quinta-feira, 12 de novembro de 2020


 

                                                            KALLYOPSIS ANTINEIA

 

KALLYOPSIS ON BLUE

 

KALLYOPSIS I – 21 SET 19

será que, de novo,

na nave dos tolos eu devo embarcar?

será que esta musa

de novo sua tocha de luz erguerá?

nem sequer sei se quero,

se ver eu desejo o que a vida trará...

as coisas antigas,

as novas cantigas que a luz mostrará.

a musa é inclemente,

seu rosto dolente me mostra e me esconde,

um pouco me afaga,

um pouco me esmaga até sufocar...

meus versos explodem,

são fracos, não podem, sequer sabem donde

encontrar seu favor,

tomar seu amor, seus lábios beijar;

Oh, musa remota,

tua carne ignota, será que tens alma?

a minha te dei,

já tanto cantei, na fúria e na calma...

Oh, musa tardia,

que chegas num dia já prestes ao fim!

Oh, musa inconstante,

Oh, musa de instante, não tens coração,

teu rosto é concreto,

teu corpo discreto, a tocha na mão,

por que retornaste,

por que te chegaste tão perto de mim?...

 

KALLYOPSIS II

será que ne novo

no negro teclado preciso deitar,

então embarcar

na vaga gelada do amor digital,

sofrer esse mal

no fundo afinal de um preito banal

será que me alenta

o teclado que aventa meus dedos trazer

será que me dói

o instante em que rói a imagem do ser

no estranho prazer

de meu contender com tal força fatal,

em nada carnal,

em nada sensual, que ali me reduz

a pontos de luz,

dispostos em cruz na tela concreta,

qual dor abjeta

que a carne me afeta precoce em seu pó,

não há qualquer dó,

transforma-me em nó de zeros e uns,

espaços alguns

outros sendo comuns à imagem que gero

em uns e num zero,

tornado num mero esgar de silêncio,

por que me tragaste,

por que me rasgaste em mil versos sem fim?

 

KALLYOPSIS III

A musa é amarga,

me envia essa carga de vago delírio,

acende-me o círio

no lírio faminto de novos poemas

acende-me apenas

nas penas de amor recebido e negado

somente abraçado

no ardor revelado por tal deusa antiga

que a vida persiga

feroz como auriga na competição

a pena na mão

o meu coração esmagado sem pena

então me condena

no sangue da cena a manter-me poeta

mas não me completa

somente me afeta em fiel servidor

das juras de amor

do ardor dos perjuros investe-me então

por qual emoção

empurra-me a mão para mais escrever

pois quis-me prender

de novo a fremir por amor desvalido

amor tão sofrido

que nunca vivido real foi por mim,

por que vens assim

forçar-me o ouropel de um tolo arlequim?

 

AUTÓPSIA I – 22 set 19

 

Se um dia fores minha, luz esquiva,

Som multicor, toada de martírio,

O gosto de tua voz, tão pleno de delírio,

Será qual perfume que em ânsia se ativa.

 

De invólucro sutil, que a dobra reaviva,

Alma de prata em dentes de alvorada,

Um coração exposto, um simples nada,

Só última barreira à entrega de uma diva.

 

E como seria mágico o momento,

Permeado de emoção e sentimento,

De partilhar tua mente em seus refolhos!

 

De te sentir desnuda nos meus braços,

De perceber o riso nos teus traços,

Ao contemplares teu rosto nos meus olhos.

 

AUTÓPSIA II

 

Se um dia fores minha, será dentro de um sonho,

Quimera singular em passos de alvorada,

Fulgente, imaterial, inócua madrugada,

Só escutada em mim no instante em que me ponho

 

De novo a obedecer teu comando tão bisonho,

Qual veste transparente de mágoa compassada...

Por que, oh musa antiga, és tão amargurada,

Quem foi que te forjou um fado assim medonho?

 

A Apollo, teu pai, enfim, foste infiel,

Que fez os teus amantes sofrerem vida breve?

Por que o teu comando em mim é irresistivel,

 

Por que de seu querigma tomaste mel e fel, (*)

Meu coração abrindo para que tudo leve

E numa hemorragia amor tornar possível?

(*) Pregação, ideologia

 

AUTÓPSIA III

 

Terrível, realmente, é o amor pela ilusão,

Que a musa se deseje em seu fervor helênico,

Que seja para mim mais que holofote cênico,

Que faça material, ao menos em ocasião,

 

A tal dama furtiva, a devorar-me o coração

E o cuspir em poemas de gélido ardor nênico, (*)

A pira de meus sonhos sem ter calor higiênico,

Minha nuvem de centelhas em pó de corrupção!

 

Mas como poderia magia haver maior

Que ver-te material em onírico momento,

Ou que me concedesses então maior portento,

 

Que realmente um dia possuísse o teu amor,

Ainda que me fosse a plena cremação

No instante derradeiro da mística explosão?

(*) Referente a um canto fúnebre.

 

DOGMA I – 23 setembro 2019

 

e o Verbo se fez carne e, dentro em mim,

veio habitar em forma de malícia:

vou cantar a ambição e a impudicícia

nos versos mais impuros, por alfim

conquistar meu lugar na sociedade,

que só deseja as pompas infernais;

só tem valor, bem sei, para os mortais

aquilo que corrompe a liberdade

 

de ser quem se deseja um dia ter sido,

de devotar-se a um ideal tão perseguido

que a carne ufana em gesto largo e manso.

que o Verbo concretiza, sem descanso,

no afã diário da monotonia

destes versos ajuntados sem poesia.

 

DOGMA II

 

e o Paráclito se ajuntou na mesma empresa

para calar as vozes da impureza,

desconsolada dos cantos de beleza

dessa mensagem da máxima leveza,

corrompida quiçá só por lerdeza;

como é possível combater tanta incerteza

da religião oficial nessa proeza

de constantino a impor sua realeza?

 

bem longe vai outra mensagem peregrina

que um carpinteiro no passado nos ensina

de humildade e amor, que desatina

autoridades tão ciosas de sua sina

que só transmitem mesquinharia pequenina

que a seu poder material mais se destina.

 

DOGMA III

 

o Verbo se fez carme e habitou

por breve tempo nessa eclésia antiga,

em que a Palavra era lei, gentil auriga

e não a imposição de quem mandou;

e o Paráclito nos veio e se afastou,

só permanece em qualquer humilde liga,

consolador então de quem o abriga,

inspirador de quanto se gerou.

 

assim os versos que o Espírito me alcança

não conservam o poder da antiga lança,

bem débil e corrompido o seu assento,

embora busque ainda apontar este meu arco,

mas sem ter lastro o bote em que me embarco

e quem me vê em sua leitura é desatento.

 

DOGMA IV

 

porque é inegável que exponho nestes versos

caracteristicas comuns ao ser humano;

bem tentaria renovar o ideal romano

de austeridade, porém são adversos

os climas existentes e dispersos

na ignomínia que tanto causa dano;

rasgando embora o coração no afano,

para a total simplicidade são reversos.

 

que, na verdade, percebo-me estar só,

sem arcabouço para a tarefa estou,

apenas ouço os murmúrios e os gritos,

tantos desejos humanos feitos pó

e minha mente assim se conformou

no descrever dos humanos tão aflitos.

 

COSMÉTICOS I – 24 set 19

 

Que mais resta dizer?  Ser um poeta

Não conquista ninguém, não é o que querem.

Mulheres não se importam, só preferem

O que sua ânsia por um lar completa.

 

Beleza é coisa pouca... autofagia;

Estética... é tolice ver num homem;

Desejam outras coisas e consomem

O material, o medíocre, a vilania.

 

E o propalado amor pela poesia,

Pela arte, pelos livros, a harmonia,

Só lhes agradam quando são tributos;

 

Nunca a arte pela arte: é coisa inútil.

Apenas um poema lhes é útil

Ao ressaltar seus próprios atributos.

 

COSMÉTICOS II

 

Fico assim atrelado à antiga musa,

Que certamente também era mulher

E quem duvida?  Vaidade tem qualquer

Do que ela é, sem precisar de escusa.

 

Ainda lhe toco com fragor a cornamusa,

Em meu peito, sem intenção sequer

De condenar seu desejo que só quer

Abrir do orgulho e da vaidade a velha eclusa.

 

E ao mesmo tempo, do Verbo sou escravo:

Sem o Paráclito, eu nada escreveria,

Como posso equilibrar dicotomia

 

Tão variada e a brotar do mesmo favo?

Porque a raça é minha mãe e arcaica guia,

Porém no Verbo as falhas minhas lavo...

 

COSMÉTICOS III

 

Não acredito que queiram ler mensagem

Não condizente com aquela em que acreditam

Ou com as modas a que tanto se concitam:

Seria tolice lhes propor tal pabulagem.

 

Assim expando os limites da coragem:

Busco adular àquelas que me evitam,

Seus atributos os meus poemas gritam,

Sou dedicado à feminina vassalagem.

 

E como a musa é mulher e feminina,

Como a Palavra em meu ser vive e fascina,

Eu equilibro os requisitos da balança,

 

Porém sem ponderar qual seja a sina

Dessas palavras que escrevo com bonança

Até o ponto que a habilidade alcança.

 

LIKE TANTALUS I – 25 set 2019

 

nada mais sobra enfim do que o dever,

que nos impele ao claro proceder

de quem da vida apaga a clara chama,

porque melhor é não ter do que esquecer. 

os frutos se aproximam, redolentes,

balouçando dos galhos, nus, pendentes,

em seu convite simples, que reclama

estendermos os dedos, inocentes...

 

igual que a água do rio, fresca, divina,

murmureja gentil e cristalina,

até nos inclinarmos a beber...

e então, a gargalhar, num torvelinho,

nossos lábios gretados, sem carinho,

ela se afasta, sem beijo conceder...

 

LIKE TANTALUS II

 

porque essa musa é mulher e caprichosa,

sem grande apreço dar a meu querer,

deseja mesmo que a possa obedecer

e depois pede o contrário, desdenhosa;

mas a Palavra se afirma, portentosa,

sem ela sendo impossível o escrever

e em vão tento meus dedos estender

e captar qualquer oferta majestosa.

 

e nessa oscilação à musa ofendo

e a Palavra simplesmente me lastima,

fogem-me os frutos, a maré afasta a água,

cada qual dos parâmetros assim sendo

os malmequeres de uma intensa rima

que se redige num lençol de mágoa.

 

LIKE TANTALUS III

 

e assim perdura o dilema da ilusão,

da musa os lábios não posso beber,

do Verbo os frutos não consigo ter,

nem do Paráclito a final consolação

e quando estendo para um galho a mão

ele se ergue em zombaria de prazer

e quando a boca se dobra a fim de ver

o nível da água, toda eclusa fecharão.

 

e como Tântalo que aos deuses ofendeu

e foi assim votado a tal castigo,

eu torno a musa do amor indiferente,

sem que o Paráclito então se torne meu,

Palavra alguma a conservar comigo

por mais que das mensagens seja crente.

 

CHASTISEMENT

it is so easy the others to Blame

for your own foolishness, for false Steps.

how often have you, for your own Shame

misread, misapprehended, sorry Laps

taken up in a life so Whorish?

bending to others, all too Fearful

of your own quest to Accomplish,

forgetting your best and so Gleeful

rebelling against those you once Obeyed?

now take up the blame and be Steadier.

because you don't have to be Here,

you bend and obey for making a little Easier

your life, all the while letting be Swayed

by those that you find the closest and Nigher.

 

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