quinta-feira, 3 de dezembro de 2020


 

CONSELHO PARA MIM I – 5 dez 19

 

Apenas quem te ame te pode compreender,

meu bom amigo e, enfim, perdoar-te o teu querer,

tão solitário e mudo no mesmo distender

da carne pelo ideal, da mente por dever.

 

Apenas quem te ame e queira dar-te abrigo,

tomar-te sob as penas, livrar-te do perigo,

que trazes dentro d'alma, que já nasceu contigo,

que nunca rebrotou, que já morreu de antigo.

 

Apenas quem te ame e veja tudo e queira

amar-te mesmo assim: amar-te pela poeira

que trazes aos cabelos, a poeira derradeira.

 

Apenas quem te ame e o mesmo ideal pressinta,

apenas quem te ame e igual rancor não sinta,

e por te querer bem, de ti não mais requeira...

 

CONSELHO PARA MIM II

 

Somente existe amor inicial e verdadeiro,

que nos primeiros anos se formou primeiro,

amor egoísta de brinquedo e paradeiro,

amor enfim, que esvai-se o derradeiro...

 

O amor materno, com todo o seu carinho,

santifica a criança em seu bercinho;

o amor paterno, já mesclado a espinho,

pretendo o filho orientar em seu caminho.

 

Mas em seus primeiros anos, a criança

só pensa em si e como achar bonança,

sem empatia real por quem alcança,

 

sendo somente através da educação

ou por social e estúpido empurrão

que encontrará sua verdadeira posição.

 

CONSELHO PARA MIM III

 

E quem se pode esperar que mais nos ame,

que para nossa menor ânsia se conclame,

honestamente a atender cada reclame,

senão quem porta o nome que nos chame?

 

Cada um de nós tem seu vezo individual,

mesmo altruísta em fervor espiritual,

atender precisará sua exigência material,

envolvida em seu fragor sentimental.

 

Portanto, não te julgues o arlequim,

pensando achar alguém que te ame assim,

da mesma forma intensa até o fim

 

como amas a ti mesmo e te compreendes,

essa tua busca de amor completa entendes

e mesmo a ti quantas vezes te surpreendes?

 

RESSALVA I – 6 dez 19

 

no entretanto, como este ardor abrasa

minhalma mesma e tanto me espicaça!...

eu bem quisera furtar-me ao fado e à taça

comum da humanidade, que se atrasa

por tanta pressa ter, mas tão ansioso

por retomar-Te o amor tão generoso

que me demonstras, que Teu beijo saboroso

seja só meu no mesmo jogo buliçoso,

que me atolo no fogo do sarçal

do Teu estranho ardor, tão virginal,

e ao mesmo tempo de esplendor carnal,

qual virgem fosses, e não mulher arfante

que sabe quanto quer, num gozo lancinante,

enquanto me concede um orgasmo cintilante!...

 

RESSALVA II

 

E nessa ânsia, assim, de Te possuir,

ao ver que o mesmo desejas conseguir,

eu fico a me perder no ir e vir

do egoísmo meu e em altruísmo agir,

sabendo bem não ser criança mais,

sabendo tens iguais desejos naturais,

a pesar meu, sentido por demais

amor por Ti em desejos materiais,

ao perceber como a Ti mesma amas

quando ao amor ansiosa me conclamas,

em Teu egoísmo igual ao meu Te irmanas,

pois só desejas que eu Te possa pertencer

no mesmo grau que sinto no meu ser,

que a mim somente demonstres Teu querer.

 

RESSALVA III

 

deste modo, todo amor é sempre egoísta,

por mais demonstre atitude de altruísta,

qual um político do poder quer a conquista

e em conservá-lo todo o esforço invista,

assim eu quero Te chamar de minha,

que a cada nova manhã que se avizinha

eu sinta a sístole que Teu peito então continha

seja a diástole que no peito meu se alinha;

e ao mesmo tempo, percebo por igual

que o Teu desejo por mim é material,

de me prender no egoísmo individual;

tudo pensado, um egoísmo outro convida,

nessa ressalva que em dois peitos tem guarida

e que nos possa agrilhoar por toda a vida!

 

ESCOLHA  I – 7 dezembro 2019

 

Os homens se revelam nos animais que amam,

Se lhes servem de amigos, se apenas utilizam

Sua carne, seu perfume, seus pelos, se estilizam

Uma gaiola d'oiro aos pássaros que escolham.

 

E a mulher se revela naqueles que reclamam

Mais atenção e afeto, assim gatos a visam

Quais mascotes naturais, dela precisam

Tal qual crianças fossem, amor sem dar lhes tomam.

 

Considerando tudo, sermos mascote obrigam

Os caprichos dos deuses: nos punem e castigam,

Sem nos dizer porquê; e igual nos dão amor...

 

Se devo ser mascote, prefiro outro destino:

Entrego-me à mulher, no puro desatino

De terminar meus dias mascote de uma flor!...

  

ESCOLHA  II

 

Será que alguma flor amor pode retribuir,

Senão na opalescência do perfume,

Esse brilho multicor em que resume,

Somente sendo, o escorço do porvir?

 

Mas é tão curto da flor seu reluzir!

Murcha no vaso, resseca em azedume,

Murcha no pé, quer sua semente rume

Para ultramar, algures a surgir...

 

Destarte, o meu amor subserviente,

Em seu desejo de altruísmo apenas

Esse destino alcança temporário:

 

Talvez a flor de orgulho complacente

Danse em meu peito por formosas cenas

E então parta a buscar outro sacrário!...

 

ESCOLHA  III

 

Nunca se pode esperar de uma mulher

O mesmo amor sem condições de um cão;

Por mais gentil a demonstrar seu coração,

Retribuição maior de nós requer...

 

E se mascote ser de um gato ela quiser,

É justamente por lhe dar pouca atenção;

Jamais felino lhe prestará submissão:

Altivo aceita todo o amor que ela lhe der.

 

E como um gato ser não poderei,

Embora homem haja que assim seja,

Astuto a compreender como domá-la...

 

Mais como um cão então me portarei,

Sempre fiel no momento que se enseja,

Sabendo apenas quão melhor amá-la! 

 

REBATE I – 8 dez 19

 

Amor e Esperança, que coisa mais antiga!

Temática batida, tais como são batidas

as emoções humanas; são sempre repetidas

enquanto a humanidade em seu andar prossiga,

 

cantando às gerações a perenal cantiga, 

aos ouvidos dos jovens, idéias incontidas,

os velhos mastigando, em sagas percutidas,

deveres familiares a que a pátria nos obriga...

 

E é dele que se vive, desse amor renovado

pelo que não se tem, o prêmio cobiçado

que o passado redime, que nos traria bonança.

 

E é dela que se vive, desta triste esperança

por tantas frustrações colhidas no passado,

não mais que a luz esquiva que nos recusa o fado...

 

REBATE II

 

Pois geração assim a outra toca o sino:

dara o dever matrimonial alacridade,

para o dever dominical santa piedade,

para o dever final seu toque peregrino,

 

cada momento a repetir velho destino,

para o remate avançar da humanidade,

para a rebate chamar as tropas da cidade

a seu combate potencial contra assassino.

 

Então um sino rebate para amor,

porém notamos perdido seu badalo;

por mais que puxe o sineiro com fervor,

 

não tange o sino com igual ardor;

contudo, amor eu busco e não me calo,

meu próprio canto a badalar com estridor!

 

REBATE III

 

Pois novamente toca-se o rebate

para quem mais que o amor, busca o poder;

o sino tange para as tropas lhe trazer,

quer de soldados, quer de votos açafate,

 

na esperança de travar combate

e adversários conseguir vencer;

talvez na luta ninguém chegue a perecer,

mas certamente a concorrência abate.

 

Mas a tal pugna permaneço alheio,

poder não quero, sequer glória ou fama,

somente espero o filme ver passar,

 

minha esperança a proteger no seio

desta minha arte que do peito se derrama

e que só quero ver ao longe se espalhar.

 

SINGSONG

 

NOT MUCH IS LEFT

FROM WHAT I THOUGHT,

I FEEL BEREFT

FROM ALL I SOUGHT.

SO MUCH IS CHANGED

FROM FIRST INSIGHT,

MY MIND IS SINGED,

MY HURT IS BRIGHT.

WOMEN FICKLE BEINGS,

NEVER TO BE TRUSTED,

HEARTS IMPREDICTABLE,

FEISTILY UNKNOWABLE,

LIKE FRESH SPRINGS,

ONLY TO BE LOVED.

 

CLOSURE

 

In fact, you are right, I have spent

far too much time, and then neglected

interest and duty; alike disrespected

those inclinations to which I had lent,

 

in former times, pledge and allegiance.

'Tis time to withdraw, to break camp,

to douse the fire, to turn down my lamp,

to close my book and initiate an instance

 

into which no more good money shall be sent

after bad, and to stopper heartbreak,

worry no more for deed inconsequent

 

brought forth from you; and then, repent

the very withdrawal, if you take

the hurtful words back... and thus consent.

 

EMPTINESS

 

I feel no torment, taste but boredom

for things told once and then repeated,

for pledges made once and then completed,

for freedom swapped vainly for thralldom.

 

There is no reason left for insisting,

all has been said, has been told again,

remarked and experienced, for no gain.

no breakthrough in mind so resisting.

 

There is nothing to do, the wait is done,

reason to wiles submit no more:

where Nothing were, Nothing there is to part;

 

where Nary was made, Nary's to be undone.

My hands grasped Nothing, and galore

is that Nothing brought in to fill my heart.

 

 


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