sábado, 28 de novembro de 2020


 

 

BANDEIRA DO BRASIL I – 19 NOV 19

HOJE É O DIA DA BANDEIRA QUE RESPEITO

E QUE DEFENDO COM TODO O MEU ARDOR,

DE OLAVO BILAC FIEL ADMIRADOR,

DE SUAS CORES ME ORGULHAR TENHO O DIREITO.

CADA UMA DAS QUADRINHAS EU ACEITO,

MESMO O “AUGUSTO DA PAZ” QUE TANTO HUMOR

PROVOCOU NOS INVEJOSOS DESSE AUTOR:

COMO “PRÍNCIPE DOS POETAS” DOU-LHE PREITO

E POUCO IMPORTA QUAIS SEJAM AS RIMAS,

NEM QUE AS ESTROFES SEJAM PEQUENINAS:

BEM MAIS DIFÍCIL É UM SONETO MUSICAR;

O QUE IMPORTA É O CERTO PATRIOTISMO

CONTIDO NESSES VERSOS SEM CINISMO,

DO PAVILHÃO O PURO AMOR A NOS LEGAR!

 

BANDEIRA DO BRASIL II

HÁ POUCA COISA QUE EU POSSA ACRESCENTAR

AO HINO DA BANDEIRA, QUE ME ALCANÇA

DO CORAÇÃO O FUNDO ENQUANTO DANÇA,

A BANDEIRA EM MINHAS PUPILAS A FLUTUAR!

MESMO NÃO TENDO UMA CARREIRA MILITAR,

COM PATRIOTISMO CONSERVO A ESPERANÇA

DE QUE O VERMELHO NÃO PROVOQUE UMA MUDANÇA

NAS CORES PÁTRIAS QUE EM AMOR POSSO LOUVAR.

QUANDO CRIADA, MUITO RARA ERA A BANDEIRA

QUE NÃO TROUXESSE FAIXA DE ENCARNADO;

NOSSOS VIZINHOS DO PRATA UM DESBOTADO

AZUL CLARO, MAS POSSUEM FACE ALTANEIRA,

CUJOS TRAÇOS MOSTRAM TOM AVERMELHADO,

ENQUANTO O VERDE DA PAZ A GUARDA INTEIRA!

 

BANDEIRA DO BRASIL III

ANTIGAMENTE, QUANDO HAVIA A MONARQUIA,

HAVIA VERMELHO NO RAMO DE CAFÉ,

QUE SE ERGUIA DESDE AS ARMAS NO SOPÉ;

RAMO DE FUMO ALI IGUAL SE PERMITIA,

QUE IGUAL REMÉDIO ALGUÉM RECEITARIA

(AS COISAS MUDAM CONSOANTE MUDA A FÉ),

MAS O ANTIGO MASTRO PERMANECE EM PÉ,

SOBRE O QUAL NOSSO PENDÃO OSCILARIA,

AO QUAL ENQUANTO EU POSSA VER AINDA DRAPEJA,

SEM FOICE E SEM MARTELO OPORTUNISTA,

NO LUGAR DAS ESTRELAS E DO AZUL

E QUE AINDA SINTA O CORAÇÃO EXUL

A CADA VEZ QUE DESFRALDADA A VEJA,

DE NOSSO ADIADO FUTURO A NOBRE PISTA!

 

COMPLACÊNCIA I – 20 NOV 2019

pois existe mais ainda, em ser maduro,

sabendo que és mulher e que me queres,

que tudo me darás, quando puderes,

sem que eu precise demonstrar-me duro,

o que não sou, mas por certo é mais seguro

fingir que sou, mas sem brandir halteres

para mostrar de um homem ter poderes

se adolescente eu fosse e ainda inseguro,

posso entregar-me ao gozo do momento,

numa delícia em puro sentimento,

sem ser escravo tão só da sensação

que, por nova não ser, é mais ditosa:

sabendo como achar-te deleitosa

nos escaninhos de meu coração...

 

COMPLACÊNCIA II

qual o deleite que existe na presença

dessa mulher que se quer sem liberdade,

o peito inteiro opresso de ansiedade,

depois que inteiramente ela nos vença?

qual a certeza que a escravidão compensa,

por mais que seja em deliberalidade,

por mais nos prenda corrente de inverdade,

tal intangível que seja a recompensa?

porque, de fato, quem está nos escaninhos

sou eu, mas não nos meus, nos dela,

já sem sístole e diástola o coração,

salvo nos ritmos de mel e de azevinhos

que me brotam dos olhos dessa estrela

a quem me avassalei em servidão.

 

COMPLACÊNCIA III

indubitável é que existe complacência

em pertencer inteiro à bem-amada,

de atendê-la em sentir-se desejada,

de a seus caprichos mostrar total leniência,

sempre na espera infinita da paciência

de que ela venha a se mostrar escravizada,

também por nós, de forma inesperada,

e que entre os dois se arme laço de inocência,

sem um recuo de procrastinação,

sem a reserva de uma insegurança,

sem um mínimo traço de rancor,

até alcançar a benfazeja comunhão,

em realidade muito além de uma esperança,

nessa mútua escravidão feita de amor!

 

ARTÉRIAS I – 21 nov 2019

 

Se me mandares tarefas e trabalhos,

Buscando correção, ninguém jamais

Irá achar estranho, quanto mais

Troçar de ti em julgamentos falhos.

 

Assim dos sentimentos são atalhos:

Vão em sonetos de perífrases banais

Pássaros chegam a arrulhar sentimentais

Sem ironias a perturbar quais feios malhos...

 

Mais um segredo entre nós dois: sonetos

Não são obras de arte, são neurônios

Transmutados em versos, são axônios

 

Enraizados fundo; são completos

Sistemas de sinapses; e nos dão

Jatos de sangue em forma de canção. 

 

ARTÉRIAS II

 

Porquanto é fácil falar de sentimentos,

Quando mostrados em forma de sonetos

Que outras tantas apreciem, mas secretos

Artifícios para afastar quaisquer lamentos...

 

Já no antanho ocorreram tais eventos:

De Abélard e Héloise os sãos afetos

Eram ocultos por esses objetos,

Até chegarem seus finais padecimentos,

 

Pois um encontro até marcavam pelos versos.

Através de um código e simples invenções

De que só os dois conheciam as alusões,

 

Mas não nos vêm castigos tão perversos,

Que nossos códigos são feitos de paciência

E só revelam de nós tola inocência...

 

ARTÉRIAS III

 

O que nos sobra é um barroco festival,

Uma troca de mensagens rococó,

De compreensão que é reservada só

Para nós dois e nem sempre é consensual.

 

Talvez porque esse amor é inatural,

Mereceria de fato mesmo dó,

Versos apenas transportando pó,

Sequer um toque de cunho material.

 

E nem se diga ser amor espiritual,

Porque se prende tão só ao cerebral

E é mais quebra-cabeça ou labirinto

 

E se acaso me contemplo em auto-exame,

Nela não vejo um sentimento que reclame,

Quando percebo que amor real não sinto.

 

SKOAL I – 22 NOV 2019 

Esta forma poética da saga

Está contida em versos rebrilhantes:

Estáticos os versos inquietantes,

Estatelados em lutas e combates.

Ver tais poemas é como ver coágulos,

Versos de sangue e fezes, versos loucos,

Versando morte e glória, versos roucos

Vergastam ventos de fragor gelado.

Amor não tem lugar nestes poemas,

A morte é deusa e mãe, a morte é vida

Amortalhada no estertor da história.

São versos frios de geada e plenilúnio,

Santificados somente no martírio

Sacramentado pelos deuses mortos.

 

SKOAL II

 

Versos de saga trazem rima na cabeça,

Vasto o desprezo pelo pé poético,

Vagas as rimas da primeira sílaba,

Vazias as rimas da sílaba final,

Deliberada sendo apenas a inicial,

Destoante de fato em silabar,

Deve-se apenas a inicial cuidar,

Diverso o estilo do euroespiritual,

Contudo aqui experimentado o estilo,

Confesso que me sinto inadequado,

Claro que solto as rimas a vaguear

Porém deixar a métrica não posso,

Presa constante do ritmo e cesura,

Pobre sendo afinal meu vaticínio.

 

SKOAL III

 

Porque, afinal, guardo tendência antiga

Para mais versos de amor originar,

Pouco me apelam a morte e o combater,

Princesa minha é a Freyia descurada

Pelos vates e aedos islandeses,

Presas que sejam mais da descrição

Pura e selvagem dos acontecimentos

Perpetrados em cruel destruição;

Por mais que ame essa mitologia,

Pobre empatia por batalha eu sinto,

Pálido sendo sobre mim o apego

Peremptório de Hela, a ceifadora,

Pristina apenas a morte de um herói,

Poetas mortos sem levar para o Valhalla.

 

MADRINHA I – 23 nov 19

(Para J. T.)

 

Eu quero agradecer num verso apenas

por teu abraço meigo e teus olhares

permeados de ternura, nos milhares

de simples ocasiões, maçãs morenas

 

que partilhas conosco, simples cenas

em doações sinceras, singulares,

e de alta madrugada, regulares

de vinho e gasolina tais faenas,

 

no mesmo proteger, leve e perfeito,

que exige o preço apenas do respeito

e se derrama em véus de castidade,

 

num tutelar sorriso, qual se ela

fada-madrinha fosse e cinderela

vestida de condão por amizade!...

 

MADRINHA II

 

Diabetes a levou, jovem ainda,

um filho tendo apenas adotivo,

seu nome já esquecido, no incisivo

descarte tão comum de quem se finda,

 

mas a recordo qual se fosse a “dinda”

de nosso amor ainda um pouco esquivo,

ao derredor sem ver nada permissivo,

sob seu teto a relação bem-vinda,

 

sem que a mostrássemos então abertamente,

as circunstâncias bem desfavoráveis...

foi em sua casa que minha amada tomou posse

com longo beijo, de minhalma totalmente,

cerimonial sutil que só ela endosse,

com seus gentís sorrisos amigáveis...

 

MADRINHA III

 

Mais tarde, entretanto, os dois soubemos

que nutria em seu peito fantasia

que em nada pura para nós seria

e de suas falsas confissões nos escondemos,

 

nada mais sendo que desejos tão pequenos,

essa frágil recompensa que queria

e que nunca realmente pediria,

mas cuja ausência fez crescer nela venenos,

 

porém, de fato, não nos prejudicou,

no que afirmava ninguém acreditou,

contudo em nós provocou afastamento,

 

mas nela penso tão só com gratidão,

pois foi amiga ao termos precisão

e junto a nós partilhou terno momento.

 

IMPULSOS I – 24 nov 2019

 

Eu tive a pretensão transiente de querer

Cortar destes poemas o fluxo; por qualquer

Insulto recebido, sem intenção sequer:

Talvez fora melhor parar de fazer versos.

 

Mas percebi, de fato, nem saber

Como fechar da represa o seu poder,

Bem mais forte do que eu, vi-me vencer,

Que os mil sonetos gentis ou mais perversos

 

São vivos de per si, são estranhas criaturas,

 

Inquietas, turbulentas, mas intenções tem puras

De só sobreviver, nas leis da Natureza;

 

E não se submetem a um gesto de incerteza,

Mas cantam galhardia, alçando-se às alturas

E apenas interpreto seus sonhos de altiveza.

 

IMPULSOS II – 24 nov 2019

 

De fato, sinto a vida desses versos,

Que ondulam ao redor em singeleza,

Ou que me assaltam em artifícios de nobreza

E a registrá-los me obrigam com firmeza.

 

E assim de novo descobri, sem mais surpresa,

Que esta eclusa fechar numa final certeza

Não estava em meu poder; fragílima tibieza,

Que não são meus esses sabores tão diversos.

 

Já doutra vez, quem me leu viu-me afirmar

Que não requeiro dos sonetos a autoria,

Pois me assaltaram pelo olhar que não os via,

 

Nos meus ouvidos, em silêncio, a penetrar

E assim me entrego, inerme qual refém,

Obedecendo assim a quantos vêm.

 

IMPULSOS III

 

Não sei se me acreditas ou julgas fantasia

O revoar silente do verso que me via

Qual transmissor fiel de luz e nostalgia,

Qual alvo material de que fizesse escravo.

 

Não sei se me acreditas, se ora as mãos eu lavo,

Após ter exprimido de cada sonho um favo,

Somente um seguidor de cada silvo bravo

Que sobre meus cabelos um ninho formaria.

 

Contudo posso ainda, sincero, te afirmar

Que outra vez busquei o fluxo cortar

E a ele resisti com força e independência,

 

Enquanto essa pressão só fez acumular

E finalmente em mim drenou toda a potência,

Em seu impulso atroz de ao mundo se afirmar!

 

RESGATE  I – 25 nov 2019

 

e hoje, quem diria? -  Ria divinamente

aquela a quem amei - Meio insegura

que esse coração - São raridades!

persista a desejar - Jargão de enamorados 

o mesmo ideal azul - Azul, mas não de frio,

que nunca o satisfez - Festim para famintos,

que não dessedentou - Tomou sem retribuir

enquanto experimentei - Teimosa em seu capricho

e apenas consegui - Guizos e lantejoulas

e apenas obtive - Tive, porém perdi

folhas secas por ouro - Ouropel de latão

e hoje que retorno – Trago a alma emurchecida

na espera dolorosa – Morta a rosa antes do cio

 e ainda a encontro ali - Alimentando o nada.

 

RESGATE II

 

não sei a que retorno – Apenas a uma flor

nem sei o que lhe faça – Se busco uma tesoura

e corto o caule verde – Aprisionando em vaso

esse amor impudico – Exposto aos quatro ventos

quão poucos se dão conta – Que a rosa mais fragrante

é apenas armadilha – Para um inseto incauto

seu néctar fornece – Mas quer fecundação

por ser órgão sexual – E não taça dourada

e amor sempre é igual – Não mais que um artifício

que dura alguns mintuos – Ou décadas, quiçá,

que Flora e Fauna criam – Por que tudo se repita

sem se poder negar – Que seja assim bonita

armadilha secular – Que semente então resgate

estames com pistilo – Na alma a se infiltrar.

 

RESGATE III

 

mais que resgate enfim – Talvez seja rebate

porque qualquer semente – Apenas brotará

quando dentro do solo – Sujeita à umidade

enfim se parta – E surja o cotilédone

assim morre a semente – E vive a descendente

e ocorre por igual – No mundo natural

se bem que haja promessa – De corpo espiritual

aos Romanos enviada – Talvez pelo maior

de todos os apóstolos – A quem não escolheu

o Príncipe da Paz – Enquanto aqui viveu

e assim toca meu sino – No alto campanário

a espantar morcegos – Mas não por matrimônio

apenas a rebate – Porém sem me anunciar

que amor possa morrer – Mas apenas desbotar.

 

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