quinta-feira, 4 de março de 2021


 

AVIDIYA (ENGANO) I – 20 JAN 21

QUE NÃO HAJA ENTRE NÓS QUEIXA SECRETA,

QUE TUDO SEJA CLARO E BEM SINCERO

E QUE NÃO CRESÇA RAIVA POR MAIS FERO

SEJA O QUEIXUME QUE ENTRE NÓS SE META!

MAS QUE AS COISAS SEJAM DITAS EM COMPLETA

E CÁLIDA ABERTURA, SEM QUE UM MERO

ESPINHO SEJA ESCONSO, ASSIM ESPERO,

QUE A DESCONFIANÇA GERA E NOS INFECTA!

PORQUE AS COISAS QUE SEPARAM OS CASAIS

SÃO ÀS VEZES TÃO TOLAS, SEM VALIA

QUE NEM SE ENTENDE ENFIM POR QUE ACONTEÇA;

QUE ENTRE NÓS NÃO SEJA ASSIM: PARA OS CANAIS

SE EXPILAM AS RAZÕES DE CIZANIA,

QUE AS QUEIXAS PASSEM MAS A JURA PERMANEÇA!

 

AVIDIYA II

AMOR NÃO É COISA PERMANENTE

QUANDO DEPENDE DA PURA EXCITAÇÃO,

DEPRESSA AS COISAS ASSIM SE ESFRIARÃO,

SEM SE LEMBRAR DO AMOR UM DIA NASCENTE.

DE FORMA MAIS SUAVE E ATÉ FREQUENTE

O AMOR SENTIMENTAL SOFRE ABRASÃO,

NO DIA A DIA AS FERIDAS SURGIRÃO

E AQUELE AMOR DESAPARECE DE REPENTE...

MAS, E DAÍ?  HÁ LEMBRANÇA DO CARINHO,

RECORDAÇÃO DE QUANDO FOI MAIS TRANSCENDENTE,

MEMÓRIAS FÁCEIS DO PRIMEIRO SENTIMENTO;

AMOR ASSIM NÃO SE DEIXA NO CAMINHO,

SEMPRE RELUZ O QUE PRENDEU A GENTE

E QUE MERECE TER UM NOVO JULGAMENTO.

 

AVIDIYA III

E SE ACHARES QUE O AMOR DESFALECEU,

RECORDA A SENSAÇÃO QUE TE PUNGIU,

BASTA FINGIR O QUE ANTES SE SENTIU,

SEGUIR OS PASSOS DO AMOR QUE SE PERDEU,

MAS TEM SEGREDOS QUE NUNCA SE ESQUECEU

E É SÓ AGIR COMO ANTERIOR SE AGIU,

NÃO É DIFÍCIL QUANDO O PAR TE CONSENTIU,

QUE AMOR É FEITO DESSES BEIJOS QUE SE DEU

E CASO OS BEIJOS SEJAM REPETIDOS

E TAIS ATOS DE AMOR ASSIM MOSTRADOS,

TALVEZ TENHAS A SURPRESA DERRADEIRA,

QUE ATOS E ENGANOS NÃO FORAM SÓ MENTIDOS,

MAS COTILÉDONES FORAM REBROTADOS,

QUAL REVERDECE A PRIMAVERA INTEIRA...

 

CORIMBOS DE AGAPANTOS  I     (9/11/2010)

(Quartetos intercalados com hemistíquios)

 

Vou iniciar, portanto, outra batalha,

Enquanto o som é leve e a voz não falha.

                No mesmo estilo.

Não sei ainda qual será a temática,

Nem de quem escutarei a voz enfática,

               Dentro em meu silo.

 

Só sei que cantarei as lamparinas

Que vejo acesas nos olhos das meninas,

                Enquanto pulam,

Na corda, no balanço ou amarelinha,

Enquanto os anos com que a vida se avizinha,

                Sábias calculam.

 

Que a inocência infantil, que assim se espera

É uma falácia que a sociedade gera:

                É mais pureza,

Na intensidade firme do propósito

De quererem para si qualquer depósito,

                Pura certeza,

 

De que o mais importante é o próprio egoísmo,

Sem possuírem nem noção de um altruísmo,

                Sem que se ensine.

Toda criança só busca o próprio bem:

Quer tudo para si e mais também,

                Enquanto atine.

 

CORIMBOS DE AGAPANTOS  II

 

É a sociedade apenas que a transforma,

Se bem que de outras vezes mais deforma,

Empós seu interesse,

Buscando ideais que defende a geração,

Como dever a incutir cooperação,

Enquanto cresce. 

 

Tudo depende, portanto do costume

Para qual lado o povo de então rume,

Quer bem, quer mal

E para isso a menina é mais treinada,

Com maiores restrições é encarada,

Qual fosse natural.

 

Porque, se formos atentos à biologia,

Monogamia é uma pura fantasia

E somente a garantia

De um homem sua mulher ter fecundado

Não  qualquer outro fisicamente bem formado:

Que não o trairia...

 

Mas um homem basta para cem mulheres,

São elas que executam os quefazeres

Da perpetuação;

Morrem os homens e a semente fica,

Basta de um só, hoje a ciência indica

Para a fecundação.

 

CORIMBOS DE AGAPANTOS  III

 

Mesmo assim, quando contemplo uma menina

Que ainda pretende não saber da sina

Para que nasceu,

Eu a vejo ainda brincando de boneca

Nesse ensaio de quem ainda não peca,

Mas já viveu.

 

Que só não peca porque não introjetou 

Todo esse peso que a Igreja lhe criou

De tal pecado

E que sem ele agiria de outra forma,

Da Natureza seguindo simples norma

De ter gerado.

 

Eu me comovo com o brilho desse olhar

Essa malícia somente a se iniciar

Em seu caminho,

Porque é cedo para cumprir essa missão

E por enquanto, só me inspira essa emoção

De mais carinho.

 

E é por isso que meninas me comovem

E até que sua maldade então me provem,

Serei paternal

E é uma pena quando vem a adolescência

E se comportam então com a impudência

Imatura e inatural.

 

CORIMBOS DE AGAPANTOS  IV  -- 21 jan 21

 

Porém conservam nelas certa graça,

Que não se perde, por mais que se desfaça

Tal inocência,

Mesmo a inocência impura do princípio,

A permanência do egoísmo ter por vício,

Sem incoerência.

 

Mas muitas delas são criadas quais princesas,

Como se o mundo um tesouro de belezas

Lhes conservasse,

Quando as mais velhas, não sendo rainhas,

Ainda projetam iguais chamas pequeninhas,

Que nada se apagasse...

 

Mesmo sabendo que a vida não é assim,

Guardam magia de um sonho carmesim

E então a legam

Enquanto tudo é só espelho do possível,

Enquanto a ilusão é inexaurível,

Elas a entregam.

 

Porque, sem a ilusão, quem quereria

Abandonar a infância e a fantasia

Do circo e pães?

Com tudo que o matrimônio lhe acarreta,

Não obstante, mulher alguma se completa,

Sem serem mães...

 

CORIMBOS DE AGAPANTOS  V 

 

Mas lá do fundo espia a crueldade,

Mesmo inconsciente na feminilidade

De quem mais tem.

“Perdi minhas ilusões, passei por isso

E depois que te passar o inicial viço,

As perderás também.

 

E nem as mães a si mesmas admitem,

Quando suas filhas em pleno olhar as fitem,

Certa malícia;

Como é veloz o fulgor da geração,

Como vem rápida a velhice e a solidão,

Em impudicícia.

 

Mas há também tanta solidariedade

Quanto a vida se mostra de impiedade

E a princesinha

Que descobriu não ser mais do que a criada

Dessas crianças trazidas à alvorada

Com a mãe se alinha

 

E embora sejam de duas gerações,

Elas se juntam nas mesmas emoções

Que as avizinham

Dos anos que só correm ao futuro

E que sabem quanta vez será obscuro

O quanto tinham.

 

CORIMBOS DE AGAPANTOS  VI

 

Vai prosseguindo assim essa corrente,

Com tanto sentimento diferente

E contraditório,

Muito mais forte pela linha materna,

Mais indefinida pela linha paterna

De modo inglório.

 

E é por isso que tantas vezes falha

Esse liame em seus anéis de palha

Já ressequida,

São tantos sentimentos a se opor,

Que algum elo se torna opositor,

Roda partida.

 

Quando a familia assume o ódio puro

Ou se o relacionamento é inseguro

E sem confiança

E o adulto que rejeita a sociedade,

Pode trazer tal vírus na verdade,

Desde a infância.

 

Mas quando o pai e a mãe sabem amar

Ou tia ou avó e dispõem-se a ensinar,

O pior passa.

São os elos novamente reforçados

E os nós mais fortemente reatados

No amor sem jaça.

 

CORIMBOS DE AGAPANTOS  VII – 22 jan 2021

 

Mas esse caso nem sempre é o mais comum,

Há muito pai que não tem amor nenhum

Que demonstrar

E se repete o mesmo círculo vicioso

Se não existe o vínculo amoroso

Da mãe a dar.

 

E é nesse ponto que ocorrem os fracassos,

Os beijos amorosos e os abraços

Da falsidade.

Da mãe interesseira que não preza,

Do filho revoltado que despreza,

Mútua maldade.

 

E quando chegam os males deste mundo

E não se vê substrato mais profundo,

Ai da mulher!

Porque é falso dizer que existe instinto,

O amor materno é mais como eu o pinto,

Só o bem se quer,

 

A tal criança que é feita de sua vida,

Que na sua carne chegou a ter guarida

E é vista então

Como um gêmeo de eterna propriedade,

Esse fatiamento a mentir a imortalidade

Do próprio coração!

 

CORIMBOS DE AGAPANTOS  VIII

 

Por isso dizem que o cordão umbilical

Não é cortado nunca até o final,

Fica amputado,

Mas se pudesse, a mãe queria ter

Essa criança que vê ora crescer

Sempre a seu lado.

 

Porém e se a criança for menino?

Se desfrutar, no sexo masculino

Outro pendor?

Se alguma outra quiser ir fecundar,

Sair depois, ir para trabalhar

Por outro amor?

 

Não há inveja da mãe pelo menino,

Há mais orgulho em tê-lo visto pequenino

E agora forte;

Nunca será um rival perante ela,

Mesmo que lance acenos da janela

Para outra sorte.

 

Talvez rival do pai o rapaz possa

E com oculto sonho ela retoça:

Será seu defensor.

Que ficará com ela toda a vida,

Que a sombra dele encontrará guarida,

Em seu palor.

 

CORIMBOS DE AGAPANTOS  IX

 

E nem tampouco precisa lhe mentir,

Dizendo que há um mundo a lhe sorrir

À sua espera;

Bem ao contrário, o cria para a luta,

Fora de casa, os ouvidinhos à escuta,

Há besta-fera!

 

Nunca terá de enfrentar a gestação,

Diante do parto terá só contemplação,

Mas sem sua dor.

Terá outra sorte o filho de seu seio,

Lança ao mundo sua semente com receio,

Em vasto amor.

 

Porém seu filho, agora homem robusto,

Mas que amamentou junto a seu busto,

Ninguém merece!...

Mulher alguma é boa o suficiente

E roga aos céus proteção contra essa gente

Fervente prece!

 

E se pudesse, lhe negaria esposa,

Ele que andasse por aí a colher rosa

Pelos canteiros!

Porque nenhuma merece o seu varão,

Que viu crescer desde o inicial botão,

Nos travesseiros!...

 

CORIMBOS DE AGAPANTOS  X – 23 jan 21

 

Mas que fazer, já que o mundo é perigoso?

Dos males, o menor, é mais ditoso

Vê-lo casado!

Do que vê-lo arriscar-se a assassinato,

Por um marido ou pai em desacato,

Por ter ousado!

 

Rara a mulher, porém, que ame sua nora,

Exceto a submissa que lhe fora

Melhor que filha!

Que a obedece no que deva fazer

Para seu filho melhor reconhecer

Na nova trilha!

 

E bem depressa descobre, com prazer,

Que uma nora pode odiar a bel-prazer

E é desculpada!

Enquanto odiar a filha é condenado,

Por ciúme verdadeiro ou inventado,

E é desprezada!

 

Assim o ódio pela nora é transformado

Em um amor que é meio demonstrado

Em condescendência.

Pois que ela sinta dores no seu parto

E caso o filho se sinta dela farto,

Tenha paciência!

 

CORIMBOS DE AGAPANTOS  XI

 

Quem mandou lançar os olhos a seu filho?

Quem mandou queira seguir o velho trilho

Da dança antiga?

Se a vê sofrendo, não terá obrigação

De com ela repartir seu coração

Ou dar-lhe abrigo!...

 

Mas que trate de mostrar-se bem fiel,

Mais pura que uma monja em seu burel,

Cumpra o dever!

Pois terá obrigações nos novos trilhos,

Ao tratar por sua vez dos próprio filhos,

Porque quis ter!...

 

Depois os netos... é claro que se ama!

com que direito a mãe deles reclama

e acha errado?

Ela não sabe como educar crianças,

Passa tratando do rosto e de suas tranças

Sem ter cuidado!...

 

Mas afinal, esses netos são mais doces,

A sua presença até faz com que remoces

Na meia-idade!...

Muito mais filhos que os filhos são os netos,

Que continuam, no coração diletos,

Não importa a idade!...

 

CORIMBOS DE AGAPANTOS  XII

 

E finalmente, lhe chega o fim da vida,

Para a menina já chegou a despedida,

Que a todas vêm.

Foi criança, adolescente, foi mulher,

Passou depressa por ilusão qualquer,

Que todas têm...

 

Foi filha e neta, amada e desamada,

Foi irmã e tia, querida ou invejada

Na juventude,

Pelos olhares mais secos que a rodeavam

Daquelas que sabiam se encontravam

Na senectude.

 

Cresceu, viveu, amou, talvez casou-se,

Teve seus filhos, sofreu, desapontou-se,

Que todas fazem.

Amou os filhos com intenso sentimento,

Amou as filhas com austero julgamento

E então se casam...

 

Tornou-se avó, agora é bisavó,

Até hoje não cortou da vida o nó,

Que ninguém o faz.

Somente sabe que em breve a morte alcança

E contempla atrás de si outra criança,

Que a vida traz...


A MODELO DA ILUSTRAÇÃO IDENTIFICADA COMO BECCA FOSTIERENKO.

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