Mas hoje em dia, somente ocorre gravidez

Quando abandonam-se anticoncepcionais,

Que se podem comprar até em supermercado

 

E ampla informação em qualquer parte lês,

Não provoca o artifício ocasiões matrimoniais

E nem se pensa no amor com gosto de pecado.

 

ANUÊNCIA V

 

Em nada isso condeno, olhando a meu redor,

Pois quem o faz demonstra apenas ter inveja,

Sentindo algum ciúme ao ver como se beija

Casal qualquer de quem nem é conhecedor.

 

Não que o ciúme seja real desse calor,

Por que enciumar-se do carinho que se enseja,

Se nem se reconhece o rosto que se veja

E que nessa anuência demonstra seu ardor.

 

Porem no meu passado, surgiu plena ocasião

E o fato de esconder, tempero adicionava,

Nutriam os amantes total cumplicidade.

 

O que eu lastimo, ao ver tal beijo então,

É saber que a novidade depressa desgastava,

Levando à tola busca de qualquer perversidade.

 

ANUÊNCIA VI

 

Mas nem por isso afirmo que toda adolescente

Deseje algum engodo aprontar para prender

Esse rapaz que ama e quer comprometer,

Pois muitas delas há de caráter inocente.

 

Mas mesmo quando amor é ato previdente,

Ainda sinto em mim certo dó permanecer,

Bem mais de pena por tudo se aprender,

Esquecido o milagre de efeito surpreendente.

 

Do poço da memória, ainda posso retirar

A maravilha antiga da plena aceitação,

Após a longa espera, em ocasião furtiva.

 

E quando há tanta troca, só posso lastimar

A ausência desse amor que provém do coração

E mesmo por tolice, transforma a amada em diva.

 

e-OUSADIA I – 4 AGO 19

 

Computadores são seres caprichosos,

Que só trabalham quando estão dispostos,

Que se divertem com nossos desgostos,

E só depois se revelam prestimosos...

 

Como a mulher que ama e não confessa,

Porque deseja o amado até fazer sofrer...

Mas um pouquinho só...  e ao pertencer,

Que tesouros de amor então professa!...

 

É é só de ti, mulher, que aceito isso,

Em plenitude de amor e até divertimento:

O jogo é pueril, mas contigo me contento.

 

Mas o jogo eletrônico percebo ser remisso:

Não me disponho dessa forma a esperar,

Por uma máquina que nunca hei de beijar...

 

e-OUSADIA II

 

E nem é conveniente que lhe pespegue um beijo

Que os pixels da tela poderia engordurar.

Meu contato com o mundo levado a embaciar,

Uma vez que é por ali que o globo inteiro vejo...

 

Bem sei que existe alguém que peque nesse ensejo,

Um retrato eletrônico apressando-se a oscular,

Sendo mulher, algum baton até mesmo ali deixar,

Mas eu só quero acarinhar a quem almejo...

 

E francamente, esse beijo contra a poeira

Que se acumula por força eletrostática,

Certo rancor até me pode provocar,

 

Que nos meus beijos expresso a alma inteira,

A derramar-se tão somente em forma enfática

Na face da mulher que então desejo amar...

 

e-OUSADIA III

 

Mas suponhamos que, por ato de magia,

Algum retrato ali possa criar vida

E projetar-se, qual alma perseguida

Para fora da prisão em que existia

 

Sua semivida, crepuscular valia,

Por entre códigos binários recolhida,

Arriscada em algum programa ser perdida

Em zero e uns de enovelada nostalgia!

 

Essa figura de tão mística evasão

Para meus braços se precipitaria,

Para então beijo de amor me dar perfeito,

 

Mas num repente de colheria o coração

E para a tela o corpo inteiro puxaria,

Até tornar-me em um arquivo contrafeito!

 

COEMPÇÃO I – 5 ago 2019 (*)

(*) Aquisição Recíproca

 

De tudo o que me dizes, só uma coisa é certa:

Passou-se o tempo em que negavas sentimento;

Agora consideras, já pensas no momento

Em que me acolherá tua alma hoje deserta.

 

Ainda hesitas, bem sei, em esquivança aberta,

Nesse teu refulgir de caprichoso alento,

Em que o amor se acendeu e no próximo momento

O medo se insinua ao coração, em alerta

 

Inquietação, que assim nova resistência

Reforça para opor à minha consistência,

Embora saibas que enfim hás de voltar...

 

Porque, no fundo, já tens tudo calculado,

Os prós e os contras, quietamente, sopesado,

Nosso futuro inteiro já iniciando a planejar...

 

COEMPÇÃO II

 

Assim de minha vida coletas os detalhes,

Mandaste teus esculcas em permanente espia,

Bem sabes calcular os meandros dessa via,

Que no momento do bote dificilmente falhes...

 

Que o roteiro a teu prazer em tal capricho talhes,

De modo a parecer que ao invés se buscaria,

Que só minha insistência o peito te abriria,

Enquanto mansamente calculas os entalhes.

 

E então me capturas, nesse fingir de entrega,

Que a mulher possui razões que coração algum

De um homem poderá de fato compreender.

 

E de Pascal de novo contrariarei a sega,

Sabendo bem no fundo meu fado ser só um:

Que a ti somente possa em tal dia pertencer...

 

COEMPÇÃO III

 

Nesses jogos de amor sempre há algo de impalpável;

Igual que no xadrez, gambitos se oferecem,

Destarte os mais incautos na teia assim perecem,

Se não sabem reverter essa armadilha amável.

 

A quantidade de lances é assaz considerável,

Calculados de antemão, que a se mudar não cessem,

Quando lances forçados seus movimentos mecem,

Conduzindo a um xeque-mate de todo irreparável.

 

Tal como calculaste, no mais meigo cuidado

Que amor será constante e em nada devorado,

Vejo de longe os meandros de tal coempção

 

Mas finjo nada ver, pois cúmplice já sou,

Votado de antemão para quanto me traçou

A bem-amada minha com prestimosa mão.

 

TURBILHÃO I  -- 6 ago 2019

 

Acho que viste agora que a proposta

De minha parte, ao menos, é sincera:

Se carne encontro a meu querer disposta

Tê-la também a meu prazer quisera...

 

Não que pense que com isso te enganara,

Nem que este olhar que o teu sincero arrosta

Se afaste tão somente porque no fundo gosta

De encontros levianos, do olhar que tanto amara!...

 

Nem que eu só queira te possuir, menina,

Por desprezar depois, igual frágil bonina

Colhida ao torvelinho após quanto sofreu...

 

Mas é que o mundo é tão mais desumano!

E quem não tem em si um coração profano

Vê destroçado inteiro o sonho em que viveu...

 

TURBILHÃO II

 

Já estou cansando de te falar de amor,

Tudo já disse que te dizer quisesse

E somente a nostalgia me parece

Ser provocada por tais versos de calor.

 

Essa maré de que me fiz autor

Que de invadir tua praia nunca cesse

Lembra sincera mas repetitiva prece

Que em ti cause mais desgosto que favor.

 

São Paulo até condena essa oração

Mil vezes repetida em ladainha,

Como sendo vã tolice de pagão,

 

Aborrecendo uma tal repetição,

Para os deuses importuna e até mesquinha,

A provocar certo castigo em ocasião!

 

TURBILHÃO III

 

 Por outro lado, leio a objurgação:

“Pedi e recebereis, buscai e achareis”,

Para os céus numa fervente rogação,

“Que as janelas dos céus encontrareis.”

 

Portanto, ainda te escrevo esta emoção,

Os sentimentos que de mim são reis,

Batendo às portas de teu coração,

Quem sabe igual amor me indicareis.

 

Talvez provoque só o aborrecimento,

Meus versos descartados sem ser lidos,

Causando apenas um descontentamento!

 

Mas se te encontro em recíproco momento,

Não mais pareçam tais versos repetidos,

Porém convertam para mim teu pensamento.

 

PARA RECONHECER I – 7 ago 2019

 

talvez antes devera meus tolos pensamentos

em ordem colocar a bem de inteligíveis...

escuta: vou agora falar-Te de indizíveis

desejos singulares e castos juramentos.

 

tudo quanto Te disse e fiz em nosso outrora

foi puro e foi sincero, ao menos no momento:

teu corpo não queria e, em puro sentimento,

minhalma por Tua alma enamorou-se à hora

primeira mesma e simples, na hora em que Te vi

parada à porta muda e Teu olhar senti,

profundo e meigo e triste a repousar no meu...

 

depois, tudo mudou e em tanta enfatuação,

passados mil momentos de aroma e hesitação,

ainda me alimento do instante em que fui Teu...

 

PARA RECONHECER II

 

talvez só nessa noite amor se satisfez

e se banhou em Ti no real padecimento

da pura exaltação, o sideral momento

de recolher de Ti o quanto então me dês

 

e me entregar a Ti bem mais até que crês,

meu corpo derramado em pertinaz alento,

sem guardar para mim sequer um pensamento,

mas tudo Te entregando, no instante em que me vês

exalar sobre Ti a alma em sua matéria

e o corpo derramar-se em ato espiritual,

sem divisão qualquer, na doação mais séria.

 

nunca mais nos chegou um tão ideal momento,

a entrega limitada de um modo mais geral,

 a troca feita sendo tão só contentamento.

 

PARA RECONHECER III

 

mas esse encontro houve em mística demora,

quando o universo inteiro para nós se suspendeu,

pararam as estrelas, o sol não se acendeu,

o vento não soprou, a luz presa no outrora.

 

e cada som da vida sumiu-se nessa hora

em que Tu foste minha, na qual Te pertenceu,

tudo que havia em mim, no fulgor em que fui Teu,

instante tão mirífico que nunca foi-se embora,

mas em mim permanece, inteiramente puro,

esse instante de amor que não se repetiu,

por mais que se buscasse, na excitação da agrura,

 

igual momento ideal, envolto no prazer,

que só dentro do espírito depois de produziu

o mágico momento do máximo querer!

 

ADOÇÃO I – Wm. Lagos,  05 MAR 79 (*)

(*) Revisto e completado a 8 agosto 19

Tutto che umano sia, m'appartene.

----- ARETINO

não venho hoje aqui acicatar virtude

ou elogiar o vício, que se esconde;

todo e qualquer de nós sabe bem onde

recobre e enterra aquilo em que se ilude.

 porque vício e virtude são cortinas --

cenários irreais de panoramas

que requer a comédia que proclamas

no dia a dia qualquer que te destinas...

 

misturo aqui, em límpida aquarela

a bênção/maldição tão mais singela

quanto é difícil amar a corrupção,

que nem por isto é impura e desumana,

pois nada é estranho a nós que a mente humana

gerar possa e nutrir bem fundo ao coração!...

 

ADOÇÃO II

 

e nem por isso merecerá aprovação,

pelo menos de mim, se bem qualificada

qualquer ideia em si mal intencionada

que se possa chamar de perversão;

de acordo com a atual lei, crimes não são

se a concordância tenha sido declarada

entre adultos, livremente praticada,

por mais que a nós pareça falsidão.

 

que a aparente vítima consinta,

movida por intenso masoquismo,

a sofrer os efeitos do sadismo;

mas na tendência atual há tanto crime,

tal como o antigo código assim pinta,

mas que o código presente descrimine!

 

ADOÇÃO III

 

ficam somente as coisas mais horrendas,

em que a vítima claramente é massacrada,

sem ser de assentimento partilhada

a prática cruel dessas agendas;

pedofilia e estupro são as fendas

por que a antiga moral é praticada;

criança alguma poderá ser molestada

ou conduzida por imperfeitas sendas.

 

contudo, a ênfase atual no feminismo

transforma em crime coisa antes aceita

entre casais, violência em tal modismo,

que até apoda de intelectual tortura,

a tal ponto que em qualquer futura feita,

novos padrões a moral adote com lisura.

 

ADOÇÃO IV

 

que seja então punida a raiva humana

perante um ato praticado de traição,

porém não o adultério da ocasião,

uma inversão de que a razão reclama;

claro que prática até houve desumana,

bem mais punida a mulher em sujeição

que seu cúmplice e partícipe da ação,

mas a justiça atual nada proclama,

 

quando um marido quer sexo realizar

com sua própria esposa, mas sua negativa

estupro possa assim configurar;

ou quando grave discussão se realizar,

quer a ofensa da mulher seja incisiva,

só do marido a reação se castigar!...

 

ADOÇÃO V

 

pois se desprezam quaisquer antecedentes

ao se aplicar a “lei maria da penha”

e pior coisa ainda temo que nos venha

em um futuro de exageros mais ardentes,

em seguimento das indústrias aparentes

na petição de pensões que a esposa tenha,

parte importante servindo como lenha

para a riqueza de advogados mais veementes,

 

a quem só importa tal causa vencer

para polpudos honorários receber,

a pretexto de alimentos ou de guarda,

quase sempre dos maridos retirada,

por mais que a esposa seja a real culpada

dessa separação que em nada a lei retarda.

 

ADOÇÃO VI

 

certamente acredito que as crianças

deverão criadas ser com pleno amor,

mas que a adolescentes se dê igual valor

à pedofilia extrapola tais mudanças;

ou que essa lei de novas maniganças

proíba aos pais qualquer castigo protetor

ou que a um adulto castiguem com vigor

a quem adolescente seduziu em suas andanças!

 

não me parece ser magnânimo ou gentil,

antes a forma de enfraquecer os laços

que há séculos as famílias têm mantido

e identifico mesmo aqui intenção vil,

realmente a nos mostrar péssimo traços,

na imposição de qualquer alvo escondido.


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