(ESTÁTUA DE MARILYN MONROE EM CHICAGO)
MANÔMETRO I – 21 AGO 19
É lugar
É tempo de contar segredos:
É morte
Se odiei
Se amei, enfim, é tudo irrelevante
Se indiferi
Se vivi
Se guardei no coração os meus degredos
Se acolhi
Não são
Tudo é apenas a sombra de um instante
Talvez
Desejo
Reivindico de ti a névoa de um momento
Suplico
Confiante
Assustado do amor de uma donzela
Indeciso
Somente
Não apenas com suspiro me contento
Infeliz
Não sou
Eu sou quem mais persegue esta gazela...
Sou eu?
Esquiva
Temerosa de mim, mulher tão bela
Anelante
Quanto jamais
Quanto sempre esperei achar um dia
Quão talvez
Para aquecer-me
Para esfriar-me de novo o coração.
Para amornar-me
Ela chegou
Mas não veio integralmente a minha estrela...
Só me espera
Ainda aguarda
Só se entrega depois de outra salmodia
Se recusa
Para negar
Por revelar quão grande é sua emoção...
Por nem saber.
MANÔMETRO II
Porém hoje
É tempo de medir o sentimento,
Em seu alento
Ou desalento
Quantas batidas dá o coração,
No remanso
Do descanso
Desatinado no instante da emoção,
No arrepio
Do calafrio
Completamente dominado o pensamento,
Nessa vertente
Toda inclemente
O consciente colhido em espavento,
No maelstrom
De vasto som
Incapaz de calcular qual a razão
Na saga astuta
Silvo na gruta
Que essa furtiva e violenta sensação
De espalhafato
E então recato
Se transformou em turbilhão de vento.
Toda incontida
Por mais sofrida
Afinal, se a emoção é bem parelha,
Toda esfuziante,
Toda escaldante
Qual armadilha esconde a hesitação,
Ideia arguta
Nada impoluta
Qual a fera a espreitar por tal centelha,
Rangendo as presas
Nas incertezas
Por que razão ela chega e então se enconde
Em esquivança
Sem ter bonança
Nessas barreiras sem explicação
Ali um conflito
Na gesta aflito
E quando o faz, ela se esconde aonde...
Será que sabe?
MANÔMETRO III
E quem calcula
Qual o ritmo que a emoção demonstra
Plena de anelo
No seu desvelo
E que o manômetro procura calcular,
Mas não consegue
Por mais se apegue
Por que há dias de tal dissimular.
Existe sanha
Nessa artimanha
Quem sabe então um metrônomo se encontra
Na sinfonia
Da nostalgia
Que a ajude a calcular o pró e o contra
Qual validade
Traz a saudade
Das mutações que nem pode explicar
Que nem atinge
Ou apenas finge
Para si mesma, no rogo do hesitar,
Toda acirrada
ensimesmada
Onde ela guarda do vacilar a montra.
Será uma arca
Que o peito abarca
Mede o manômetro a força da emoção,
Que não se afeita
Nunca sujeita
Mede o metrônomo o ritmo do beijo,
Em vasto adejo
Ou só em bocejo
Mede o odômetro o número dos passos,
Na velha dança
Que não descansa
Mas que de fato encompassa o coração
Na melodia
Que não se ouvia
Salvo no ritmo e tormento do desejo,
Entrega cega
Quando se apega
Quando se deixa envolver pelos meus braços...
E permanece?
ÊXODO I – 22 AGO 2019
não é que Euterpe me tenha Abandonado,
está sempre comigo e me Espicaça
a música escrever, em plena Graça,
da inspiração inteiro Consagrado.
podia compor de novo, mesmo Agora:
quando quiser, a musa me Alicia,
tem poder sobre mim, tem Harmonia
para me dar a toda e qualquer Hora...
mas eu cansei de compor mais, Entendes?
é demorado escrever, nota por Nota,
nos pentagramas deitar linha por Linha.
depois, se escrevo versos, me Compreendes,
enquanto permanece morta e Ignota
a voz da melodia que foi Minha.
ÊXODO II
por muitos anos já música Escrevo,
esquecidas tais centenas de Canções,
não são do apreço de vastas Multidões,
nenhum cantor famoso eu Conheci.
foram letras bem formosas que Escolhi
para inspirar-me em tais Composições,
raramente a empregar minhas Redações,
sobre poemas de outrem as Concebi.
não obstante, com alcance Limitado,
alguns poucos conhecidos as Cantaram,
diversas vezes ao palco até Subi,
mas como eu tudo eu sou Exagerado,
novas canções a
seguir se Apresentaram
e nem eu mesmo as anteriores Repeti.
ÊXODO III
também escrevi
suites e Sonatas
para piano, violoncello e Violino,
ainda compus toccatas e algum Hino,
para corais igualmente fiz Cantatas,
as partituras bem claras, bem Exatas
eu redigi, quais impressas seu Destino,
mas redundando em sonho Pequenino,
por mais que impressas parecessem Natas.
a maioria se perdeu quando Incendiou
a casa em que morei; restam Trezentas,
que numa estante empilhadas têm Guaridas,
mas não importa o quanto se Guardou,
sem que alguém leia e toque aos quatro Ventos,
não são mais que melodias Falecidas...
MITOSE I – 23 agosto 2019
(almejei
de há muito pressenti que bem metade
receei)
(vagueava
de mim faltava, idônea companheira,
sobrava)
(meiga
que sempre amante fosse e alvissareira
honesta)
(de
nós
se orgulhasse de mim pela cidade...
sem
pejo)
(mostrasse,
que me ostentasse, com felicidade,
revelasse)
(enriquecesse
que completasse o quanto me faltava
iluminasse)
(amparasse
que me ajudasse a achar o que buscava
indicasse)
(parelha
e que suave fosse, e sem maldade...
segura)
(beberia
porque preciso desse apoio, tanto!...
dependo)
(vender
poder confiar a alguém o coração
iludir)
(certeza
sem temor de gracejo ou zombaria..
desaponto)
(rara vez
que tanta vez me fez brotar o pranto
alguma vez)
(no presente,
no passado, nas fauces da traição
no futuro)
(fiel
de quem leal a mim só deveria...
doar-se.)
MITOSE II
(chamei
em vão busquei quem realmente completasse
procurei)
(de nós
essa parte de mim que está faltando,
de dois)
(azafamasse
alguém que se esforçasse me ajudando,
derramasse)
(bem rápido
que minha vida, aos poucos, ampliasse,
às pressas)
(alimentar
sem que a me acompanhar se limitasse,
satisfazer)
(outros
mas que a novos horizontes alcançando,
simples)
(abranger
fosse espalhar esta obra de meu mando,
semear)
(desprezada
sem que olvidada em seu total ficasse;
ignorada)
(protestar
não devo me queixar, pois companhia
reclamar)
(deixou
não me faltou e foi mesmo assaz frequente,
abandonou)
(muita vez
o amor, às vezes, até mesmo surpreendente,
chi lo sà?)
(fantástica
nessa agridoce seara de alegria,
temporária)
(encantei
porém nunca encontrei quem difundisse
mesmerizei)
(no antanho
as melodias que anteriormente eu redigisse...
para nada).
MITOSE III
(ocorreu
dessa forma, nunca houve a divisão
se gerou)
(esforço
que meu trabalho assim reproduzisse,
orgulho)
(breves
instantes
elas afirmam, em seus acessos de meiguice,
insistências)
(não mais que
que quanto faço, é feito à perfeição,
sempre atinge)
(foi semear
mas nunca uma a apresentou à multidão,
propalou)
(bem firme
sempre a meu lado existindo quem sorrisse
permanecendo)
(consolo desse
e me apoiasse em meus dias de tolice,
e me abraçasse)
(seus
ventres
em seus filhos a me dar reprodução,
seus
óvulos)
(compartilhar
para assim se difundir meu deeneá,
se renovar)
(vaidade
nessa obra de carinho e feromônio,
escolha)
(conhece
mas ninguém ouve as melodias que escrevi
se importa)
(presumo
e hoje em dia até acredito que nem há
descuro)
(protender
alguém que venha a deiscender o hormônio
serpentinar)
(versos
dos cantos mortos em que algum dia eu cri...
sem grande ardor).
APENAS
I -- 24 ago 19
se for
por amor, sim... por gratidão?
não
estou te comprando e nem eu quero;
por
muito que deseje, eu desespero
de teu
amplexo, num beijo de amplidão.
e se
amor queres fazer, por seres grata,
nada me
deves, exceto o teu carinho,
gratuito
e voluntário, em comezinho
fremir
de beijo, em beijo que contata
e nesse
beijo, enfim, carne se agita
e a
simples carne torna-se bonita,
na
exaltação total, quando se quer
um
corpo de homem, só por deleitoso,
um
corpo de homem, feito mais fogoso,
na
exultação de um corpo de mulher!
APENAS
II
nesses
jogos de amor tanto se troca,
nessas
trocas de amor tanto se joga,
nesses
jogos de amor tanto se emboca,
nessas
bocas de amor tanto se aloja!
nessas
lojas de amor tanto se vende,
nessas
vendas de amor tanto se canta,
nesses
cantos de amor tanto se encanta,
nesses
encantos de amor tanto se mente!
nas
mentiras de amor tanta verdade,
nas
verdades de amor tanta mentira,
nas
solidões de amor tanta fraqueza,
em
fraquezas de amor tanta saudade,
em
saudades de amor, tanto se gira,
em tais
giros de amor... tanta tristeza!
APENAS
III
e hoje
que o beijo encontra outros destinos
é até arcaico
se falar de amor
que um
par oposto sejá apenas cumpridor,
alvo
exclusivo dos pequenos desatinos;
hoje
que a vida gera sonhos pequeninos
e
tantos buscam mesmo mais calor
com
quem possam partilhar do mesmo ardor,
mesmo
que os pares tanjam os mesmos sinos,
talvez
seja realmente ultrapassado
que em
mim proclame amor só pelo oposto
e só
amizade e respeito ao semelhante...
porém o
peito só me dói descompassado
quando
dos lábios de mulher percebo o gosto,
quando
a percebo fremir no mesmo instante!
LAÇARIA
I – 25 ago 19
Não
quero mais ser eu, quero ser nós:
Que
seja um corpo só, que seja apenas
Uma
alma a habitar entre açucenas
De amor
compartilhado; e viva empós
Recíproca
lealdade em duplo ilhós
Uma
alma completa e sem empenas,
Gêmea
com gêmeo, em permanentes cenas
Colado
o sonho um dia cortado por algoz.
É isso
que desejo, união de corpo e alma,
Que me
efervesça a alma e ao corpo me dê calma,
Ao ver
que és tu que exalas o ar que então respiro.
Que
seja assim, então: um tal amor egrégio,
Que
possa garantir-me sem fim o privilégio
De
viver e então morrer em teu suspiro.
LAÇARIA
II
Que nos
enlace assim igual arreio,
Que em
mim te assentes como sendo a sela,
Que em
ti me assente, igual postura bela,
Nessa
correia firme e sem meneio;
Que se
afaste de nós qualquer receio,
Que
sempre haja segurança na procela,
Tendo a
meu lado a tua face bela,
Longe
de mim a solidão que odeio;
Que não
haja fissuras nesse laço,
Cortado
em fino e impoluto couro,
Uma
ponta seguras, a outra eu pego,
Pelas
cinturas a confirmar o abraço,
Cada
volta dobrada em fio de ouro,
Cada nó
desse laço um novo apego.
LAÇARIA
III
Que se
desfaça em nós o corte antigo,
Que em carne
e carne se abra uma ferida
E
cicatrize a seguir numa só vida,
Um
duplo corpo atrelado à mesma biga,
Para um
só lado contrariando intriga,
Na
mesma senda de um só amor se lida
Única e
só direção por nós querida,
Empós o
alvo final que nos abriga
E que
assim seja qual em velha saga,
No
mesmo empenho dessa mesma questa
Que
essas pegadas do passado apaga
E só
demarca as passadas do futuro,
Ao ar
lançando o som da antiga gesta,
Que
jamais pode entoar qualquer perjuro.
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