CEREJEIRAS I (5-5-2010)
[para Mário Régis Sudo]
somente japoneses mediriam
o tempo em que uma flor de cerejeira
cairia do galho, em lenta esteira,
espiralando até chegar ao chão...
ocidentais apenas olhariam
para essa dança solene e seresteira,
os rodopios de uma pétala brejeira,
até esparramar-se em sonho vão...
mas eles têm, nos olhos amendoados
essa magia que flagra a natureza,
em seus momentos de plena nostalgia,
no mesmo giro dos séculos passados,
registrando em haikus toda a beleza
que vê na queda a autêntica poesia...
CEREJEIRAS II
mais que poesia, eu diria identidade
com a terra que os gerou, em sua pobreza,
nessa harmonia sublime de nobreza,
em linhas sóbrias de plena liberdade.
porque nipônica é bem esta verdade,
contida em branco e rosa de incerteza,
nesse constante revoar de realeza,
no volutear da pétala em saudade...
os tapetes se formam pelo chão,
os caroços renovam gestação,
úmidas cinzas o solo fertilizam...
igual que as cinzas murchas do vulcão,
de branco revestido em floração,
que o povo e sua cultura simbolizam.
CEREJEIRAS III
de rosa e branco o solo revestido,
a proteger a nova brotação,
retorcidas cerejeiras em mansão
que abriga o olhar a elas dirigido.
de cinza e negro o cume está vestido,
vigiando os passos da nova geração,
ao invés de assustador, puro guardião,
esse nobre fuji yama aos céus erguido.
reta a montanha, triângulo perfeito,
que se recorta contra os céus do oriente;
mas o voo dessas pétalas sujeito
aos caprichos do vento, frio ou quente,
e o tapete se forma, porque é feito
da melancólica leveza dessa gente...
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