Hércules na Sicília 1 – 5 maio 2021
Qualquer que seja a versão que se prefira,
Concordam ambas que Hércules suprimiu
O antigo sacrifício a Chronos realizado
A cada ano, dois homens amarrados
Lançados no rio Tibre em breve mira
E com firmeza do povo do Lácio ele exigiu,
Por temor o seu comando confirmado,
Que só dois manequins ali fossem lançados.
E “até hoje”, esse costume permanece, (*)
Durante a lua cheia, ao mês de Maio no geral,
Quando a sacerdotisa-madre das Vestais,
Com seu séquito à Pons Sublicius ascende
E após entoar de praxe a prece.
São duas imagens pintadas de cal,
Chamadas “Argivos” durante tais rituais,
Que contra as águas amarelas então desprende.
(*) Há dois mil anos, quando tal crônica
foi escrita.
Hércules na Sicília 2
Teria Hércules fundado Pompeia e Herculano,
Após ter combatido outros gigantes,
Perto de Cumas, na Planície Flegreana
E logo após longa estrada construiu,
No continente, frente ao estreito siciliano;
Mas antes de seguir, tal como dantes,
Tentou dormir na região Epizefryana,
Mas o zumbido das cigarras o afligiu.
Então pediu a Zeus que as silenciasse
E sua súplica foi atendida de imediato,
Pois “até hoje”as cigarras não mais cantam
Na margem esquerda desse rio Alece,
Embora o som alacremente se escutasse,
Na outra margem, sem qualquer boato;
Algumas rezes, durante tal sono, se espantam,
E espavorido um dos touros à praia desce.
Hércules na Sicília 3
Saiu nadando pelo estreito de Messina,
Até galgar a siciliana praia,
Onde é capturado pelo rei dos Elimanos,
Chamado Eryx, um filho de Afrodite.
Hércules nada então, na mesma sina
E o rei o desafia e quase o vaia,
A lutar pelo touro em prados planos:
Hércules deixa que o desafio o incite.
Na condição de se tornar o herdeiro
De seu reino, caso seja o vencedor;
Eryx concorda, cheio de vaidade,
Morrendo ao ser arrojado contra o chão!
A Hércules aclama o povo hospitaleiro,
Que bastante oprimia o seu senhor
E a governar-se o herói deixa-os à vontade,
Até que um filho seu reclame a posição.
Hércules na Sicília 4
Também se afirma que aqui Hércules desposou
A jovem Psófis, filha do rei derrotado,
Com a qual dois gêmeos então gerou,
Equéfron e Promacus.
Então foi buscar
O seu rebanho, que o estreito atravessou
Numa balsa de bronze colocado,
Enquanto o herói com a esposa descansou,
Destino oposto ao de Micenas a tomar...
Seguiu depois até onde fica Sircusa,
Onde instituiu um festival anual,
Junto ao abismo sagrado de Cyano,
Por onde Hades a Perséfone arrebatou
E no planalto de Agyrium, sem recusa,
Deixou as marcas de sua passada triunfal,
As patas de seu gado no altiplano,
Que igual a cera sobre a pedra demarcou. (*)
(*) De fato, marcas fossilizadas de dinossauros.
Hércules na Sicília 5
Vendo os cascos na pedra assim marcados,
Enfim Hércules aceitou sua divindade
E se deixou pelos moradores adorar,
Agradecendo também os seus louvores,
Junto à muralha deixaria escavados
Um grande lago e um canal até a cidade,
Que nunca mais água viesse a lhe faltar,
Retribuindo destarte os seus favores.
Dizem os locais que construiu santuário
Em honra de Iolau, o seu amigo
E também aplacou o ressentimento
De Gerião, por igual lhe erguendo altar,
Mas o templo sendo de Hércules o sacrário,
Ali só homenageou seu inimigo,
Que não causasse com rancor o abatimento
Daquele gado que fora lhe furtar!...
Hércules na Sicília 6
Finalmente, Hércules se convenceu
Que pela Sicília não acharia um caminho
Levando à Grécia e de novo atravessou
O estreito até a península italiana;
Só o poder de Zeus o protegeu
Que não sofresse destino bem mesquinho
Esse gado que por longa estrada andou
E que por balsa de bronze ainda reclama!...
Porém temendo do herói a sua passagem,
O rei Lacinus construiu outro santuário,
Dedicado à sua madrasta, a odienta Hera
E Hércules em desgosto se afastou,
Porém matou, por acidente, na viagem,
Um certo Cróton e com honras um sacrário
Ali ergueu, onde mais tarde se erguera
Crotona, em nome de quem assassinou.
Fontes:
Servius, citado por Vergílio, Tito Lívio, Plutarco, Pausânias, Dionysios,
Ovídio, Higino, Juba, citado por Plutarco, Dercílio, Tzetzes, Justino, Hesíodo,
Solino, Apolodoro, Diodoro Sículo, Estrabão, apud Robert Graves.
QUAL DOM GRATUITO I – 5 MAIO 21
Eu nunca fui de frequentar academia,
No trabalho adquiri musculatura,
Não em halteres, atividade impura,
Perdido o tempo que nela gastaria.
Tampouco Hércules coisa assim faria;
Sua força e energia o corpo apura
Por ter lutado e recebido investidura
De seu pai Zeus, que sempre o protegia.
Meu pai é humano e nada faz por mim,
Alceu e Peneu desviei a picareta,
A feia Hidra enfrentei com meu machado,
Meus próprios músculos desenvolvendo assim,
Sem empregar qualquer fórmula secreta,
Em parte os tendo até hoje conservado.
QUAL DOM GRATUITO II
Quando contemplo qualquer obra de escultura
Que ao tão garboso Hércules representa,
Seu corpo eu examino atentamente:
Não vejo ali, pelo menos em figura,
Qualquer coisa excessiva.
Sua musculatura,
Consoante Fídias ou Praxíteles apresenta,
Parece apenas desenvolvida normalmente,
Sem ter sofrido de academia a agrura...
Não me recorda os fisioculturistas
Que várias horas gastam diariamente,
Seu corpo forçando para tal modelação;
Nem tremenda massa muscular ali avistas,
Sua força vinda do céu, bem claramente
E só a divisas com o olhar do coração.
QUAL DOM GRATUITO III
Toda minha vida dei ênfase ao mental,
Adquirindo conhecimentos e memória,
Das Doze Obras não cobicei a glória,
Busquei bem mais meu lado espiritual;
A minha cabeça parece ser normal,
Sem ter calombos crescendo como escória
Acima dos ouvidos, qual na história
Em que troçavam de um certo intelectual.
Porém toquei meus instrumentos e fui terno,
Sem que nada se enxergasse no exterior:
Não é de Zeus que ganho meus talentos,
Enquanto lavo as mãos no fogo eterno
Da inspiração tão variegada de teor
E os versos correm sem impedimentos.
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