NON
SUM QUALIS ERAM I (*) – 25 MAR 2021
(*)
Não sou mais como eu era.
Embora
seja ainda forte, nunca fiz
musculação,
nem busquei qualquer esporte;
os
músculos que trago no meu porte
ganhei
pelo trabalho que condiz
com
o uso do machado e da pá, que quis
utilizar
para terra e lenha ao corte;
usei
enxada e picareta e toda sorte
desse
trabalho que braçal se diz.
Ao
mesmo tempo, desenvolvi a mente,
qual
no ditado, que é “sã em corpo são”,
sem
que uma coisa a outra me impedisse;
foi
assim que vivi, frequentemente
a
trabalhar com a mente e o coração,
conquanto
em versos a minha alma abrisse.
NON
SUM QUALIS ERAM II
Eu
sempre fui artista e os companheiros,
colegas
e outros homens preferiam
esportes,
futebol ou contariam
de
seus sucessos reais ou verdadeiros.
Eu
nunca fui assim. Os meus sendeiros
buscaram
livros, poemas, se perdiam
pelas
pinacotecas e museus, corriam
as
bibliotecas de velhos mosteiros...
E
muito embora tenha tido meus seis filhos,
sinto
ter mais em comum com as mulheres,
com
quem possa partilhar dos pensamentos,
não
que aprecie modas, memes e outros trilhos,
porém
amo crianças e há prazeres
bem
femininos nos meus sentimentos...
NON
SUM QUALIS ERAM III
Sempre
me dei melhor com as mulheres
do
que com homens – bem poucos amigos,
desses
sinceros para quaisquer perigos
eu
encontrei pelo mundo em meus viveres;
que
namorador me declare não esperes,
pois
nunca o fui, desde meus dias antigos,
mas
contentei-me a ceifar somente os trigos
que
surgiram à minha frente, sem misteres.
Foi
sempre assim, esperei que me buscassem
e
que deixassem bem claro o que queriam
e
tais desejos muita vez nem percebi,
talvez
por isso seus lábios meus se achassem,
pois
se me buscam é porque de mim se fiam,
que
uma ameaça eu nunca constituí.
NON
SUM QUALIS ERAM IV
Trago
uma estrela na palma de minha mão,
que
dizem ser sinal de profecia,
especialmente
se na esquerda reluzia
o
talismã dessa esplêndida visão;
porém
bem cedo me chegou desilusão,
ao
perceber que na direita se inscrevia,
menos
potente sendo tal magia,
por
não se achar na mão do coração.
Mas
ali está ela, bem clara e definida,
na
mesma mão em que trago a letra A,
ao
invés do M que os demais ostentam;
e
muita vez, ao longo de minha vida,
eu
escutei aquela voz: “Não Vá!”
quando
algum dano os fados me portentam.
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