MINHA CASA CEREBRAL I – 6 MAR
21
Em que parte do cérebro a
alma se abriga?
Que era na hipófise algum
tempo afirmaram;
que era na amígdala igual certos
sugeriram;
mas é no córtex que o
raciocínio se consiga
e o núcleo cerebral a
comunicação persiga
e ainda há alcateia em que se
entrecruzaram
esses lobos vitais a que
sempre ampararam
as fortes meninges e o sangue
que as irriga.
Sei processo o raciocínio em
meu lobo frontal;
ali o aprendizado, a memória
e até a fala,
sem dúvida é a sede de meu
pensamento,
controlando em parte também o
movimento,
mas será que ali encontro de
forma bem real
essa alma escondida mas que
jamais se cala?
MINHA CASA CEREBRAL II
Minha alma se esconde por
entre mil neurônios:
É sempre tímida, a pobre...
não quer ser tocada,
talvez se desvaneça caso ao
menos for beijada,
mas infantil brinca entre
seus renques de axônios,
minha alma que te espia na
crista dos hormônios,
no humor vítreo se banha em
cada luz airada,
só através da retina a
lançar-te uma espiada,
condensada em vapores sutis
de feromônios.
Minha alma é um moleque que
se perdeu no mato,
enfrentando as alcateias de
meus lobos cerebrais,
muito arteira no córtex, mas vai
dormir no tálamo:
pelotões de sinapses a vem
seguir, de fato,
o superego a impulsiona a
deveres bem fatais,
mas ela ainda aspira o
instintivo do hipotálamo...
MINHA CASA CEREBRAL III
Mas fico a imaginar como
instintos arrogantes
a ação me influenciam e a
personalidade,
até que ponto o deeneá de tanta
majestade
dentro em mim conforma ideais
mais dominantes,
pois sei que é um moleque qual
te falei antes
que corre pelas veias sem responsabilidade,
neurônios complacentes a dar-lhe
liberdade,
sem auto-controle,
travessuras faz gigantes...
Por certo que da alma parte fazem
integrante
essas coisas estranhas que
chamam de emoções,
suas rédeas repuxadas por mil
inibições
e é aqui que se encontra o
espírito meu atuante?
Em que parte se acha a
oficina do sonho?
E aonde o cardume dos versos meus
componho?
NEURÔNIOS I – 7 MAR 21
NÃO SÃO MAIS QUE BILHÕES DE
DESDITAS
MOLÉCULAS
DEENEALÓGICAS NO DANÇAR DOS
AXÔNIOS
ESPÍCULAS
CANDENTES NA DANÇA DAS LÂMINAS
A VIDA
APARECE E É ALI IDENTIFICADA,
A VIDA QUE A VIDA CONTEMPLA E
ALIMENTA,
A VIDA FURTIVA QUE ALI SE
APRESENTA
ENTRE LÂMINAS
BRILHANTES PIPETAS TRANSPARENTES
AS CIRCUNVOLUÇÕES
JÁ FORA DE MODA A VIDA
IDENTIFICAM
E OS NEURÔNIOS
CALCULAM SOLERTES A VIDA PERDIDA
E NO SEU VENENO
A VIDA CONSTANTE ENVENENA SUA
VIDA
AS REDES NEURAIS
DE ESCUSAS MOLÉCULAS AVIVAM
AXÔNIOS
E NESSES SINAIS
RETINAS DESNUDAS EM OLHARES
INVERSOS
CONTEMPLAM LÁ DENTRO
SINAPSES, MOLÉCULAS E ELÉTRICOS
TOTAIS
NEURÔNIOS EM LÂMINAS
SEM CRÂNIOS, SEM MENINGES, SEM
PLANOS
A VIDA ME ACUSAM
DOS PRATOS DE PETRI EM QUE JAZEM
SEUS OLHOS
NEURÔNIOS II
EU VIVO A ANIMAÇÃO
NESSA REDE FEBRIL DA FORÇA DOS
HUMORES
QUE EM MIM
É IMPRESSA POR NEUROTRANSMISSORES
SÃO SINAPSES
DESNUDAS MEUS PESADELOS E OS
AMORES
MEU CÉREBRO
SEM MÁCULA ANSIANDO POR LOUVORES
MEU VENTRE
IMACULADO ANSIANDO POR SEXORES
MEU ENCÉFALO
AÇOITADO POR SONHOS E ESTERTORES
MEU CORAÇÃO
GENTILMENTE A ACOLHER OUTROS
PINTORES
SUSPEITOS CEREBRAIS
TÊM CÉREBRO EM VISÃO ATÉ DEMAIS
PORÉM O MEU
É VASTO E TUDO ACOLHE EM SEUS
CANAIS
UM ESCANINHO
A CADA ALMA EM PRISÕES
INDIVIDUAIS
UM PEQUENO
TRONO MORTO PARA SONHOS IMORTAIS
A CONSERVAR
PARA SI DE TODA VIDA O SIMULACRO
E ENTÃO GEMEM
NA LITANIA DOS VERSOS CANTO SACRO
MIL VOZES
NO UNÍSSONO DA LÍRICA DISCÓRDIA
ASSIM EU VOS ACEITO
MIL DEFUNTOS HABITANTES DE MINHA
ALMA
E O MUNDO
É DE NÓS TODOS ENQUANTO EU NÃO ME
FOR
NEURÔNIOS III
DIZEM HOJE
DO AMOR QUE É PURA EPINEFRINA
INTERAGINDO
HÁBIL COM OUTROS
NEUROTRANSMISSORES
TODA ARTE
E ESCULTURA, TODA FONTE DOS
AMORES
SÃO EFEITOS
E SINTOMAS DA CATECOLAMINA
DIZEM ENTÃO
QUE TODO AMOR É PURA DOPAMINA
EM ESTERTORES
A ADRENALINA A COMBATER
SEROTONINA
ESSE ENLACE
DAS AMINAS A PRODUZIR HUMORES
E TUDO O QUE
CANTAMOS É SÓ NOR-EPINEFRINA
NO NUCLEUS CAUDATUS
COM CUIDADO CONSTRUÍ NINHO DE
AMOR
EM QUE QUEIMO
DIA A DIA EM ROMÂNTICA FORNALHA
MEUS SONHOS
ANSIEDADES, FANTASMAS E PAIXÕES
SANCTUS SANCTORUM
EM QUE CONSERVO O MAIS VERO SABOR
E O PERFUME
DOS ÂNIMOS FERVILHA E ENTÃO SE
ESPALHA
NO CALDEIRÃO
DE BRUXAS QUE BORBULHA EM
ILUSÕES.
EXCOMUNHÃO I – 8 MAR 21
dizem relógios serem família desunida,
que não há dois marcando a mesma hora,
este se atrasa e aquele vai embora,
muito além
dessa hora conferida;
já os relógios eletrônicos na lida
são muito mais confiáveis e a alma revigora
saber que há relógio atômico que demora
por milênios sem ter sua precisão perdida;
mas os relógios comuns são mais teimosos
ou até diria, mais individualistas,
cada qual jurando estar com o passo certo
e até mesmo os horários cuidadosos
dos celulares seguem diversas pistas
do que mostra a TV em canal aberto!
EXCOMUNHÃO II
mas qual o espanto, se nós, seres humanos,
temos ritmos circádicos diversos,
um dorme muito, a outra vê disperos
esses períodos sob os comandos soberanos
das horas de sono e destarte sofrem danos
e em muito mais coisas são incertos,
quando um prefere andar a céus abertos
e a outra guarda sob os tetos seus afanos;
um come apenas com regularidade,
a outra come quando tem vontade
e assim variam seus ritmos semanais,
tanto os circádicos como os circanuais
e os relógios são até mais ajustados
uns cons outros, sem das horas desconfiados.
EXCOMUNHÃO III
eu bem queria que fosse mais unida
em seus quereres toda a humanidade;
não passa isto de uma ingenuidade,
será a discórdia sempre a preferida,
sempre a ambição avançará garrida,
a desconfiança ante a generosidade,
nos corações tanta negatividde,
traços comuns a se encontrar na vida.
pois os relógios com uma pilha se contentam
e os mais antigos aceitam apenas corda,
provém de nós seu desencontro na verdade,
pois quantos há que de raiva se alimentam
e na primeira oportunidade que se aborda,
só se unem em sua falta de unidade...
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