terça-feira, 10 de novembro de 2020


                                                                          (BLOOD LOVE)


 

ZUMBIS EM LILÁS

 

ZUMBIS I – 6 SET 19

 

quando me deixo envolver em devaneiO,

recordo olhos, cabelos, dedos finoS,

risos de prata, crisóis em desatinoS,

com o antimônio dos seios de permeiO.

 

recordo situações que nunca foraM,

hálitos breves, que poderiam ter sidO

casos de amor feroz e desabridO...

mas tantas cenas más que me devoraM

 

nada mais são que sombras sem valiA.

e estas lembranças que me vêm no sonhO

são arquivos que envolveu a sorte ingratA,

 

numa defunta e social hieraquiA.

e assim me deixo envolver pelo medonhO

palor suave de antimônio e pratA...

 

ZUMBIS II

 

mais de uma vez já mencionei em versoS

que meus sonhos são tão ou mesmo maiS

reais que a massa de ocorrências naturaiS

com que deparam meus olhos em perversoS

 

encontros diários contra mim dispersoS,

sem meu controle até dos mais fataiS,

enquanto em oniresias sideraiS,

sei quanto passa de meus ideais conversoS;

 

sem dúvida, pela mente me perpassaM

fisionomias iguais às de outros sonhoS,

cujos semblantes saúdam-me risonhoS,

 

enquanto nestes dias que aqui passaM,

há tanta gente a me olhar de cara feiA,

quase concreto o rancor que se permeiA!

 

ZUMBIS III

 

não admira que ame mais o devaneiO

ou meus estados de hipnagogiA,

em que forma toma e coalesce a nostalgiA

e tão somente amor me mostra o seiO;

 

e francamente, essas amantes de permeiO,

que me recebem com abraços de alegriA,

são mais reais do que se preveriA,

têm cheiro, gosto, cor e real meneiO.

 

e certas coisas que acontecem me surpreendeM,

por atributos de materialidadE:

ontem mesmo, ouvi um copo se quebraR

 

seus fragmentos dedos de sonho prendeM

e sinto o corte, embora o copo de verdadE

encontre inteiro no armário a me esperaR!...

 

sensatez I – 7 set 2019

 

eu não te trocarei tão facilmente

por qualquer outra; teria sobretudo

de ser igual a ti ou mais inteligente,

pois com física beleza eu não me iludo;

 

tal formosura passa incontinenti,

enquanto a mente pode, pelo estudo,

aumentar sua beleza permanente,

enchendo o cérebro de novo conteúdo;

 

pois de mulher eu quero mais frequente

que me possa falar numa linguagem

que seja a minha, portanto, que me entenda;

 

e dê valor ao meu valor presente:

que me seja gentil e me compreenda,

sem ser somente um corpo de passagem...

 

sensatez II

 

na verdade, prefiro mesmo conversar

com mulheres que com homens.  há motivo,

suas conversas tem limitado crivo:

vacas, mulheres, futebol, politicar...

 

temas de fato que não vão me interessar;

nem sequer em comer carne sou ativo,

amo mulheres, mas sou bastante esquivo

ante as conquistas de que se vêm gabar,

 

na maior parte das quais nem acredito...

e o futebol nunca jamais me deu prazer

para jogar e muito menos para ver...

 

quanto à política, tão só me deixa aflito,

que minha tendência é ser parlamentarista

e é subversivo afirmar ser monarquista!

 

sensatez III

 

com as mulheres terei mais afinidade:

é bem verdade que não gosto de “cri-cri”,

contudo amei cada criança que já vi,

pois nelas vejo a beleza de verdade;

 

não que espere encontrar sinceridade:

conheço bem este jogo que vivi,

cada mulher sempre guarda para si

os seus segredos ou mesmo, por vaidade,

 

inventa alguns para tornar-se interessante;

mas quanto à música e à literatura,

ou à poesia que tanto me contenta,

 

são as mulheres mais sensíveis nesse instante

em que o assunto refere-se à cultura

e a conversa ao que prefiro alenta...

 

sensatez IV

 

não obstante, um problema encontro aqui:

têm as mulheres tendência a competir

umas com as outras, sendo prestes a assumir

a moda atual, qual tão frequente eu vi.

 

em ti, porém, desde o início pressenti

não te deixares por tais coisas iludir,

esses modismos bem saber percutir,

permanecendo fiel somente a ti.

 

também por isso, não desejo outra mulher,

desde o momento em que no peito me acolheste,

sei te pertenço real e integralmente;

 

e nem ao menos se perdeu, sequer,

essa beleza com que amor tanto me deste

e na qual ainda me acolhes permanente...

 

NEVRALGIA I – 8 SET 2019

 

Segurei um projeto que esperneava,

Na palma de minha mão o sopesei:

Era um projeto de amor, mas não lhe dei

Correta avaliação, porque marcava

 

Vaga esperança que se desalinhava

Com os demais projetos que guardei;

Assim, a tal amor não me entreguei:

Mesquinhamente, num gesto o desprezava!.

 

Embora a tal amor, inicialmente,

Tivesse dado atenção subjacente,

Nunca foi mais que uma emoção discreta.

 

Joguei-o fora, por pura distração,

No abstrato saber do coração,

Que amor é vago, mas dor é bem concreta!

 

NEVRALGIA II

 

Ora, projetos de amor surgem frequentes,

Toda mente é promíscua e bem curiosa:

Qualquer figura que nos surja mais formosa

Provoca impulsos bastante impertinentes...

 

Ou será que nos assaltam de outras mentes,

Não sendo a nossa assim tão ambiciosa,

Mas recebendo uma influência poderosa

Que nos invade pelos olhos indolentes...?

 

Mas não é mais que impulso transitório,

Que nos obriga apenas a sorrir,

Como um gosto imaginado a seduzir

 

Nossas papilas gustativas no ilusório,

Sem que após ele alguém possa se iludir,

Perfume apenas de um vasto repertório...

 

NEVRALGIA III

 

Hoje outra ideia pela mente me perpassa:

De onde se pôde tal projeto originar?

Certamente não se estava a balançar

Pelos ares de uma rua ou de uma praça...

 

Porém se surge a cada vez que se ultrapassa

Qualquer bela mulher a nos olhar,

Ou que pretende indiferença no avaliar,

Ou de fato em nós não vê a menor graça...

 

Suspeito, então, que de forma até inconsciente

Ela projete a seu redor a sedução,

Tal qual o pólen que emite alguma flor,

 

Algum grão de sutil, algo de ardente,

Até que atraia para seu próprio coração

O verdadeiro alvo a que projeta seu calor...

 

INARTRITE I – 9 set 19

 

Ela foi, afinal, diagnosticada

da mesma afecção que a incomodava

desde menina, em leve desatino,

que lhe extraía o ânimo e a libido:

 

Uma moléstia sutil, que tinha herdada,

insidiosa e gentil a dominava,

músculo a músculo, a desafiar-lhe o tino,

sem que o prazer da vida, concedido

 

pela saúde lhe houvera revelado...

Foi um penar de antanho, espiralado

pendor que aos ossos reflexão empresta.

 

E o mau humor que tanto me afligia

nada mais era que fibromialgia

a encher sua alma de uma dor funesta...

 

INARTRITE II

 

Sempre me disse ser integridade,

sem o corpo separar do que se chama

de alma, isso que a mente nos recama

de sentimentos de bem ou de maldade.

 

Algumas vezes, em momentos de bondade,

explicou-me a intermitência dessa flama,

que à elegia ou ao rancor conclama,

nas mil instâncias da transitoriedade,

 

não sendo só um capricho o mau humor,

nem que estivesse voltado contra mim,

somente a dor que a influenciava assim,

 

dor corporal ao invés de dor de amor

e muitas vezes me pediu qualquer massagem,

que tal carinho restaurasse a sua coragem...

 

INARTRITE III

 

Mas diagnósticos vêm e depois vão,

cada médico em algo é especialista

empós tal formação percorre a pista,

sempre as suspeitas para ali dirigirão...

 

Já outro médico pode expor outra opinião,

que mais não seja que com ela desassista

a pretensão do colega, feia crista

de um orgulho profissional no coração...

 

Mas eu só sei, que opiniões embora,

em mim conservo firme a convicção

que meu destino está ligdo ao dela

 

e desse modo, a toda e qualquer hora

demonstrarei de meu amor a compaixão,

no consolar das dores de minha bela...

 

DESVENTURA I – 10 SET 19

 

POIS ME TOMOU DE ASSALTO, DE REPENTE,

NUM LAIVO REDOLENTE E SEM MALÍCIA,

O OLHAR A RELUZIR DE IMPUDICÍCIA,

PORÉM, NO FUNDO, APENAS INOCENTE.

NÃO FOI MAIS QUE UMA NOITE DE PERFUME,

QUE ME EXPLODIU NO ROSTO, UM SORTILÉGIO,

FEITIÇARIA, QUEM SABE?... UM SACRILÉGIO

QUE SÓ DEIXOU-ME RESSAIBO DE AZEDUME

E SOU FORÇADO ASSIM A CONSTATAR

QUE MINHA ÂNSIA SE FOI... ABANDONOU-ME,

DE TANTO AMOR JÁ SE ESPARZIU A CARGA;

RECORDO APENAS AQUELA PECULIAR

INALAÇÃO QUE ENTÃO SOBREPUJOU-ME,

EM GOTAS SECAS DE DOÇURA AMARGA.

 

DESVENTURA II

 

ESSAS COISAS ACONTECEM DIARIAMENTE,

NO VESPERTINO MOMENTO DAS PAIXÕES,

NO DIUTURNO FLUIR DAS ILUSÕES,

NO QUOTIDIANO ABRAÇO DO INCLEMENTE,

QUANDO A EMOÇÃO NOS GOVERNA, INDIFERENTE

A QUAISQUER CONSEQUÊNCIAS DAS AÇÕES,

CADA DIA TEM SUAS PRÓPRIAS PREDAÇÕES

E ENTÃO SE ACEITA O QUE NOS CHEGA, NUM REPENTE!

POSTAS DE LADO QUAISQUER PONDERAÇÕES

DO SUPEREGO OU DO QUE CHAMAM DE CONSCIÊNCIA

E ENTÃO SE EMBARCA TOTAL NESSE PRAZER,

JÁ USUFRUÍDO POR TANTAS GERAÇÕES,

PARA A SEGUIR, DILUÍDA ESSA INFLUÊNCIA,

RESTAR VAZIA, EM NOSSAS MÃOS SEM SE DETER...

 

DESVENTURA III

 

MAS É ASSIM QUE FOMOS CONSTITUÍDOS,

A SOCIEDADE NOS IMPÕE OS SEUS PADRÕES,

MUITO POUCOS A SEGUIR-LHE IMPOSIÇÕES,

PELAS PRÓPRIAS INFRAÇÕES SENDO NUTRIDOS

E QUANTA VEZ NOS SENTIMOS MALQUERIDOS

APÓS O APEGO DESSAS TENTAÇÕES,

QUANDO ATINGIDAS, NADA MAIS REPÕES

NESSAS QUIMERAS DOS PASSOS PERCORRIDOS.

E COMO DÓI EM NÓS ESSE CONTRASTE!

TANTO DESEJO O PEITO NOS PREMIA

E DE REPENTE, ERAM SÓ BOLHAS DE SABÃO,

QUE SE REBENTAM TÃO SÓ O BEM SE AFASTE,

NEM A PELÍCULA NOS RESTA, QUE SERVIA

DE FRACA MÁSCARA PARA TAL DESILUSÃO!


Nenhum comentário:

Postar um comentário