UM LONGO BEIJO
Um casal de velhinhos foi à roça,
onde se haviam conhecido no passado.
Ela pediu um beijo, bem ao lado
da cerca em que se haviam encontrado.
Deram-se o beijo, como ninguém possa
dar-se hoje em dia, de tanto demorado.
Um caipira passou e ficou assombrado
com o amor que assim via demonstrado.
"Mas vocês não conseguem se largarem!
Como eram então, aos vinte anos?"
E a velhinha respondeu desesperada:
"É que quando antigamente nos beijamos,
esta cerca não estava eletrificada!...
Por favor, peça para desligarem!..."
VÍCIOS E FIGURAS – 30/4/2008
(para Ada Guimarães )
Esforço-me nos versos, pleonástico,
elíptico, siléptico, fiel ao anacoluto...
As reticências, sem cessar, escuto
e devo imaginar um quê bombástico.
Metalinguagem de sabor fantástico,
levando à finitude o absoluto...
E pela boa sentença, ponho luto,
em mercurial anseio sorumbático.
Que eu jogue com palavras, jogo agora
com o jogo de palavras feito outrora,
porque é meu jogo e assim tenho direito
de zombar dele, qual zomba de mim:
metaperíodos, metameta, assim,
somente um exercício sem proveito.
EUTELOGIA – 30 JUN 79
Eu te desejo, eu te anseio, eu te bendigo,
Eu te amo, eu te quero, eu te adoro,
Eu te beijo, eu te abraço, eu te imploro,
Eu te lastimo, eu te cerco, eu te persigo.
Eu te possuo, eu te vazo, eu te destino,
Eu te enlouqueço, eu
te amparo, eu te digo,
Eu te perco, eu te busco, eu te consigo,
Eu te escuto, eu te vejo, eu te domino.
Eu temia, eu testemunho, eu terrível,
Eu teria, eu tentava, eu te confesso,
Eu templário, eu temerário, eu temível,
Eu, Teodoro, eu temendo, eu te endereço,
Eu, Tereza, eu textual, eu termino:
Eu te abandono, eu te
deixo, eu te assassino!
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