PEAN POR MIM I (*) – 26 MAR 2021
(*) Canto Fúnebre
Não sei de onde tirei este
meu sonho,
dominado pela plena
insensatez;
reviso em vão os cantos em
que ponho
recordações revoltas de
aridez.
Mirando o inconsciente, vez
por vez,
não encontro o sonho que se
perdeu no antanho;
como um tolo fatalmente já
me vês,
a me esforçar empós ideal
tamanho...
Nunca fui solipsista, o
mundo
solidificou-se em crua
realidade,
forçando sua firmeza em
profusão;
só brota então o meu ideal
profundo,
singular de elasticismo sem
maldade,
da disritmia tenaz do
coração.
PEAN POR MIM II
Não tenho antepassados
espanhóis, porém
os tenho catalães, bascos,
galegos,
de Trás-os-Montes, Portugal,
também,
mas não tenho castelhanos
nem manchegos.
Meus ancestrais me fitam de
olhos cegos,
envoltos em mortalhas,
quando as têm,
transformados em ossos seus
sossegos,
caixões vazios que nem mais cinzas
retêm.
Outros vieram de locais
distantes,
Suiça, Irlanda, França e
Alemanha,
Itália e Líbano, dos Bálcãs
e nem sei
quais outros pontos mais, os
visitantes
destes meus sonhos, deneás
em artimanha,
dos mais antigos que eu
nunca saberei.
PEAN POR MIM III
Porque a lâmina descende e o
sonho corta,
em talho limpo e fino, sem
demora,
não mais o suserano, como
outrora,
vassalo agora só da
morte. A foice torta
desfaz o ideal, toda
esperança importa,
na asserção executiva dessa
hora;
tomba a cabeça do sonho que se
estoura
contra o assoalho do real e
o corpo entorta.
Resta agora recolher neste
ataúde
da realidade as quimeras
recortadas,
que ainda estremecem em
réplica de vida;
que ainda morto, o sonho ao
mundo ilude,
pálidas sejam as bênçãos
degoladas,
suas mãos atadas por ilusão
perdida.
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