O PAÍS DA
JUVENTUDE
(Skaz
(Conto de Fadas) Russo, recontado por Victor Hugo,
adaptado
e versificado por William Lagos, 5 SET 2019)
O
PAÍS DA JUVENTUDE – Segunda Parte (Final)
O
PAÍS DA JUVENTUDE VII
“Eu
mesma estive já nesse país,
mas
essa água é muito perigosa;
a
prova sou dessa cura perniciosa,
sou
Dmitrievna! – E por orgulho, eu quis
tomar
a água mil anos para atrás!
Era
uma jovem de coraçao vaidoso,
uma
princesa, mas de pendor maldoso...
Tinha
saúde, beleza e quanto apraz...
Mas
eu queria a meu povo dominar,
após
a morte do senhor meu pai;
tomei
a água, julgando que me vai
dar
longa vida, que queria conquistar!
Pois
de fato, a vida longa consegui,
mas
como tinha o coração impuro,
outro
destino conferiu-me duro:
deixei
a ilha e para aqui parti...
Já
na viagem senti-me envelhecer;
os
marinheiros me olhavam, desconfiados,
por
minha presença a se sentir amaldiçoados
e
nesta praia deixaram-me a morrer;
qual
um castigo, o seu barco naufragou
e
não morri, mas dez séculos já faz,
a
juventude que a alegria nos traz
perdida
foi, que tal castigo me tocou!
O
PAÍS DA JUVENTUDE VIII
“Naturalmente,
não me reconheceram:
Você não é Dmitrievna,
afirmaram;
as
jóias e as roupas finas me tomaram
e
nem meus pais me aceitar puderam;
alguns
queriam que eu fosse condenada
por
Dmitrievna ter assassinado,
mas
como nada disso foi provado,
somente
fui nesta praia aqui exilada...”
“Mas
vejo bem seu coração ser puro,
que
só deseja a cura de seu pai;
a
água da vida lhe fazer mal não vai,
caso
não seja a seu ideal perjuro...
O
que eu desejo agora é só dormir,
pois
já vivi demais nesta velhice...
Se
novo frasco da água conseguisse
de
mais mil anos conseguiria fugir!...”
“Desse
modo, vou ajudá-lo, meu rapaz,
pois
sua missão merece o meu apreço,
mas
no retorno deverá pagar-me o preço:
será
metade dessa água que enfim traz!
Mas
antes disso, vou-lhe dar mais um aviso:
há
uma fada na fonte adormecida,
por
dois dragões ferozes protegida,
adormecer
aos quais será preciso...”
O
PAÍS DA JUVENTUDE IX
Assim
falando, foi seguindo pela praia,
até
encontrar a concha mais formosa:
“Música
toca, se soprada cuidadosa;
cada
dragão fará que em sono caia...
Vamos
agora providenciar sua condução...”
Disse
Dmitrievna, num esgar brejeiro.
Soprou
depois na concha, bem ligeiro,
E
uma baleia aproximou-se então.
“Vamos
ver se realmente é corajoso”
disse-lhe
ela, seu sorriso mais aberto.
“Essa
baleia o levará, por certo,
até
a ilha do elixir tão milagroso...”
Vladimir,
meio receioso, embora,
montou
nas costas da vasta baleia,
que
o levou até a praia em que se apeia,
o
animal a esperá-lo nessa hora.
E
avançou, com o máximo cuidado,
até
a fonte, os dois dragões a enfrentar,
mas
quando foi a melodia assoprar,
uma
fera adormeceu de cada lado...
Também
estava ali adormecida,
Vassilissa,
a fada dessa fonte:
teve
o efeito contrário esse desponte,
pois
ela abriu seus olhos para a vida!...
O
PAÍS DA JUVENTUDE X
Vladimir
logo dela enamorou-se,
meiga
a doçura dessa fada bela
e
também dele se agradou essa donzela:
por
muitos dias o casal acarinhou-se,
os
dragões a vigiarem mansamente,
sem
representar a Vladimir qualquer perigo...
“Não
posso mais continuar no seu abrigo,”
disse
o príncipe, bastante tristemente.
E
reiterou-lhe o motivo da viagem,
de
que modo Dmitrievna o ajudara;
depois
que tantas peripécias escutara,
Vassilissa
deu apreço à sua coragem
E
dois frascos lhe deu da água da fonte,
com
seu retrato um custoso medalhão:
que
o guardasse bem junto ao coração,
que
a lembraria por mais longe o seu remonte.
Assim
Vladimir se despediu, saudoso já,
jurando
à fada que somente a morte
o
impediria de retornar, consorte,
para
o lugar em que o veraz amor está...
e
retornando, no dorso da baleia,
chegou
à praia em que Dmitrievna estava;
deu-lhe
um dos frascos e viu se transformava
em
linda jovem que a tentação lhe ateia...
O
PAÍS DA JUVENTUDE XI
De
fato, a jovem o prendeu num beijo,
mas
em seus braços a seguir desfalecia
e
nesse beijo assim lhe agradecia
pela
morte recebida nesse ensejo...
Vladimir
sepultou-a com cuidado
e
encetou a viagem de retorno,
cruzou
as montanhas e, num dia morno,
em
Samarkand ingressou, já bem cansado...
E
ao encontrar ali seus dois irmãos,
ingenuamente
lhes narrou o acontecido;
pelos
malvados foi então ferido,
dado
por morto e jogado nuns lixões...
Mikhail
e Alexander retornaram
e
descobriram que seu pai ainda vivia:
logo
da água da vida ele bebia;
que
Vladimir morrera, lhe contaram,
durante
a empresa que os três realizaram,
para
obter essa água tão preciosa;
ante
seus olhos, mudança houve, portentosa:
curou-se
o Tzar e seus traços remoçaram,
parecendo
ser um jovem novamente...
Por
boa sorte, assistiram os conselheiros
e
ao Tzar, em tons alvissareiros,
reconduziram
ao trono, alegremente!
O
PAÍS DA JUVENTUDE XII
Então
o rei, em sua gratidão,
nomeou
os seus dois filhos vice-reis:
“As
duas metades do país governareis,
até
que chegue de minha vida a conclusão!”
Mas
Vassilissa, estranhando essa demora,
recordou
de Vladimir a fiel promessa
e
seu buscar por ele nunca cessa,
até
que enfim o encontrou em triste hora...
Porém
serviu-lhe mais água da vida
e
o bom principe recobrou-se inteiramente;
a
traição foi descoberta facilmente,
e
a punição dessa maldade decidida:
voaram
ambos no dorso dos dragões,
até
encontrar os dois irmãos malvados,
pelo
fogo dos dragões foram queimados,
indo
ao Tzar explicar as suas ações.
Depois
voltaram ao País da Juventude,
onde
casaram e até hoje vivem,
com
muitos filhos e netos já convivem,
sem
doença sofrer ou senectude...
Já
o Tzar, que tanto remoçara,
casou-se
novamente e novo herdeiro,
para
ocupar seu trono bem certeiro,
com
a nova esposa gerou que desposara!
Nenhum comentário:
Postar um comentário