HOMENAGEM A WACKENRODER
[Adaptação e formato poético por William Lagos,
sobre um conto de Wilhelm Heinrich Wackenroder]
PEDRAS FAMINTAS I
Havia na Índia um santo
que andava quase nu,
nos costumes de um saddhu,
peregrinando sem canto.
Desprezava o riso e o pranto,
buscando a roda do tempo,
de constante movimento,
que nos causa tanto espanto.
Porque a inteira humanidade
passa todos os seus dias
se esforçando em busca vã,
buscando a fome da idade,
na ciência ou nas magias,
inverter com todo o afã.
PEDRAS FAMINTAS II
Anda o santo pelas ruas,
buscando sempre essa roda,
muita gente ele incomoda,
mostrando suas coxas nuas.
Até que ele enxerga as gruas
com que o tempo nos engoda,
com que a humanidade toda
sangra e sua contra as puas.
Que a pétrea roda do tempo
nunca pára de girar...
Ele olha o movimento
e, por todo o contratempo,
não sabe como emperrar
ou travar esse momento.
PEDRAS FAMINTAS III
Porém, um dia, ele escuta
um casal de namorados,
os dois cantando, encantados,
uma canção que refuta
toda essa insana labuta
desses pobres esfalfados,
a lutar, atribulados,
em tal perene conduta...
E percebe, finalmente,
que a roda do tempo parte,
ao som dessa melodia,
interrompida somente
pelo amor ou pela arte,
ou pelo som da poesia!...
(Wilhelm H.
Wackenroder,1773-1798, é considerado o pai do romantismo. Criador da
"metafísica da música", teve uma vida meteórica, morrendo aos 25 anos,
uma das primeiras vitimas da tuberculose recém importada da China... sem conseguir
parar a Roda do Tempo. Embora não fosse um suicida, serviu de modelo para o
Werther de Goethe, um livro tão deprimente que deu ocasião a uma epidemia de
suicídios entre os jovens através da Europa.
Ah, sim, essa foi importada da Alemanha...
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