sábado, 26 de dezembro de 2020


 

CEREJEIRAS I   (5-5-2010)

[para Mário Régis Sudo]

 

somente japoneses mediriam

o tempo em que uma flor de cerejeira

cairia do galho, em lenta esteira,

espiralando até chegar ao chão...

 

ocidentais apenas olhariam

para essa dança solene e seresteira,

os rodopios de uma pétala brejeira,

até esparramar-se em sonho vão...

 

mas eles têm, nos olhos amendoados

essa magia que flagra a natureza,

em seus momentos de plena nostalgia,

 

no mesmo giro dos séculos passados,

registrando em haikus toda a beleza

que vê na queda a autêntica poesia...

 

CEREJEIRAS II

 

mais que poesia, eu diria identidade

com a terra que os gerou, em sua pobreza,

nessa harmonia sublime de nobreza,

em linhas sóbrias de plena liberdade.

 

porque nipônica é bem esta verdade,

contida em branco e rosa de incerteza,

nesse constante revoar de realeza,

no volutear da pétala em saudade...

 

os tapetes se formam pelo chão,

os caroços renovam gestação,

úmidas cinzas o solo fertilizam...

 

igual que as cinzas murchas do vulcão,

de branco revestido em floração,

que o povo e sua cultura simbolizam.

 

CEREJEIRAS III

 

de rosa e branco o solo revestido,

a proteger a nova brotação,

retorcidas cerejeiras em mansão

que abriga o olhar a elas dirigido.

 

de cinza e negro o cume está vestido,

vigiando os passos da nova geração,

ao invés de assustador, puro guardião,

esse nobre fuji yama aos céus erguido.

 

reta a montanha, triângulo perfeito,

que se recorta contra os céus do oriente;

mas o voo dessas pétalas sujeito

 

aos caprichos do vento, frio ou quente,

e o tapete se forma, porque é feito

da melancólica leveza dessa gente...

 

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