INNER WOMAN, THÉODORE, CHASSERIEAU
VERNISSAGE I – 15 AGO 2019
agora eu sei, à lume de ironia,
o que sem eu saber me ocorreria
e me deixava o coração pesado
pela ansiedade mesma que eu
sentia...
não sei o que esperava e,
realmente,
enfrentei realidade
surpreendente,
sem ter espanto, sempre
controlado,
talvez porque meu corpo já
pressente,
antes que a mente saiba o que
suceda,
quais os eventos que a vida me
conceda,
apenas sem saber quando virão.
mas que hão de vir, por certo
estou seguro:
teu beijo hei de gozar, perene
e puro,
no próprio palpitar do
coração...
VERNISSAGE II
e quando ele chegar, o exporei,
alegremente, para que todos
vejam
a entrega mútua e que perenes
sejam
os votos que em tal data te
farei;
cada promessa ali emoldurarei,
para a vista das visitas que se
ensejam,
mesmo daqueles que ao ver
bocejam,
nas paredes de minha face os
pregarei
e o vinho servirei de puro
amor,
de emoção pura serão os
salgadinhos
e assinarão um livro de
presença...
embora fraca seja em mim a
crença
de que alguém queira comprar os
meus carinhos,
assim expostos com tanto
destemor...
VERNISSAGE III
meu corpo sabe o que haverá
então,
numa certa percepção
semipsíquica,
sem que realmente seja idílica,
mas marchetada plena de emoção;
na mente dúvidas se apresentarão,
mas os hormônios em valência
cíclica
a mente embriagarão com força
etílica
e os pensamentos não mais
protestarão,
porque, afinal, são meus os que
conservo;
os que não quero costumo
descartar
e sou o mestre dessa exposição,
por mais que seja do bem-querer
o servo,
cada momento de meu escravizar
nessas paredes mostrado sem
pudor.
SOLICITUDE I – 16 ago 19
só espero de ti, donzela Meiga,
que não te afastes de mim em
Peregrina,
rubra altivez -- resquício de
Menina
engastada em seus sonhos de
Manteiga...
que não mais te surpreenda o
casto Beijo,
negado em mútua e simples
Compreensão;
se afinidade existe na Emoção,
porque do corpo extirparei
Desejo?
que alburno puro, terno e limpo
Sexo
quase tão só à vida nos traz
Nexo
e nos afaga em sentimento
Honesto,
pois te desejo na mais nobre
Intenção:
por desdenhar tabus, que mais
Detesto,
quero tua carne... pois nela
está o Coração...
SOLICITUDE II
de fato, até afirmar seria
Tolice
que queira apenas de ti o
Coração;
os demais órgãos, em sua vasta
Multidão,
se emurchariam em toda a sua
Ledice;
pois sem o coração, como já
Disse,
que ocorreria ao corpo inteiro,
Então?
mesmo que o cérebro seja o amo
da Emoção,
rapidamente a sua morte se
Cumprisse
e de repente, por mais que
Palpitasse
o coração, sentimentos Perderia
e nada mais me poderia Dar
e foi preciso, assim, que
Confessasse
esse desejo que me Dominaria
no espantoso instante do
Abraçar!
SOLICITUDE III
como azteca não sou, teu
Coração
arrancar de teu peito não Desejo;
seria tétrico lhe dar direto
Beijo,
contido o órgão na palma de
minha Mão;
nisto somente alegoria tem
Razão:
por que pedir-te o coração em
tal Ensejo?
em ti palpita no mais gentil
Adejo,
porém por força da
Circulação...
se bem eu queira que circule em
Nós
mística rede de sangue
Espiritual,
nessa total e mútua Transfusão,
tal como houve um dia entre os
Avós,
por mais que tenha sido
Imaterial
durante o evento de nossa
Geração.
ANELO I – 17 agosto 19
Eu já não esperava, sabes? Percebia
nas tuas retiradas e retornos,
uma implosão de luz, de sonhos mornos,
que nunca, enfim, minhalma aqueceria...
Por isso me sentia deprimido,
eu me esforçara tanto, era constante,
e me sentia tão fraco e delirante,
por todo o meu querer ser devolvido...
E agora pronuncias, como um bem
que te pertença, meu nome, meu carinho;
mal ouso imaginar que, de mansinho,
amor tenha brotado em ti também...
não mais amor de amigo, nem de irmão:
mas, como homem, possuir-te o coração...
ANELO II
Alegoria de novo, um eufemismo:
O que eu faria tão só com o coração?
Iria guardá-lo em um vasto botijão
para o prazer de olhá-lo com cinismo?
Ou seria tolo o bastante, em meu sadismo,
para falar através dessa prisão
com órgão pálido e sem palpitação,
num acesso do mais puro masoquismo?
Como a esperar que o coração falasse,
mesmo guardado em líquido formol
e que amor por mim ainda expressasse?
O que desejo são palavras de tua boca,
que me dissesses, a voz de emoção rouca:
“Eu te amo!” – qual clarim nesse arrebol...
ANELO III
Porque, de fato, é esse o meu anelo,
mesmo que nada mais disso resulte,
mesmo que a toda a sociedade insulte,
quero tal frase ouvir, qual sonho belo,
saindo de teus lábios, tanto zelo
recompensado num ritual de culto,
de minha insistência o mais total indulto,
nessa minha ânsia de por demais querê-lo,
muito sincera e firme para mim,
como é sincero e firme meu alento,
como é sincero e firme o meu amor
e que me julgue recompensado assim
pela voragem do mútuo sentimento,
dois corações a palpitar no mesmo ardor.
ALTERNATIVA I – 18 ago 2019
Que coisa antiga é o humano sentimento!
Repetido e infinito em gerações:
Mulher que encontra um homem e atrações
Rebrotam sem cessar nesse momento...
Um dia te encontrei, foi um portento
Que me entrou pelos olhos, emoções
Contraditórias nessas gradações
Que não se pode ter, sonhos ao vento!...
E como foi estranha a relação
Que nos uniu os dois, pois não querias
E então querias mais, porque sabias...
E agora se completa esta paixão,
Feliz, enfim, nessa alegria louca
De escutar o meu nome de tua boca!...
ALTERNATIVA II
E se acaso, no momento do prazer,
Eu escutasse o nome de um estranho?
Seria este um espanto tão tamanho
Que me fizesse, subitamente, erguer?
Seria um choque, certamente, um surpreender,
Que de espavento me cobrisse em banho,
No amor-próprio um bem marcado lanho,
Mas haveria razão em tal sofrer...?
Que surpresa real se encontraria
Saber que alguém houvera em teu passado,
Que o inconsciente quisesse relembrar?
Já que, de fato, somente importaria
Teu corpo contra o meu assim colado,
No vago instante de um perpétuo amar!
ALTERNATIVA III
Por que razão ter ciúmes de um fantasma
Ou de quimera que ela em sonho divisara?
Eu mesmo quantas mais assim amara
Em meu passado? Talvez o
meu quiasma
Ótico refletisse algum miasma
E o projetasse sem intenção amara...
E se eu mesmo outro nome pronunciara
Tornaria esta surpresa sua alma pasma?
Sempre é preciso se reconhecer
‘Que o primeiro amor nunca se esquece’,
Como Neruda nos contou, dolente...
E lá no fundo, que mal pode fazer
Que um falecido amor pedisse prece,
Executado por amor mais permanente?
GIRÂNDOLA I – 19 ago 19 (*)
(*) Tenho uma versão em inglês,intitulada ‘pinwheel’.
Nem sei bem se espero ou desespero;
As vezes que tentei, tu me recuaste;
Quando não mais esperava, declaraste
A intensidade do amor mais puro e vero...
Mas eu temo, tu sabes: se eu insisto,
Podes recuar de novo, oscilação
Que já assisti às pampas... emoção
Mais controlada que quantas tinha visto.
E agora, eis que me peso e me interrogo:
Será que me quer mesmo? Ontem, queria,
Mas e hoje? Vento forte nos trouxe a chuva fria,
Lavou-lhe o sentimento e já não quer?
Só sei que penso em seus olhos e me afogo
Na hesitação, enfim, dessa mulher...
GIRÂNDOLA II
E que eu faria, se acaso me afirmasse
O seu amor potente por estranho?
Seria bem pior que o simples ganho
De um certo nome casual que me falasse,
No momento em que mais a abraçasse,
No amor-próprio um golpe bem tacanho,
Inútil sendo meu constante amanho,
Todo o cuidado com que a cortejasse...
O pior sendo é que não havia surpresa,
Tantos os giros em nossa relação,
O antigo amor lanhado de incerteza,
O meu estando apenas em botão,
Mal comparado com a velha mesquinheza
Que no passado lhe cortara o coração.
GIRÂNDOLA III
Assim, se chuva houve, foi salgada,
De seus olhos como vento a escorrer
Um velho amor tão cheio de sofrer,
Talvez se percebesse escorraçada...
Sem desejar novamente ser tentada
Em uma nova experiência se envolver:
E se outro rasgo causasse no seu ser?
Melhor seria negar-se enamorada...
Contudo, ciente embora da desgraça,
Eu permaneço inteiro a persistir,
Para seu frio tornar-me um cobertor...
E quem sabe, no tempo que perpassa,
De seus lábios voltasse um dia a ouvir
Que só por mim agora tem amor?
DOWRY (1978?)
How long it took for you to let your
face
Be handled by me, a plain portrait,
"It's not a good picture," you
said, "it's a trace,
Although; and it might satisfy your
wait.”
Yes, it's small, 'tis very little,
almost nothing,
But you care not that in alien hands
It might lay and bring a fit of cussing
That I shall hear alone, so it 'fends
My own tranquillity and peace of mind.
"Looks go away," you said,
"I'm not pretty."
Nor pretty am I, but how precious a
heart
That beats in your breast and will mine
grind
With faithfulness galore, a love gritty,
To compensate for all my pains and
smart!...
GAMARRA I (1980?) (*)
(*) Corrêia
a espera indolentE Se faz ouropel;
o anelo
frequentE Da dor sem quartel,
se esvai
redolentE De néctar e mel,
e exclui,
finalmentE Batina e burel.
a espera é
inconclusA Mas torna-se bela;
a graça da
musA Espelha-se nela,
após tanta
excusA (A espera é por ela.),
abriu-se
uma eclusA Que a dor me cancela.
se ela
me amA, Meu corpo é exul;
se enfim me
reclamA Nas plagas do sul,
meu peito
conclamA Essa dama de azul...
aberto meu peitO, Eu venho me expor...
enfim reconheçO Quão puro esse amor
aberto
seu peitO Em pleno candor...
GAMARRA II – 20 ago 2019
o amor imperfeitO
Acorda-se quedo
o amor já
refeitO Desperta-se a medo,
a amor bem
sujeitO A negaças não cedo
astuto me
ajeitO Nas curvas do dedo;
se amor é demorA Espero confiante
se amor é de outrorA Recordo constante
se amor vai-se
emborA O persigo, anelante,
se é amor de outra
horA Aguardo-lhe o instante;
que amor vai e
véM Em peito indeciso,
que amor não se
teM Sujeito a algum siso
se amor parte
aléM No adeus sou conciso;
mas
sempre é possíveL Que algo retorne
um algo
indizíveL Algures se forme,
não sendo
esquecíveL Amor nunca dorme.
GAMARRA III
e havendo
certezA Bem firme é a correia
se não for de
vilezA Amor se incendeia,
que é apenas
belezA Que o olhar nos ateia
se é firme em purezA
Espalha sua teia,
bem fina ao
redoR Por mais ser sedosa
tal forma de
amoR Até mesmo inditosa,
mantém seu caloR Por dama formosa
conserva o
ardoR No espinho da rosa;
e sendo constantE Por mais irreal,
resiste
flamantE Nos campos do astral,
talvez
delirantE Porém não faz mal,
pois é
necessáriO Que algo se ame,
jamais o
contráriO Que amor nos reclame
por mais seja
váriO Em correia de arame.
(Apesar do formato, são sonetos
com rimas leoninas. Infelizmente, é
provável que se desformatem.)
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