TESTAMENTO I – 1º novembro 2019
EU HOJE NÃO QUERO
ESCREVER
MAIS NADA; POIS A NOITE
É LIVRE
MAS NÃO TENHO A ESTRADA
EU HOJE QUERIA
ERA FAZER
TUDO; MAS A
NOITE ESTÁ PRESA
EM GRILHÕES DE VELUDO
EU HOJE PERDI
O SABOR
DA
ESPERANÇA; POIS ENCHI MEUS
BOLSOS COM DESESPERANÇA
EU HOJE GANHEI
O
FAVOR
DA
DERROTA; ELA ME SORRIU
E DIRIGE MINHA ROTA
HOJE EU PERCEBI
QUE PERDI
A PARTIDA; E ASSIM PERMANEÇO
COM A PENA DA VIDA
HOJE EU RECONHEÇO
JAMAIS
TEREI SORTE; AO FIM DA SENTENÇA
DOU UM BEIJO NA MORTE
EU HOJE CONFESSO
RESPEITO
POR NADA; POESIA É IRONIA,
A VIDA É UMA LIDA, VIVER É PIADA
E EU HOJE COMPLETO
ESTE ATROZ
DITIRAMBO: SOFRER É LOUCURA
A DOR É TOLICE, SÓ O RISO É VERDADE
HOJE
ENFIM ADMITO
QUE É SÓ
MANEIRISMO; QUE OS VERSOS
REDIGIDOS
AQUI SÃO APENAS CINISMO
TESTAMENTO II
DECERTO HOJE EU SINTO
A
ME INFLUENCIAR
O PESO DO DIA DA DATA MARCADA
MULTIDÃO QUE É LEMBRADA
MAS NÃO TOTALMENTE
POIS HÁ MUITA GENTE
QUE NINGUÉM MAIS
RECORDA
DE NOITE SE ACORDA
SEM NADA PENSAR
EM QUANTOS
JÁ
FORAM; TALVEZ NOS AVÓS
SEM LEMBRAR CERTAMENTE DOS SEUS BISAVÓS
BEM RARO É QUEM LEMBRA
O
ROSTO
AMARELO
DA FOTOGRAFIA; SOMENTE
ALGUNS DESSES NOBRES
DE GRANDE PROSÁPIA
NAS GALERIAS
PAREDES COBRINDO DE VASTOS SALÕES
OU OS SEUS CORREDORES
MAS FALTOS DE AMORES
E É TODA
A LEMBRANÇA QUE VEM DE ENCARAR
OS ROSTOS RACHADOS
DOS ÓLEOS ANTIGOS
MAL SABEM
SEUS NOMES, EXCETO SE ENCONTRAM
ALGUMA ETIQUETA DE AZINHAVRE COBERTA
E COM ESTE ESFORÇO
AGORA COMPLETO
MEU
RELACIONAMENTO COM PLENO VAZIO
VIVER É TOLICE, A MORTE É VERDADE
E É BOM
QUE SE DIGA
NO FIM DA CANTIGA
QUE EXISTE GRANDEZA E ATÉ CERTA BELEZA
NA LONGA
INCERTEZA DE TANTOS FINADOS.
TESTAMENTO
III
TUDO ASSIM CONSIDERO E
ESPERO
VALOR DAR À MORTE QUE A VIDA
NOS CORTE
VALOR DANDO À SORTE; E À VIDA
AINDA ESCONDIDA
NA LIDA
DA NOITE, PERDIDA E AINDA A
VIBRAR
RECORDO-ME ASSIM
DE SER HALLOWEEN
ESTE NOITE
ESTE
DIA DE TODOS OS SANTOS
DE TODAS AS ALMAS
AO VIR REBROTAR
O
NOVEMBRO
QUE
A MORTE DO ANO JÁ PROGNOSTICA
É LONGA ESTA ESTRADA
QUE FIRME CONDUZ
AO NADA
É LONGO O CAMINHO, SEM MÁGOA
OU CARINHO QUE TENHA POR NÓS
E ENTÃO RECONHEÇO
PROFUNDO
ESSE ARCANO DA NOSSA AMPLIDÃO
É A NOSSA VISÃO
SABOR SEM PERDÃO
QUE NÃO
SE ACREDITA, MAS A MENTE CONCITA
A SE CRER NESSE FIM, OLVIDADO O CINISMO
E O ATROZ MANEIRISMO
DEPOIS
QUE EU PARTIR, DE MIM SÓ PERDURA
QUAL ÍNFIMA CURA ALGUM VERSO DEIXADO
TALVEZ
DESLEIXADO
TALVEZ
A LEMBRANÇA EM PLACA DE PRAÇA
SEM SABER
QUEM EU FUI CADA INCAUTO QUE PASSA.
ABANDONO I -- 2 NOV 19
e assim, também os versos
Estertoram
quando a musa se retira,
Melindrada,
quando pretende que inspirar
mais Nada
é seu novo pendor, em que
se Arvoram
novos amantes para a fada
Disputada,
novos desejos, que a espoucar
Estouram,
obrigações que o tempo lhe Devoram
e nada mais resta ou se vê na
Encruzilhada
que possa iluminar algum que
foi Sincero,
que a obedeceu em tudo, no
verso foi Austero
e apenas redigiu inspirados
Desatinos,
abrindo mão assim de todos os
Prazeres,
tão só por ela a cumprir tantos
Deveres,
que ela já esqueceu e seguiu outros Destinos.
ABANDONO II
e novamente é o dia! que algo
se Estampasse
no próprio ar que respiro e me
Rodeia;
de um farnel de amargura a
noite se Incendeia,
sorrateira inserida na luz que
Respirasse,
qual mágoa coletiva que pelos
céus Bailasse,
enquanto a carpideira saúda a
lua Cheia,
no luto ainda recente que agudo
se Pranteia,
antes que tal paixão dentro em
si se Estiolasse.
destarte eu sinto agora não
mais que Nostalgia
e fico a murmurar farrapos de
Elegia,
embora nem suspeite a quem deva
Prantear,
da musa antes querida nem ouço
o Sussurrar,
a quem nenhuma missa a igreja
Rezaria,
qualquer destino seja que alfim
foi Completar.
ABANDONO III
e algumas vezes penso na longa
Madrugada
que a musa por quem versos forjei
no velho Amanho,
de há muito faleceu, perdida lá
no Antanho:
descansa em paz – talvez – sem
me cobrar mais Nada.
tampouco sem nutrir-me da
inspiração Sagrada,
embora diariamente em verso
ainda me Assanho;
de macular cartões decerto não
me Acanho,
mas neles não mais vejo brilhar
a luz Dourada,
qual brilha nos rascunhos de
mágoa já Empoeirada,
se indo a retirá-los da estante
me Disponho
e novamente sinto quanto era
mais Airada
a antiga inspiração enquanto
ela Vivia
e a mágoa renovada nas cinzas
eu Reponho,
julgando que essa mácula do pó
reviveria!
calíope I – 3 nov 2019
oh, virgem minha,
por
tantos
repossuída,
enquanto as eras,
uma a uma,
escoam,
enquanto
os turbilhões,
na
mente,
me ressoam,
da multidão
de
versos,
esbatida,
como
as ondas
do
mar,
torrente erguida,
rebanho
de emoções,
quais alimárias,
pastando
insatisfeitas,
multifárias,
nos prados
de
minha alma
inatendida.
e foste tu que tudo
provocaste!...
teu rosto erguido à noite me cortaste,
como
um fantasma de gentil maldade...
pois perfuras em mim a inspiração,
a espicaçar em verso!...
o coração
de quem soube por ti
perder a virgindade.
calíope II
oh, musa antiga,
por
tantos
cortejada,
que, de algum modo,
me cortejou,
(a mim!?)
e
tantas frases
insuflou-me,
assim,
mesmo quando
eu
não queria
escrever nada,
oh,
semideusa
por
helenos
encantada,
filha de Apollo,
por que chegaste,
para enfim,
te afastares,
sem
um toque
de clarim,
só retornando,
ao
depois,
meio entediada...
por que, de novo, o
azorrague me acicata?
tranquilo estava a
classificar meus selos,
da
vasta coleção reunida aos poucos,
quais os rascunhos,
empoeirados nesta data,
por que, agora, desfazes
meus desvelos
e me obrigas a escrever
poemas loucos?
calíope III
oh, meiga ninfa,
que
um dia
eu vi bailar,
de meus olhos
no fundo
das retinas,
sempre
acenando
as
mais gentis
das sinas,
mas só querendo
a mim
escravizar.
e
quantas vezes
fui
teus versos
aceitar,
cheios alguns
da pureza
de menina,
outros de escândalo
e
de armadilhas
bem ferinas,
em que nem eu
consigo
acreditar...
porém que os envias e me
forças a aceitar!
à noite acordo, mil
versos transbordando
e
os teus rascunhos me ponho a redigir,
até que o sono reclame o seu altar
e mesmo assim, tão difícil me
afastando
na busca vã de ainda ver
o teu sorrir!
(Apesar do formato, são sonetos e creio se desformatarão.)
INSÔNIA I – 4 nov 19
NÃO TE SUPLICO SONHOS MAIS, CALÍOPE!
musa singela, jovem cujos seios
mal rebrotaram, frente ao olhar míope
de quem te conquistar, por todos meios
envidou, enquanto as faces frias
e o corpo de hera semi-recoberto
erguia para mim as nostalgias
iluminadas por farol; decerto
era o farol dos sonhos ofertados
a quem fechasse os olhos, apertados,
e buscasse dormir e descansar.
MAS EU NÃO QUERO
dormir para sonhar!
pois quem sonha acordado muito mais
até prefere não dormir jamais!
INSÔNIA II
EU SÓ SUPLICO UM BEIJO TEU, CALÍOPE,
por mais que no meu peito desconfie
e de tua boca generosa não me fie,
meio cego pelo amor, talvez amblíope;
talvez me ocorra como a Sêmele, a etíope
que insistiu com Zeus para que o espie,
que lhe surgisse na glória em que o vigie
e em castigo queimou-se-lhe o olhar míope.
dizem alguns que foi Hera que a iludiu;
estava grávida, então, de Dionyso,
mas contemplando de Júpiter o viso
A TRISTE NINFA
então se consumiu
e o grande deus tomou o pobre feto,
para na coxa o gestar com grande afeto.
INSÔNIA III
ASSIM EU TEMO, CALÍOPE, ME OCORRA,
caso algum dia teu beijo maternal
de antiga ninfa oscule o ser mortal
e assim me oprima o coração e eu morra;
mas ainda busco, maior risco que corra,
ter em meus lábios teu gosto sideral,
tomar na língua teu sabor espiritual,
doce ressaibo que à noite me recorra!
pelo canto dos olhos vejo espia,
com seu olhar irrequieto e sorrateiro,
meu caprino Dionyso alvissareiro,
SEM TER CIÚMES
da inspiração que via,
que teu sussurro esparze e me renova
e essa pira de sonhos sempre aprova...
transiente I
(*)
5 nov 19
Ela passou por mim na vida, apenas,
deixando atrás de si restolho de perfume;
não era jovem mais -- da vida as penas
trazia gravadas no rosto, em azedume.
Talvez fosse traição, talvez ciúme,
o que a marcara tão profundamente;
não era velha ainda -- mas resume
o rosto o quanto amargurou-lhe a mente.
E por jovem não ser, nem velha ainda,
olhou-me num relance fugaz de avaliação,
na esperança, talvez, de em nova exaltação
renovar-se alguns anos da mocidade finda.
Mas eu a olhei, tão só, indiferente:
Seu brilho se apagou e foi-se em frente...
(*) Transiente
transiente II
Apenas recordando, será que não devia,
igual que à musa Calíope supliquei,
não lhe negar o beijo que não dei,
que certamente não a consumiria..?
Será que esse oscular a iludiria,
ou que experiente mulher ali encontrei,
que saberia muito bem, tal qual eu sei,
que esse beijo transiente a escaldaria?
Pois nada posso saber na realidade,
pois não foi Sêmele, muito menos eu fui Zeus
e não houve sequer breve explosão;
contudo, às vezes, na insônia de impiedade,
ainda imagino quais sejam os passos seus
que a conduziram a ignota direção.
transiente II
E se recordo essa visão transiente,
foi que entre nós surgiu fugaz fagulha,
uma canção de amor que nem fez bulha,
só o coração num calcular dolente
do “poderia ter sido” assaz frequente,
quando, escondido, o tal deusinho arrulha,
nessa armadilha constante com que empulha
tantos de nós e engazopa tanta gente...
Mas a fagulha facilmente bruxuleou,
até o possível fazer-se transitório,
sem o provável jamais ser peremptório;
nada mais que uma lembrança que me assombra,
leve desejo de ter pisado a alfombra,
que a mente, em raras noites, me incendiou.
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