KALLYOPSIS ANTINEIA
KALLYOPSIS ON BLUE
KALLYOPSIS I – 21 SET
19
será que, de novo,
na nave dos tolos eu
devo embarcar?
será que esta musa
de novo sua tocha de
luz erguerá?
nem sequer sei se
quero,
se ver eu desejo o que
a vida trará...
as coisas antigas,
as novas cantigas que a
luz mostrará.
a musa é inclemente,
seu rosto dolente me
mostra e me esconde,
um pouco me afaga,
um pouco me esmaga até
sufocar...
meus versos explodem,
são fracos, não podem,
sequer sabem donde
encontrar seu favor,
tomar seu amor, seus
lábios beijar;
Oh, musa remota,
tua carne ignota, será
que tens alma?
a minha te dei,
já tanto cantei, na
fúria e na calma...
Oh, musa tardia,
que chegas num dia já
prestes ao fim!
Oh, musa inconstante,
Oh, musa de instante,
não tens coração,
teu rosto é concreto,
teu corpo discreto, a
tocha na mão,
por que retornaste,
por que te chegaste tão
perto de mim?...
KALLYOPSIS II
será que ne novo
no negro teclado
preciso deitar,
então embarcar
na vaga gelada do amor
digital,
sofrer esse mal
no fundo afinal de um
preito banal
será que me alenta
o teclado que aventa
meus dedos trazer
será que me dói
o instante em que rói a
imagem do ser
no estranho prazer
de meu contender com
tal força fatal,
em nada carnal,
em nada sensual, que
ali me reduz
a pontos de luz,
dispostos em cruz na
tela concreta,
qual dor abjeta
que a carne me afeta
precoce em seu pó,
não há qualquer dó,
transforma-me em nó de
zeros e uns,
espaços alguns
outros sendo comuns à
imagem que gero
em uns e num zero,
tornado num mero esgar
de silêncio,
por que me tragaste,
por que me rasgaste em
mil versos sem fim?
KALLYOPSIS III
A musa é amarga,
me envia essa carga de
vago delírio,
acende-me o círio
no lírio faminto de
novos poemas
acende-me apenas
nas penas de amor
recebido e negado
somente abraçado
no ardor revelado por
tal deusa antiga
que a vida persiga
feroz como auriga na
competição
a pena na mão
o meu coração esmagado
sem pena
então me condena
no sangue da cena a
manter-me poeta
mas não me completa
somente me afeta em
fiel servidor
das juras de amor
do ardor dos perjuros
investe-me então
por qual emoção
empurra-me a mão para
mais escrever
pois quis-me prender
de novo a fremir por
amor desvalido
amor tão sofrido
que nunca vivido real
foi por mim,
por que vens assim
forçar-me o ouropel de
um tolo arlequim?
AUTÓPSIA I – 22 set 19
Se um dia fores minha, luz esquiva,
Som multicor, toada de martírio,
O gosto de tua voz, tão pleno de delírio,
Será qual perfume que em ânsia se ativa.
De invólucro sutil, que a dobra reaviva,
Alma de prata em dentes de alvorada,
Um coração exposto, um simples nada,
Só última barreira à entrega de uma diva.
E como seria mágico o momento,
Permeado de emoção e sentimento,
De partilhar tua mente em seus refolhos!
De te sentir desnuda nos meus braços,
De perceber o riso nos teus traços,
Ao contemplares teu rosto nos meus olhos.
AUTÓPSIA II
Se um dia fores minha,
será dentro de um sonho,
Quimera singular em
passos de alvorada,
Fulgente, imaterial,
inócua madrugada,
Só escutada em mim no
instante em que me ponho
De novo a obedecer teu comando
tão bisonho,
Qual veste transparente
de mágoa compassada...
Por que, oh musa
antiga, és tão amargurada,
Quem foi que te forjou
um fado assim medonho?
A Apollo, teu pai,
enfim, foste infiel,
Que fez os teus amantes
sofrerem vida breve?
Por que o teu comando
em mim é irresistivel,
Por que de seu querigma
tomaste mel e fel, (*)
Meu coração abrindo
para que tudo leve
E numa hemorragia amor
tornar possível?
(*) Pregação, ideologia
AUTÓPSIA III
Terrível, realmente, é o amor pela ilusão,
Que a musa se deseje em seu fervor helênico,
Que seja para mim mais que holofote cênico,
Que faça material, ao menos em ocasião,
A tal dama furtiva, a devorar-me o coração
E o cuspir em poemas de gélido ardor nênico, (*)
A pira de meus sonhos sem ter calor higiênico,
Minha nuvem de centelhas em pó de corrupção!
Mas como poderia magia haver maior
Que ver-te material em onírico momento,
Ou que me concedesses então maior portento,
Que realmente um dia possuísse o teu amor,
Ainda que me fosse a plena cremação
No instante derradeiro da mística explosão?
(*) Referente a um
canto fúnebre.
DOGMA I – 23 setembro
2019
e o Verbo se fez carne
e, dentro em mim,
veio habitar em forma
de malícia:
vou cantar a ambição e
a impudicícia
nos versos mais
impuros, por alfim
conquistar meu lugar na
sociedade,
que só deseja as pompas
infernais;
só tem valor, bem sei,
para os mortais
aquilo que corrompe a
liberdade
de ser quem se deseja
um dia ter sido,
de devotar-se a um
ideal tão perseguido
que a carne ufana em
gesto largo e manso.
que o Verbo concretiza,
sem descanso,
no afã diário da
monotonia
destes versos ajuntados
sem poesia.
DOGMA II
e o Paráclito se
ajuntou na mesma empresa
para calar as vozes da
impureza,
desconsolada dos cantos
de beleza
dessa mensagem da
máxima leveza,
corrompida quiçá só por
lerdeza;
como é possível
combater tanta incerteza
da religião oficial
nessa proeza
de constantino a impor
sua realeza?
bem longe vai outra
mensagem peregrina
que um carpinteiro no
passado nos ensina
de humildade e amor,
que desatina
autoridades tão ciosas
de sua sina
que só transmitem
mesquinharia pequenina
que a seu poder
material mais se destina.
DOGMA III
o Verbo se fez carme e
habitou
por breve tempo nessa
eclésia antiga,
em que a Palavra era
lei, gentil auriga
e não a imposição de quem
mandou;
e o Paráclito nos veio
e se afastou,
só permanece em
qualquer humilde liga,
consolador então de
quem o abriga,
inspirador de quanto se
gerou.
assim os versos que o
Espírito me alcança
não conservam o poder
da antiga lança,
bem débil e corrompido
o seu assento,
embora busque ainda
apontar este meu arco,
mas sem ter lastro o
bote em que me embarco
e quem me vê em sua
leitura é desatento.
DOGMA IV
porque é inegável que
exponho nestes versos
caracteristicas comuns
ao ser humano;
bem tentaria renovar o
ideal romano
de austeridade, porém
são adversos
os climas existentes e
dispersos
na ignomínia que tanto
causa dano;
rasgando embora o
coração no afano,
para a total
simplicidade são reversos.
que, na verdade,
percebo-me estar só,
sem arcabouço para a
tarefa estou,
apenas ouço os
murmúrios e os gritos,
tantos desejos humanos
feitos pó
e minha mente assim se
conformou
no descrever dos
humanos tão aflitos.
COSMÉTICOS I – 24 set 19
Que mais resta dizer? Ser um poeta
Não conquista ninguém, não é o que querem.
Mulheres não se importam, só preferem
O que sua ânsia por um lar completa.
Beleza é coisa pouca... autofagia;
Estética... é tolice ver num homem;
Desejam outras coisas e consomem
O material, o medíocre, a vilania.
E o propalado amor pela poesia,
Pela arte, pelos livros, a harmonia,
Só lhes agradam quando são tributos;
Nunca a arte pela arte: é coisa inútil.
Apenas um poema lhes é útil
Ao ressaltar seus próprios atributos.
COSMÉTICOS II
Fico assim atrelado à antiga musa,
Que certamente também era mulher
E quem duvida?
Vaidade tem qualquer
Do que ela é, sem precisar de escusa.
Ainda lhe toco com fragor a cornamusa,
Em meu peito, sem intenção sequer
De condenar seu desejo que só quer
Abrir do orgulho e da vaidade a velha eclusa.
E ao mesmo tempo, do Verbo sou escravo:
Sem o Paráclito, eu nada escreveria,
Como posso equilibrar dicotomia
Tão variada e a brotar do mesmo favo?
Porque a raça é minha mãe e arcaica guia,
Porém no Verbo as falhas minhas lavo...
COSMÉTICOS III
Não acredito que queiram ler mensagem
Não condizente com aquela em que acreditam
Ou com as modas a que tanto se concitam:
Seria tolice lhes propor tal pabulagem.
Assim expando os limites da coragem:
Busco adular àquelas que me evitam,
Seus atributos os meus poemas gritam,
Sou dedicado à feminina vassalagem.
E como a musa é mulher e feminina,
Como a Palavra em meu ser vive e fascina,
Eu equilibro os requisitos da balança,
Porém sem ponderar qual seja a sina
Dessas palavras que escrevo com bonança
Até o ponto que a habilidade alcança.
LIKE TANTALUS I – 25 set 2019
nada mais sobra enfim do que o dever,
que nos impele ao claro proceder
de quem da vida apaga a clara chama,
porque melhor é não ter do que esquecer.
os frutos se aproximam, redolentes,
balouçando dos galhos, nus, pendentes,
em seu convite simples, que reclama
estendermos os dedos, inocentes...
igual que a água do rio, fresca, divina,
murmureja gentil e cristalina,
até nos inclinarmos a beber...
e então, a gargalhar, num torvelinho,
nossos lábios gretados, sem carinho,
ela se afasta, sem beijo conceder...
LIKE TANTALUS II
porque essa musa é mulher e caprichosa,
sem grande apreço dar a meu querer,
deseja mesmo que a possa obedecer
e depois pede o contrário, desdenhosa;
mas a Palavra se afirma, portentosa,
sem ela sendo impossível o escrever
e em vão tento meus dedos estender
e captar qualquer oferta majestosa.
e nessa oscilação à musa ofendo
e a Palavra simplesmente me lastima,
fogem-me os frutos, a maré afasta a água,
cada qual dos parâmetros assim sendo
os malmequeres de uma intensa rima
que se redige num lençol de mágoa.
LIKE TANTALUS III
e assim perdura o dilema da ilusão,
da musa os lábios não posso beber,
do Verbo os frutos não consigo ter,
nem do Paráclito a final consolação
e quando estendo para um galho a mão
ele se ergue em zombaria de prazer
e quando a boca se dobra a fim de ver
o nível da água, toda eclusa fecharão.
e como Tântalo que aos deuses ofendeu
e foi assim votado a tal castigo,
eu torno a musa do amor indiferente,
sem que o Paráclito então se torne meu,
Palavra alguma a conservar comigo
por mais que das mensagens seja crente.
CHASTISEMENT
it
is so easy the others to Blame
for
your own foolishness, for false Steps.
how
often have you, for your own Shame
misread,
misapprehended, sorry Laps
taken
up in a life so Whorish?
bending
to others, all too Fearful
of
your own quest to Accomplish,
forgetting
your best and so Gleeful
rebelling
against those you once Obeyed?
now
take up the blame and be Steadier.
because
you don't have to be Here,
you
bend and obey for making a little Easier
your
life, all the while letting be Swayed
by
those that you find the closest and Nigher.
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