terça-feira, 16 de março de 2021


 

 

AMORNAUTA I – 13 MAR 2021

 

Um dia adormeci sobre teu travesseiro:

Quando acordei, havia inteiro penetrado

Entre as felpas de algodão, encarcerado

Como se fosse algum inseto interesseiro.

 

Contra sonhos eu lutei desde o primeiro

Momento em que me achei aprisionado,

A combater teus pesadelos condenado,

Mas cada sonho bom guardei-te inteiro!...

 

Mesmo aqueles de que não participava,

Nos quais te via beijando meus rivais,

Para tudo que era bom te preservei,

 

Até o momento em que a multidão me amava,

Armas de sonho tomando contra os mais,

Tais gentis vultos que dentro em ti deixei.

 

AMORNAUTA II

 

Acompanhado por um bando de escudeiros

Que encontrei em teus sonhos, desbravei

Tua floresta de cabelos e aos poucos avancei

Até a beira da epiderme, em passos altaneiros.

 

Os escudeiros transformados em pedreiros

Abriram-me passagem e por ela então entrei;

Dos capilares no teu sangue então nadei,

Entrando em ti nesses gestos sorrateiros.

 

Com um escudo de quimeras bem armado,

Lança e espada forjadas de teus sonhos,

Pelos sendeiros de tuas veias deslizei

 

Até ficar completamente assimilado,

Qual construtor dos anseios mais risonhos,

Que entrei em ti e nunca mais voltei!...

 

AMORNAUTA III

 

Assim entrei, ainda armado de guerreiro,

Fiz-me leucócito a nadar em teus canais,

Fui balbucio em tuas redes neurais,

Imerso como o sonho guardado em travesseiro.

 

Teus fluídos eu busquei no aguardo sorrateiro

Da invasão de vírus e micróbios mais carnais,

Brandindo a cimitarra das guerras siderais,

Abatendo os invasores com o golpe mais certeiro.

 

E te confiro a vida em toda a permanência;

Sem mim já te perderas em vagas de imanência,

Tornei-me o teu sofisma e tua bênção terrenal;

 

Ainda nado em teus nervos quando rompe a aurora

E tuas artérias eu vigiarei, ainda embora

Não mais lembres de mim, nem me queiras bem ou mal.

 

EBRIEDADE I – 14 MAR 21

 

Eu ontem te amarei

quando nem sabia que andavas por aí

Eu te amei amanhã

quando apenas cinza achei no meu regaço

Eu te amo ainda hoje

passando do teu lado ao ver que me deixavas

Eu te amaria agora

qualquer o malefício que sei me causarás

Eu vou te amar no nunca

imagem de passagem e vela de meus sonhos

Eu te amarei jamais

enquanto o dealbar persiste sobre o orvalho,

porém talvez nem saibas de onde brota o amor,

por nada que fizeste, de onde esse calor

que nasceu em meu peito qual nasce o cogumelo,

serapilheira de descaso, mas para mim tão belo,

essa fuga de mim em desespero e calma,

plena ânsia de ti na treva azul da alma

 

EBRIEDADE II

 

Queria que me odiasses,

 queria assim lembrasses de mim constantemente

Queria me esquecesses,

porque quem frequente esquece precisa recordar

Queria desejasses

no máximo vigor da mente que incendeias

Queria arquitetasses

contra mim essa vingança em todos os teus dias

Pois quando não me odeias

deixas de lado a lembrança, aberta a veia

Que esguichou sobre o fogo

e a chama não se ateia no crepúsculo do ódio

e sendo indiferente, me darias maior morte

que essa vida usufruída como alvo de rancor,

caso passes por mim sem me lançar a sorte

sequer de um olhar gélido, de um rosto de palor,

pois nem sequer me vês, por mais que a vida entorte

meu caminho em labirinto de límpido estertor.


FOTOGRAFIA TIRADA NO MAR NEGRO. A MODELO DA FOTO FOI IDENTIFICADA COMO IGGONIA SEMATORSKAYA.


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