sexta-feira, 12 de março de 2021


 

 

MINHA CASA CEREBRAL I – 6 MAR 21

 

Em que parte do cérebro a alma se abriga?

Que era na hipófise algum tempo afirmaram;

que era na amígdala igual certos sugeriram;

mas é no córtex que o raciocínio se consiga

e o núcleo cerebral a comunicação persiga

e ainda há alcateia em que se entrecruzaram

esses lobos vitais a que sempre ampararam

as fortes meninges e o sangue que as irriga.

 

Sei processo o raciocínio em meu lobo frontal;

ali o aprendizado, a memória e até a fala,

sem dúvida é a sede de meu pensamento,

controlando em parte também o movimento,

mas será que ali encontro de forma bem real

essa alma escondida mas que jamais se cala?

 

MINHA CASA CEREBRAL II

 

Minha alma se esconde por entre mil neurônios:

É sempre tímida, a pobre... não quer ser tocada,

talvez se desvaneça caso ao menos for beijada,

mas infantil brinca entre seus renques de axônios,

minha alma que te espia na crista dos hormônios,

no humor vítreo se banha em cada luz airada,

só através da retina a lançar-te uma espiada,

condensada em vapores sutis de feromônios.

 

Minha alma é um moleque que se perdeu no mato,

enfrentando as alcateias de meus lobos cerebrais,

muito arteira no córtex, mas vai dormir no tálamo:

pelotões de sinapses a vem seguir, de fato,

o superego a impulsiona a deveres bem fatais,

mas ela ainda aspira o instintivo do hipotálamo...

 

MINHA CASA CEREBRAL III

 

Mas fico a imaginar como instintos arrogantes

a ação me influenciam e a personalidade,

até que ponto o deeneá de tanta majestade

dentro em mim conforma ideais mais dominantes,

pois sei que é um moleque qual te falei antes

que corre pelas veias sem responsabilidade,

neurônios complacentes a dar-lhe liberdade,

sem auto-controle, travessuras faz gigantes...

 

Por certo que da alma parte fazem integrante

essas coisas estranhas que chamam de emoções,

suas rédeas repuxadas por mil inibições

e é aqui que se encontra o espírito meu atuante?

Em que parte se acha a oficina do sonho?

E aonde o cardume dos versos meus componho?

 

NEURÔNIOS I – 7 MAR 21

 

NÃO SÃO MAIS QUE BILHÕES DE DESDITAS

MOLÉCULAS

DEENEALÓGICAS NO DANÇAR DOS AXÔNIOS

ESPÍCULAS

CANDENTES NA DANÇA DAS LÂMINAS

A VIDA

APARECE E É ALI IDENTIFICADA,

A VIDA QUE A VIDA CONTEMPLA E ALIMENTA,

A VIDA FURTIVA QUE ALI SE APRESENTA

ENTRE LÂMINAS

BRILHANTES PIPETAS TRANSPARENTES

AS CIRCUNVOLUÇÕES

JÁ FORA DE MODA A VIDA IDENTIFICAM

E OS NEURÔNIOS

CALCULAM SOLERTES A VIDA PERDIDA

E NO SEU VENENO

A VIDA CONSTANTE ENVENENA SUA VIDA

AS REDES NEURAIS

DE ESCUSAS MOLÉCULAS AVIVAM AXÔNIOS

E NESSES SINAIS

RETINAS DESNUDAS EM OLHARES INVERSOS

CONTEMPLAM LÁ DENTRO

SINAPSES, MOLÉCULAS E ELÉTRICOS TOTAIS

NEURÔNIOS EM LÂMINAS

SEM CRÂNIOS, SEM MENINGES, SEM PLANOS

A VIDA ME ACUSAM

DOS PRATOS DE PETRI EM QUE JAZEM SEUS OLHOS

 

 NEURÔNIOS II

 

EU VIVO A ANIMAÇÃO

NESSA REDE FEBRIL DA FORÇA DOS HUMORES

QUE EM MIM

É IMPRESSA POR NEUROTRANSMISSORES

SÃO SINAPSES

DESNUDAS MEUS PESADELOS E OS AMORES

MEU CÉREBRO

SEM MÁCULA ANSIANDO POR LOUVORES

MEU VENTRE

IMACULADO ANSIANDO POR SEXORES

MEU ENCÉFALO

AÇOITADO POR SONHOS E ESTERTORES

MEU CORAÇÃO

GENTILMENTE A ACOLHER OUTROS PINTORES

SUSPEITOS CEREBRAIS

TÊM CÉREBRO EM VISÃO ATÉ DEMAIS

PORÉM O MEU

É VASTO E TUDO ACOLHE EM SEUS CANAIS

UM ESCANINHO

A CADA ALMA EM PRISÕES INDIVIDUAIS

UM PEQUENO

TRONO MORTO PARA SONHOS IMORTAIS

A CONSERVAR

PARA SI DE TODA VIDA O SIMULACRO

E ENTÃO GEMEM

NA LITANIA DOS VERSOS CANTO SACRO

MIL VOZES

NO UNÍSSONO DA LÍRICA DISCÓRDIA

ASSIM EU VOS ACEITO

MIL DEFUNTOS HABITANTES DE MINHA ALMA

E O MUNDO

É DE NÓS TODOS ENQUANTO EU NÃO ME FOR

 

NEURÔNIOS III

 

DIZEM HOJE

DO AMOR QUE É PURA EPINEFRINA

INTERAGINDO

HÁBIL COM OUTROS NEUROTRANSMISSORES

TODA ARTE

E ESCULTURA, TODA FONTE DOS AMORES

SÃO EFEITOS

E SINTOMAS DA CATECOLAMINA

DIZEM ENTÃO

QUE TODO AMOR É PURA DOPAMINA

EM ESTERTORES

A ADRENALINA A COMBATER SEROTONINA

ESSE ENLACE

DAS AMINAS A PRODUZIR HUMORES

E TUDO O QUE

CANTAMOS É SÓ NOR-EPINEFRINA

NO NUCLEUS CAUDATUS

COM CUIDADO CONSTRUÍ NINHO DE AMOR

EM QUE QUEIMO

DIA A DIA EM ROMÂNTICA FORNALHA

MEUS SONHOS

ANSIEDADES, FANTASMAS E PAIXÕES

SANCTUS SANCTORUM

EM QUE CONSERVO O MAIS VERO SABOR

E O PERFUME

DOS ÂNIMOS FERVILHA E ENTÃO SE ESPALHA

NO CALDEIRÃO

DE BRUXAS QUE BORBULHA EM ILUSÕES.

 

EXCOMUNHÃO I – 8 MAR 21

dizem relógios serem família desunida,

que não há dois marcando a mesma hora,

este se atrasa e aquele vai embora,

muito  além dessa hora conferida;

já os relógios eletrônicos na lida

são muito mais confiáveis e a alma revigora

saber que há relógio atômico que demora

por milênios sem ter sua precisão perdida;

mas os relógios comuns são mais teimosos

ou até diria, mais individualistas,

cada qual jurando estar com o passo certo

e até mesmo os horários cuidadosos

dos celulares seguem diversas pistas

do que mostra a TV em canal aberto!

 

EXCOMUNHÃO II

mas qual o espanto, se nós, seres humanos,

temos ritmos circádicos diversos,

um dorme muito, a outra vê disperos

esses períodos  sob os comandos soberanos

das horas de sono e destarte sofrem danos

e em muito mais coisas são incertos,

quando um prefere andar a céus abertos

e a outra guarda sob os tetos seus afanos;

um come apenas com regularidade,

a outra come quando tem vontade

e assim variam seus ritmos semanais,

tanto os circádicos como os circanuais

e os relógios são até mais ajustados

uns cons outros, sem das horas desconfiados.

 

EXCOMUNHÃO III

 

eu bem queria que fosse mais unida

em seus quereres toda a humanidade;

não passa isto de uma ingenuidade,

será a discórdia sempre a preferida,

sempre a ambição avançará garrida,

a desconfiança ante a generosidade,

nos corações tanta negatividde,

traços comuns a se encontrar na vida.

pois os relógios com uma pilha se contentam

e os mais antigos aceitam apenas corda,

provém de nós seu desencontro na verdade,

pois quantos há que de raiva se alimentam

e na primeira oportunidade que se aborda,

só se unem em sua falta de unidade...


Nenhum comentário:

Postar um comentário