ANANDA KASHYAPA (VAIROCANA)
URDEFESA I – 16 OUT 2019
(*) Defesa primitiva da mente
é tão estranho, quando alguém
me Indaga
quem foi que criou deus...
Contradição
de quem reduz a deus, no
Coração,
aos termos retalhados pela
Adaga
da própria pequenez, pergunta Estulta,
querendo comparar os deuses
Falsos,
que a mente soergueu em
Cadafalsos,
na busca inglória do mais vão
Indulto,
por um vago esplendor
Solipsista, (*)
a humanidade inteira uma
Conquista
espelhada de orgulho em tal
Jaez;
é antropocêntrica tal Cosmologia
de quem a morte ver
aguarda um Dia,
e invertem a pergunta -- quem
me Fez?
(*) Posição de quem se julga
ser o centro do mundo.
URDEFESA II
os cristãos primitivos tinham
Fama
de ateus serem, porque não
Adoravam
aos deuses que os romanos
Veneravam
sobre os altares, numa vasta
Gama;
por certo havia iconoclastas,
que na Lama
as divindades semi-humanas
Arrojavam;
na maioria, porém, só Recusavam
oferecer sacrifícios a tal
divina Rama,
em especial, ao imperador Romano,
que o senado declarava ser
Divino:
não só um sacrilégio, era até
Subversão!
pois o deus em que criam não
era Humano,
muito maior que este mundo
Pequenino
que a tais deidades dava
Aceitação.
URDEFESA III
contudo, alguns cristãos,
Interrogados
sobre se, realmente, eram
Ateus,
afirmavam adorar somente um
Deus,
Verbo ou Palavra entre nós
Encarnados;
e convenciam certos
Magistrados,
os mais esclarecidos entre os
Seus,
já influenciados por profetas
Maniqueus,
que ser deviam até mesmo
Respeitados;
e dos helenos a racional
Filosofia
para essa aceitação caminho
Abria,
juntamente com a religião mais
Oriental,
que negava existir tal
Multidão,
mas apenas dois deuses, os
quais São
o princípio do bem e o dom do
Mal.
URDEFESA IV
mas neste ponto são claras as
Escrituras:
o Verbo se fez carne e entre
nós Habitou;
tornou-se humano, porque o
homem Precisou
de uma imagem que mostrasse
feições Puras
e para poder se identificar
nessas Figuras
de algum apoio material
Necessitou:
então Deus Pai em um velho
Transformou
e em Deus Filho, o sofredor de
mil Agruras;
foi a Santíssima Trindade
Humanizada;
o Espírito Santo muitos veem como Pombinha;
mesmo esta crença pouca gente
Compreendia
e assim foi sendo a divindade
Limitada,
Palavra deixou ser que desde os
céus nos Vinha,
mas um bebê apenas, no colo de
Maria!
TRINDADE I – 17 OUT 2019
é bem difícil a crença na Trindade,
ou que tenhamos um só Intercessor
e mais ainda, que seja um Deus de Amor:
plena de culpas se acha a humanidade.
o que deseja é que haja um Julgador,
o Cristo Pantocrátor, em realidade,
um deus furioso contra os atos de maldade,
de nossos adversários o feroz condenador!
e realmente, se deseja um sacrifício:
esse da cruz simplesmente não nos basta,
alguns pensam que se pague com dinheiro,
mas muitos creem não ser pleno benefício,
que arrepender-se o castigo não afasta
e até desejam ter suplício derradeiro!
TRINDADE II
bom é notar, porém, que não existe,
nem nos Credos, nem nos Dez Mandamentos,
nem no Pai Nosso, menção de julgamentos
de caráter perpétuo; nisso, porém, insiste
a culpa inata no coração e ainda resiste
à Redenção e à promessa em seus portentos;
sua distorção requer suplícios violentos,
na queima de sua culpa ainda persiste.
existe mesmo a Parábola Agostiniana,
deste filósofo que foi um dia maniqueu:
“com uma concha esvaziar a água do Oceano”,
perplexidade trazendo à alma humana
tanto remorso que na mente floresceu,
todo inflexível perante o esforço humano.
TRINDADE III
na verdade, Deus Pai é o Infinito;
sendo infinito, abrange todo o Universo
e mais além, caso exista o Pluriverso:
nada está fora de seu poder bendito;
tu mesmo ali te inclues, pois és finito
e Nele vives e te moves, mesmo averso,
à compreensão dessa
existência inverso,
mas Deus é toda a matéria, mesmo o grito
que nos chega das estrelas, a energia,
o som, a cor, o tempo e todo o espaço
e fora Dele é impossível algo haver,
de Deus afastar-se jamais se poderia,
até o Nada incluído em seu abraço,
Dele nasceste e sempre irás lhe pertencer.
TRINDADE IV
porém o Logos, a Palavra imaterial
tornou-se em carne, só para tua compreensão
ou se o quiseres, para a tola negação,
que é forte a culpa e prende-te, afinal;
mas se Deus Filho foi homem e imortal
e para os céus subiu na sua Ascensão,
de que maneira pode dar sua proteção?
resta o Paráclito, o Consolador factual.
é a Ação Divina que se ergue sobre ti.
se achas difícil, então adora qualquer santo,
de antigos deuses moderno é o avatar
ou aguarda a Virgem a interceder ali,
talvez em vinho possa mudar teu pranto
e até, quem sabe? para o Filho encaminhar.
TRINDADE V
mas não é disso que as Escrituras falam:
“Ninguém vai ao Pai, senão por Mim,”
disse Jesus. Por que
perder-se assim
numa burocracia, na qual nunca se abalam
os santos todos, que jamais te falam.
melhor rogares ao Espírito Santo, enfim:
Ele é a Ação de Deus no Seu jardim,
em que planta quaisquer bens que te regalam.
a Deus ninguém criou, porém o homem
criou mil deuses com seu próprio alento,
deuses ferozes que sua vontade domem,
deuses gentis que possam-lhe sorrir,
mas nenhum deles, será ligeiro ou lento
em conceder o que podes lhes pedir.
TRINDADE VI
é bom lembrar que até Santo Agostinho
vivia em um mundo extremamente limitado:
a Terra plana; e sobre ela curvado
o céu, apenas círculo e até bem vizinho,
estrelas fixas em seu pergaminho,
só dos planetas o movimento era avistado;
é de espantar que Zeus, mal-humorado,
com seus raios abrisse o seu caminho?
hoje sabemos do Universo a extensão
ou pelo menos, até qual ponto chegar,
que o Infinito vai-se ainda mais multiplicar;
mas se precisas de mais próxima visão,
busca a Palavra que em ti veio encarnar,
o Santo Espírito a encontrar no coração.
PRIMAZIA I – 18 OUT 2019
NOSSO AMOR FOI TÃO CURTO E TÃO
PEQUENO...
AMOR DE ADOLESCENTES, TÃO
VIGIADOS...
TANTOS OLHARES AO OMBRO
DEBRUÇADOS,
TANTOS SORRISOS DE SUTIL
VENENO...
NOSSO AMOR FUGIDIO, UM BREVE
ACENO...
UM LEVE INSTANTE, SÓ DOIS FRUTOS
ROUBADOS,
NESSE CLÍMAX FEBRIL DOS ABRAÇADOS
NUMA ILUSÃO DE VAZIO, SEM NADA PLENO...
E NOSSO AMOR, ASSIM PEQUENO E
CINTILANTE,
NA ALMA REBROTOU-ME, EM DOCE
CANTO,
DE UM ÍNCLITO ESPLENDOR NA MADRUGADA...
QUE NOSSO AMOR FOI CONDÃO DA
MESMA FADA:
LEVE BOTÃO DE FLOR, BRILHO DE
INSTANTE,
FOI TÃO PEQUENO... E A MIM
ENCHEU-ME TANTO!
PRIMAZIA II
NUNCA SE OLVIDA O AMOR
ADOLESCENTE,
UM SABOR MISTO DE LARANJA E DE
LIMÃO,
AMOR DE FLOR EM SUA PRIMEIRA BROTAÇÃO,
PARA TODOS OS DEMAIS INDIFERENTE.
PARA NÓS DOIS TENDO SIDO TÃO
FERVENTE!
DESPETALADO ATÉ O ÚLTIMO BOTÃO
FLUINDO RUBRO POR TODO O CORAÇÃO,
MANSO REGATO DE MURMÚRIO
INEXPERIENTE.
FICOU EM MEU SUSPIRO UMA
LEMBRANÇA
E ATÉ HOJE, COM OLHOS DE CRIANÇA,
RECORDO DELE O SEU DETALHE E CADA
LUZ,
MAS SEM SABER, AFINAL, QUE FIM
LEVASTE,
SE IGUAL AMOR PARA OUTRO BEM
MOSTRASTE,
SE O MEU SEQUER EM TEU PEITO
AINDA RELUZ!...
PRIMAZIA III
NATURALMENTE, A VIDA O SUPEROU,
OUTROS DEVERES, OUTRAS RUSGAS E
AMORES
OUTROS SONHOS DE INGÊNUOS
ESPLENDORES,
MAS LÁ NO FUNDO, NUNCA SE ABAFOU.
SÓ IMAGINO SE TUA MENTE RECORDOU
ESSES MOMENTOS DE NOSSOS RUBORES
OU SE DEPRESSA BRUXULEARAM TEUS
ARDORES
E LEMBRANÇA DE MIM SEQUER RESTOU.
E CASO UM DIA AINDA VENHA A TE
ENCONTRAR,
SERÁ QUE ENCONTRO, NO FUNDO DE
TEUS OLHOS,
MEU PRÓPRIO ROSTO EM SIMPATIA
ENVOLTO?
OU SE ME PERCO, NO AFÃ DE
PROCURAR,
POR ENTRE AS BULHAS DE TANTOS
ESCOLHOS,
ALGUM RESTO DE MIM PERDIDO E
SOLTO?
BORBORINHO [BURBURINHO?]
I – 19 OUT 19
Eu não sabia, mulher,
que o ardor antigo
Queimava dentro em ti,
na escura flama:
Que em arcano ritual,
centelha e drama
Incólume jazia em teu
jazigo.
Saber, mulher, te juro
não consigo
Que o ardor sombrio de
teu beijo em chama,
O meu desejo inatingível
ainda reclama,
E que no fundo de teu
peito estou contigo.
Eu só confesso, enfim,
que te esperava,
Porém sem esperança,
entendes? Frio,
Cerceando sempre o ardor
que me assaltava,
Por entender que o
coração vazio,
De toda essa esperança
que acenava,
Não se encheria jamais
de teu rocio...
BORBORINHO [BURBURINHO?]
II
Ao te encontrar, meu
coração perdeu-se
Num borbulhar de
cáustico momento,
De certo modo, um atroz
padecimento
E de outro modo, de
alegria encheu-se,
Mais de ansiedade,
quiçá, pois encolheu-se
Por um instante, sem
saber que sentimento
Me mostraria o teu;
seria mau pressentimento?
Mas teu olhar no meu
breve acolheu-se.
Igual calculo que foste
cautelosa,
Que não sabias qual
sombra a desvendar
Em meu peito, se o amor
a estiolar,
Ao perceber-te ainda
bela e tão airosa,
Poderia num instante se
inflamar
Ou se, ferino, te
buscasse até humilhar...
BORBORINHO [BURBURINHO?]
III
Mas eu te juro, mulher,
que nem sabia
Que todo o ardor sombrio
de teu beijo,
Inacessível tanto tempo
a meu desejo,
No fundo de teu peito
ainda luzia,
Nem suspeitava que então
me adejaria,
Uma vez mais, o orvalho
benfazejo,
Desse teu hálito, no
mais leve arpejo
E enfim, sobre minha
boca pousaria...
Apenas sei que, cessado
o borborinho,
Tudo se fez tão só em
exultação
E que permeio a teus
braços me lancei,
Sem nem saber qual seria
o meu caminho;
Só sei te devolvi meu
coração,
Quando no teu eu quase
me afoguei...
A CADA DIA QUE OS DEUSES NOS TIRAM
ALGUMA COISA, SEGUE-SE UM DIA
EM QUE NOS
DARÃO ALGO; AQUILO QUE NÃO ENCONTRARES PELA MANHÃ,
ACHA-LO-ÁS AO CAIR DA TARDE
---- RAMAYANA.
JAZIGO I – 20 out 2019
Pois sempre tive um
pendor para a revolta!
as coisas nunca são como
as queria,
por mais que me dedique,
minha praxia
é contrariada pela
estranha escolta
que acompanha meus
passos, escarninha,
que frustra os meus
desejos, quando acena
com temporária suspensão
da pena
que me amargura os
sonhos, de mesquinha.
Mas à tarde encontramos
o perdido
pela manhã, que os
deuses nos tomaram,
para mofar de nós, sem compaixão;
e ao coração, por hoje
malferido,
sem dúvida, amanhã
preencherão
com cadáveres dos sonhos
que mataram!
JAZIGO II
Talvez meus sonhos
fiquem na calçada
quando erguer os meus
olhos para o alto
e os deixar a percorrer
qualquer ressalto,
sem perceber a pobre
sombra ali jogada.
Talvez seja uma quimera
abeberada
na água da sarjeta, ou
sob o salto
de alguns passantes, seu
ardor já falto,
emurchecida se torne e
descarnada...
ou quem sabe, um
minotauro passa
e com seu chifre, um
sonho me desloca
e sai com ele a passear,
igual Godiva,
se inteira nua a mente
então se achasse
e vulnerável a tal
galhofa louca,
atrás deixando retalhos
da alma viva.
JAZIGO III
Sempre acredito que nada
me darão
esses deuses do ocaso
passageiros,
os meus deveres sem descurar,
ligeiros,
que apenas em meus
braços confiarão.
E se notar que me faltou
certa emoção
e que meus versos
perderam companheiros,
irei buscar no antanho
seus parceiros,
talvez ali deixei
guardado o coração.
E nessa busca, afirmo
minha revolta
contra essa malta que
sempre me afligiu,
nem por inveja, mais por
sua indiferença;
e qualquer vez que
alguma mágoa encontrar solta,
para mim a acolherei,
pois sei fugiu,
assoberbada por tanta
malquerença!
LÁSTIMA I - Wm. Lagos, 28 MAI 06
Para Andréia Macedo [sobre Eclesiastes 7:2].
Melhor é ir à casa onde se vê tristeza
do que àquela em que celebram o festim;
o luto é mais sincero e mostra, assim,
da vida humana a perenal certeza;
qual diz o Pregador, nossa incerteza
está em não saber o bem e o mal, enfim,
que nos trará o dia, embora seja o fim
conhecido de todos e venha com presteza.
pois quer o Santo Livro que nosso coração,
abandonando o riso e desposando a mágoa,
se fortaleça assim e aceite seu destino.
Mas tenho para mim que os olhos rasos d'água
de amor deviam ser, de um gozo mais divino,
que nos faça crescer também na exaltação.
LÁSTIMA II
Porque essa mágoa toda, no fim nos traz revolta:
Se algum dia eu cresci, não foi o sofrimento
Que me tornou melhor, não foi a amarga escolta
De mágoas e tristezas, em fero ajuntamento;
Porém o condoer: a pena que se sente,
Ao ver o sofrimento daqueles que enxergamos,
Sem poder consolá-los, mas por se estar presente,
Ao menos simpatia aos fracos demonstramos.
Porque, se um deus existe, é este um deus de amor,
Não se compraz na dor, nem faz sofrer também:
Quem causa o sofrimento é o próprio ser humano;
A alegria é divina e assim, nos traz vigor,
Se brota em nosso peito... e não há maior bem
Que retornar à calma um coração insano.
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