domingo, 27 de dezembro de 2020


 

HOMENAGEM A WACKENRODER

[Adaptação e formato poético por William Lagos,

sobre um conto de Wilhelm Heinrich Wackenroder]

 

PEDRAS FAMINTAS I

 

Havia na Índia um santo

que andava quase nu,

nos costumes de um saddhu,

peregrinando sem canto.

 

Desprezava o riso e o pranto,

buscando a roda do tempo,

de constante movimento,

que nos causa tanto espanto.

 

Porque a inteira humanidade

passa todos os seus dias

se esforçando em busca vã,

 

buscando a fome da idade,

na ciência ou nas magias,

inverter com todo o afã.

 

PEDRAS FAMINTAS II

 

Anda o santo pelas ruas,

buscando sempre essa roda,

muita gente ele incomoda,

mostrando suas coxas nuas.

 

Até que ele enxerga as gruas

com que o tempo nos engoda,

com que a humanidade toda

sangra e sua contra as puas.

 

Que a pétrea roda do tempo

nunca pára de girar...

Ele olha o movimento

 

e, por todo o contratempo,

não sabe como emperrar

ou travar esse momento.

 

PEDRAS FAMINTAS III

 

Porém, um dia, ele escuta

um casal de namorados,

os dois cantando, encantados,

uma canção que refuta

 

toda essa insana labuta

desses pobres esfalfados,

a lutar, atribulados,

em tal perene conduta...

 

E percebe, finalmente,

que a roda do tempo parte,

ao som dessa melodia,

 

interrompida somente

pelo amor ou pela arte,

ou pelo som da poesia!...

 

(Wilhelm H. Wackenroder,1773-1798, é considerado o pai do romantismo.  Criador da "metafísica da música", teve uma vida meteórica, morrendo aos 25 anos, uma das primeiras vitimas da tuberculose recém importada da China... sem conseguir parar a Roda do Tempo. Embora não fosse um suicida, serviu de modelo para o Werther de Goethe, um livro tão deprimente que deu ocasião a uma epidemia de suicídios entre os jovens através da Europa.  Ah, sim, essa foi importada da Alemanha...

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