quinta-feira, 26 de novembro de 2020




SACRAMENTO EM ROSA

                                 (VINTAGE MARILYN MONROE JOVEM E AINDA MORENA)
  

SACRAMENTO I  -- 7 NOV 2019

 

Havia amortecido e ela me trouxe

de volta à luz que peregrina brilha

de permeio à neblina; e assim minha trilha

retilínea ante os olhos de novo revelou-se;

 

ela me trouxe esperança: que se eu fosse

somente pertinaz, então a quilha

da nave do destino, milha a milha

poderia conduzir... e aproximou-se

 

muito de mim, feliz em seu capricho,

para fugir depois, ensimesmada,

a refugiar-se em seu antigo nicho.

 

A musa se afastou, porém a vida

por ela tão somente despertada

ficou nos cacos de versos refletida.

 

SACRAMENTO II

 

Só sua presença, que tanto me animou,

já foi ato de amor, um sacramento;

com o seu beijo de meigo sentimento,

a cabeça febril me batizou

 

e com o seu abraço me crismou,

sem noivar, celebramos casamento,

muito mais que em igreja foi portento:

para a poesia assim me confirmou.

 

Porém sua ausência foi como extrema-unção

e pela perda de seus sacros refolhos

de receber deixei os santos óleos.

 

Não houve missa para minha redenção,

mas ao contrário, passado o carnaval,

em mil poemas redigi novo missal...

 

SACRAMENTO III

 

Nesse missal eu venero uma saudade,

que embora seja aos outros invisível,

entre meus dedos a sinto bem tangível,

mais que uma ausência, é pequena divindade,

 

pequena apenas; não para a humanidade,

mas para meu amor inexaurível,

que essa ausência tornou inatingível,

numa aporia a intransponibilidade.

 

Não é a saudade imagem de escultura

e realmente não lhe presto um culto,

peço à tristeza que me traga indulto,

 

porque a saudade é a musa mais segura,

não está conosco, mas não se vai também

nunca se perde, porque é nada o que se tem...

 

desrima I – 8 nov 2019 

espera enfim que o tempo amadureça

espera por tabiques perigosos e venenos

espera por golfadas adornos repentinos

espera por sorrisos amargos salaciosos

aguarda então na espera dolorosa

aguarda então em teu ideal desfeito

aguarda e 'chora o teu passado amado'

aguarda então os anos desvalidos

resume teu passado em vã memória

resume teu presente na ampulheta

resume teu futuro em pó de sombras

recebe tal futuro inexistente

recebe inerte a taça da alvorada

recebe em luz vazia as ilusões

 

desrima II

 

consciente de que são apenas vultos,

consciente de que morrem sem nascer

consciente de que desprezam epopeias

consciente de que herói não lhes faz jus

sabedor de que são apenas sombras

sabedor de que um herói não as projeta,

sabedor de que um vate também cansa

sabedor de que o mundo é apenas gás,

silencioso em seu nada conceder

silencioso em seu basto inexistir

silencioso e tartamudo em sua nudez

contudo são minhas próprias ilusões,

contudo são as sombras que retenho,

contudo a fonte de toda a minha desrima

 

desrima III

 

porém se em tentativa desrimei

porém se nisso  esforço pleno fiz,

porém se o resultado me acabrunha,

porém se a sombra dorme em seu martirio

porem irão as métricas anástrofes

porem irão os versos contraponto,

porem irão as cesuras equipolências

porem irão os ritmos alfarrobas

mesmo assim a frase ainda registra

mesmo assim o pensamento vagabundo

mesmo assim as batalhas contra a rima

no riso tolo a que este esgar se inclina

no riso tolo de grafar escaramuças

no riso tolo de quem não se respeita

 

 

 

ESCOLHA MÚLTIPLA – 9 nov 19

     

                                                   MORTA

Depois de cada noite, cai a aurora  MORNA

                                                        INÚTIL

                                                              DE CINÁBRIO

E "os dedos rosicler as nuvens pintam" VERDES

                                                               PATINADAS

                                                                    LÁSTIMA

De tons violáceos por que os olhos sintam PENA

                                                                    MARTÍRIO

                                                               SE VENDIA

Que se renova a luz tal como outrora SE COMPRAVA

                                                                                                SE LANÇAVA 

                                             PRECLARA

Depois de cada dia ergue-se a noite LUZENTE

                                                                                                                                       DE NEGROR

DE ABALONE

 E os dedos argentinos logo caiam DE VITÓRIA

                                                       DE AZEDUME

                                                             DANÇARINAS

 Que dos recantos sombras saiam FESTIVAS

                                                             TUMULARES

                                                        AFIADO

E expulsem luz diurna em fero açoite MACIO

                                                             SERENO

                                                                 DOURADAS

Porque é de noite que se vêem as cores FRAGÍLIMAS

                                                                 FILIGRANAS

                                                 ABAFADO

Dos sonhos ocultados pelo dia DOENTIO

                                                 CONFUSO

                                                               NULAS

E as formas são mostradas pelas almas MURCHAS

                                                               SABOROSAS

                                                       MÁGICOS

No total ostentar dos resplendores ÁCIDOS

                                                       NEGROS

                                                               SEMENTE

Do turbilhão das emoções mais calmas ROLHA

                                                               TROMPA

                                                          INFELIZ

Que à luz diária se fazem nostalgia  MELANCÓLICA

                                                          PATÉTICA

 

 

ESVAIMENTO I – 10 NOV 19

 

a morte é para todos; já o Amor

é escasso como o sol da Meia-noite;

como é comum ter da paixão o Açoite,

tanto mais raro e puro em seu Candor 

esse infletir da alma, esse Pendor

para outrem ser apenas, esse Afoite

em tudo partilhar, esse Tresnoite

a cada vez que olha em Derredor

 

e não se encontra o rosto Bem-Amado,

não por ciúme vão ou Insegurança,

não por temer que amor alguém nos Tire; 

mas por que o coração fique Aleijado

quando está longe de nós esta Bonança

e a própria vida então de nós Retire.

 

ESVAIMENTO II

 

talvez somente imperpétua Mortezinha,

algo que abate a mente por um Dia,

coisa pequena a fingir-se de Elegia,

em sensação constante e Comezinha,

talvez seja o apagar de uma Estrelinha

que apenas presa na lapela Reluzia

ou sobre o colo em camafeu se Conduzia,

acesa apenas quando o amor já se Avizinha,

 

que amor é coisa rara, Certamente,

o mais das vezes somente Exaltação,

os feromônios em sensual Cegueira

e mesmo quando em nós é bem Potente,

embaça às vezes, sem qualquer Razão

só a fantasia deixando de Hospedeira.

 

FALÊNCIA I – 11 nov 19

 

Quando a encontrei, a outro pertencia

De corpo e alma -- e como havia sofrido!

Por ser sincera e por ter pretendido

Que ele aceitasse em calma a sua agonia;

 

Pois nas brumas do inconsciente percebia

Que aquele por quem se havia perdido

Só um falso amor lhe havia pretendido

Pelo qual dominá-la havia querido.

 

E assim buscou numa experiência um beijo.

Para matar saudades de um desejo

Que ressumbrava das brumas do passado;

 

E ao revelar, tremendo, a seu amante

O que fizera apenas num instante,

Tudo perdeu que havia conquistado.    

 

FALÊNCIA II

Porque embora percebesse, no inconsciente,

Que aquele homem a quem tanto se entregara

Não era verdadeiro e que tão só julgara

Em seu egoísmo dominá-la inteiramente.

 

Como todo conquistador,  pouco potente

Era de fato e assim nela só buscara

A novidade  que temporária o renovara,

Até tornar-se, de novo, indiferente.

 

Desse modo, ele falhou nessa experiência,

Dela o inconsciente foi reassegurado,

O seu consciente a deixar despedaçado,

 

Que aproveitou, em tal malevolência,

Como pretexto o que lhe havia revelado

E para outra transferiu a sua indecência.

 

COPISTA I – 12 nov 19

 

direitos autorais paguem ao Vento!

para mim não: ao vento e à Alvorada,

à musa peregrina e Consagrada,

senhora apenas do total Portento!

 

que tudo quanto escrevo é puro Alento

de inspiração indiferente Derramada,

cada emoção a dourar dedos de Fada

em mim criando magia... e Desalento!

 

Sem se importar se os versos me Agoniam!

Se desfibram minhalma ou se Podiam

dessangrar-me total o Coração;

 

pois essa musa de aroma e Nostalgia,

usa-me apenas... em véu de Melodia,

para expressar-me na carne uma Ilusão.

 

COPISTA II

 

assim eu julgo, de fato, até Acredito

que verso algum que escrevo me Pertença:

os músculos dos dedos, a mão Tensa,

seus sussurros a copiar então Concito.

 

longe de mim o possessivo Grito

de quem esforço sobre páginas Adensa,

que pouco a pouco dificuldades Vença,

a fama enfim sendo seu alvo e Fito.

 

que a esses paguem direitos Autorais!

frágeis ou nobres, se esforçaram por Demais

para obter de seus poemas Resultados,

 

enquanto eu... gastei apenas Tempo,

que os direitos autorais paguem ao Vento,

já que não podem ser à musa Creditados!

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário